O primeiro e o último trimestres do ano são “o” momento dos festivais sul-americanos internacionais. É quando o eixo de muitas turnês gringas se volta para a região, já que o período intermediário do ano é todo tomado pela alta temporada de festivais do Hemisfério Norte, principalmente o verão europeu.
Novembro é o mês para quando tudo convergiu, com alguns respingos em dezembro. Vale lembrar que no período ainda há um baita reforço adicional das inúmeras turnês solo que passam pela região nesse período, caso de Paul McCartney, Roger Waters e Red Hot Chili Peppers, expondo o estado de desequilíbrio do ao vivo no pós-pandemia — saímos do nada para o excesso de demanda. Mas vamos nos ater aos festivais, que são o foco do Festivalando.
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Um cenário peculiar para os festivais sul-americanos
Neste ano, em especial, tem alguns pontos interessantes para se observar nesse movimento de festivais sul-americanos internacionais.
O primeiro deles é uma falta razoável de sincronia nas escalações internacionais entre os países, bem diferente do padrão do primeiro trimestre seguido há anos por Lolla Brasil, Lolla Chile, Lolla Argentina e os primos Asuncionico e Estereo Picnic. Nem o Primavera Sound conseguiu essa unidade na região.
O segundo é a prevalência dos festivais com perfil indie, já que o cancelamento do Knotfest no Brasil e na Colômbia derrubou a possibilidade de turnês de grandes nomes da vertente pesada pela região — situação diferente do início deste ano, quando o retorno do Monsters of Rock no Brasil se desdobrou em versões do festival no Chile e na Argentina (na terra de Maradona, rebatizado de Masters of Rock).
A primavera original
O giro começa com destaque para o Fauna Primavera, festival chileno que comemora 10 anos em 2023 com o trunfo de ser o único da região que conseguiu unir Blur e Pulp em um mesmo cartaz. O Brasil ficou sem as duas bandas, enquanto outros países da região vão receber uma e/ou outra em festival ou show solo.
A nova primavera
O Primavera Sound, em seu segundo ano na região, vem com geografia reconfigurada. Permanecem as edições de São Paulo e Buenos Aires. Sai Santiago, que depois de problemas com a produtora local foi temporariamente suspenso, e entram Bogotá (com um festival de dois dias), Assunção (com um festival de um dia) e Lima (com shows solo ao longo de vários dias).
À exceção do The Cure, as demais atrações internacionais apresentam variações entre os cartazes, algumas delas notáveis, sendo a maior delas a presença do The Killers somente no Brasil, resultado da opção local por não trazer o Blur em função do custo do cachê da banda.
Falando em Brasil…
Com o Popload e o Primavera Sound nas mãos da mesma produtora, e com os dos dois festivais tendo perfis e datas semelhantes, alguém acabou ficando no banco de reservas e esse alguém foi o Popload. Assim, neste ano, ao lado do Primavera, restou ao Balaclava a tarefa de trazer um cartaz indie para o país no fim do ano.
Retorno no Peru
O Peru, além da rodada de shows levada ao país pelo Primavera Sound, vai presenciar também o retorno do Veltrac Music Festival (VMF). O evento foi criado em 2018, seguiu em 2019, realizou uma versão virtual em 2021 e volta agora presencialmente.
O VMF será encabeçado por Two Door Cinema Club e The Lumineers, nomes que até o momento não deram as caras nos cartazes de outros festivais sul-americanos.
Quem ainda está por retornar é o Vivo X El Rock. O festival nascido em 2013 ocorreu pela última vez em 2019. Chegou a ser anunciado em 2022, mas foi oficialmente cancelado. A organização confirmou a edição 2023 para o dia 25 de novembro, mas desde maio nunca mais se pronunciou, seja para prosseguir com a divulgação ou informar sobre mais um cancelamento.
Aniversário na Colômbia
Junto com o Fauna Primavera no Chile, o colombiano Breakfast Club também celebra seus dez anos de criação. Reforçando a heterogeneidade dos cartazes dos festivais sul-americanos deste fim de ano, o evento leva para Bogotá artistas que por enquanto não foram anunciados em outras praças da região: Hot Chip, FKJ, Miami Horror e Giorgia Angiuli.
Ausências
Em medidas diferentes, a instabilidade da região, os abalos profundos da pandemia nos festivais e a chegada do Primavera Sound na região, que mudou as peças no tabuleiro com seu projeto de expansão, deixaram de fora desta lista outros festivais sul-americanos que eventualmente já aconteceram neste mesmo período, ainda que ao longo dos anos sua ausência tenha sido mais recorrente que sua presença.
Fora o já mencionado peruano Vivo X El Rock, é o caso também do Kilkfest, festival paraguaio com edições de 2014 a 2018 e um retorno em 2022; do argentino Music Wins, com somente três edições em nove anos (2014, 2016 e 2022); e do chileno RockOut, que voltou como festival de ocasião em 2022 para aproveitar a passagem do Killers pela região depois de uma trajetória marcada por hiatos (2009-2012, 2014 e 2016).
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Crédito da imagem principal: Ryan/Unsplash
