Em meio a algumas dezenas de festivais brasileiros com proposta bastante parecida, dedicada a destacar a diversa cena nacional contemporânea, um novo festival vai aberta e conceitualmente na contramão: o Replay Festival. Como o nome sugere, o foco é oferecer um line up nostálgico, trazendo de volta para o presente nomes de sucesso do passado.
E o replay acontece também na própria realização do evento: ele estreia no dia 28 de outubro no Rio de Janeiro para depois repetir tudo outra vez no dia 4 de novembro em São Paulo. Mas se por um lado ele destoa da maioria dos festivais brasileiros, por outro ele faz coro com um sintoma mais antigo e que já se espalhou por festivais internacionais.
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Replay Festival e a retromania
Há mais de uma década que o crítico musical britânico Simon Reynolds diagnosticou uma “síndrome” enfrentada pela cultura pop: a retromania, a obsessão com o seu próprio passado. O fenômeno está registrado em livro homônimo de 2011.
Enquanto ele publicava o livro na Inglaterra, no Brasil víamos o auge do revival dos anos 1980, o sucesso do Canal Viva, o retorno do cropped e o início de uma onda retrô que não iria embora nunca mais: ela só foi trocando de década.
Foi assim que vieram na sequência a nostalgia dos anos 1990 (revivida relativamente rápido) e a mais recente nostalgia da primeira década dos anos 2000, muito reforçada no momento pela redescoberta da estética indie sleaze e pelo retorno de tendências de moda como a cintura baixa. O Replay Festival entra com o emo, o pop e o funk que marcaram o período.
Os festivais retrô
Ao longo desse período, desde quando Reynolds declarou que a cultura pop sofria de retromania, a bolha de festivais que se formava paralelamente também viria a desenvolver alguns traços da síndrome.
O caso mais notável é o britânico Rewind Festival, que com esse nome poderia muito bem se passar pelo irmão mais velho do Replay Festival. Na ativa desde 2009, ele se dedica exclusivamente a artistas dos anos 1980.
A fórmula funcionou tão bem que ele tem três edições anuais no Reino Unido, sendo duas na Inglaterra e uma na Escócia, além de uma edição em Dubai. A Austrália também chegou a receber o Rewind.
Mais contemporâneo do Replay é o When We Were Young, dos Estados Unidos. O line up 100% emo lançado em 2022 causou comoção e esgotou os ingressos rapidamente, o que fez o festival ganhar duas novas datas que foram um exato replay do mesmo line up. Ele retorna em 2023, seguindo a mesma fórmula de repetir o mesmo line up em mais de um dia para atender a demanda do revival.
Vale lembrar que o When We Were Young nasceu na verdade em 2017, exatamente com a mesma proposta de revival emo, mas não repercutiu tanto à época e só foi retornar cinco anos depois, no pós-pandemia. Há um momento certo para a retromania de cada década se manifestar, e o momento dos anos 2000 chegou agora. O Replay Festival e a recém-anunciada volta do Restart estão aí para provar.
Créditos da imagem principal: Alex Bracken/Unsplash
