Dia desses alguém perguntou pra gente nos comentários de um Vídeo Selfie lá no YouTube se era possível viajar para um festival no exterior sem saber inglês. Confesso que de imediato eu fiquei sem saber como responder, pois nunca me vi nessa situação. A primeira vez que viajei para o exterior, mais precisamente para a Inglaterra, eu já tinha um bom nível de inglês e estava segura disso. Eu também falo outros dois idiomas e estou no momento estudando o quarto, então realmente idioma não é um entrave pra mim.

Mas como aqui no Festivalando a gente não pode deixar vocês sem respostas, e como na vida a gente não pode dar as costas para os problemas alheios só porque eles não nos atingem diretamente, eu respondi a pessoa no YouTube brevemente e depois segui pensando mais a fundo sobre o assunto, tentando até incluir experiências pessoais quando possível. Tudo isso pra no fim achar meios de encorajar quem tem medo de viajar por causa do idioma.

Se você acompanha muito a gente, já sabe: nosso lema é “quer viajar? então samba na cara dos seus medos (seja quais eles forem) e se joga”. Já falamos aqui sobre como lidar com o medo do terrorismo e o medo de viajar sozinh@. Agora chegou a hora de lidar com o medo do inglês (fichinha perto dos outros dois, não acha?). Portanto, tente se convencer:

4 razões pra você perder o medo de viajar para um festival no exterior sem saber inglês

1. Você não é tão inapto no inglês quanto pensa

Você pode não ser fluente, suas aulas do colégio podem não ter sido as melhores e idiomas podem não se enquadrar nas suas habilidades intelectuais. Mas o fato é que se você cogita ir a um festival na gringa é porque você curte o som de bandas que cantam em inglês e, portanto, é capaz de pronunciar nomes de artistas, discos, músicas e até cantar versos no idioma original.

Pode parecer pouco, mas pra mim, pelo menos, a música foi a primeira grande porta de entrada para que eu realmente me familiarizasse com o inglês e aprendesse a língua. Foi uma ótima base pra que eu me aprofundasse na língua mais tarde, quando pude pagar aulas particulares. Também foi uma mão na roda pra treinar pronúncia e entender diferenças de sotaque americano e inglês.

Leve isso em conta e ao invés de focar naquilo que você não tem (fluência), foque naquilo que você já tem (conhecimentos ainda que mínimos).

viajar para um festival no exterior sem saber inglês

2. Ir para o exterior é uma das melhores oportunidades para aprender ou melhorar o que você já sabe

Se jogar num país estrangeiro pode ser uma boa prova de fogo para exercitar o que você já sabe de um idioma, mesmo que seja pouco, e também uma boa oportunidade de aprender. Isso vale mesmo se você não está indo formalmente para fazer um curso de línguas na gringa.

Usar a língua em seu contexto natural, fora da sala de aula, apesar de desafiador e um pouco atemorizante, é uma das melhores formas de se aprender. E é impressionante o quanto você pode aprender e melhorar em pouco tempo nessa situação.

viajar para um festival no exterior sem saber inglês

Quando eu fui para a Alemanha pela primeira vez, para conhecer Berlim e para o Resist to Exist, eu estudava alemão há poucos meses. Eu estudo sozinha, então o meu ritmo de aprendizado é mais lento que o normal, e àquela altura, partindo do zero, era mais lento ainda. Obviamente, eu falei em inglês o tempo todo quando precisei me comunicar com alguém. Mas quando eram eles que vinham falar comigo, naturalmente partiam do princípio que eu era de lá e se dirigiam a mim em alemão.

Eu já soltava de cara um “I don’t speak German” porque naquela época até um “Ich spreche kein Deutsch” era difícil de sair da minha boca. Mas eu quase soltei fogos de artifício no fim da viagem depois que eu entendi palavra por palavra quando o caixa do supermercado me perguntou “Haben Sie zwanzig cent?” (você tem 20 centavos?) e eu, toda orgulhosa, disse simplesmente “Ja, warten Sie” e abri meu porta-moedas verde fluorescente para tirar duas moedas de dez centavos para facilitar o troco.

Milagre? Não. Como eu tinha passado 15 dias em Berlim, ao fim da estada os sons da língua alemã já estavam um pouco mais naturais pra mim, mesmo com o meu baixíssimo conhecimento naquele momento.

3. A tecnologia e o conhecimento estão a seu favor

As livrarias estão cheias de guias de idioma com frases básicas para serem usadas em viagens. Não vão te fazer aprender a língua pra valer, mas podem quebrar um galho e assim o fazem desde sempre.

Com a tecnologia móvel a coisa só melhorou e há uma ótima oferta de aplicativos que traduzem texto (inclusive texto presente em imagens) e voz. O Google Translate é apenas o mais famoso deles. A lista de apps desse tipo é super farta e com recursos diversos. Baixe e teste alguns deles antes de viajar e veja com qual você se adapta melhor.

4. O inglês não é útil 100% do tempo

Pode-se dizer que o inglês é hoje a língua do mundo, e sabê-lo te permite visitar com desenvoltura a maioria dos lugares. Mas há momentos em que isso não faz diferença alguma simplesmente porque a disseminação do inglês não é absoluta, apesar de dominante.

viajar para um festival no exterior sem saber inglês

Quando eu fui para a Polônia para ver um show do Paul McCartney eu havia lido que a população jovem se comunicava muito bem em inglês em função de mudanças no sistema de educação na era pós-comunismo, mas o mesmo não se verificava com a população mais velha. Isso de fato se comprovou: quando eu precisei pegar um táxi para ir até o estádio onde aconteceria o show, me deparei com um motorista mais “senhor” que não entendia nada do que eu dizia em inglês (bônus point: eu estava sozinha).

Como apelar para o polonês era algo simplesmente surreal, eu mostrei pra ele o voucher do meu ingresso, com as informações todas em polonês, e ele logo entendeu pra onde eu queria ir. Saber ou não inglês nessa situação, e provavelmente em tantas outras possíveis e similares, não significou absolutamente nada. Não saber polonês nem poder me comunicar em inglês não me impediu de chegar até o local e aproveitar o show.

Pense no oposto: os gringos vêm para o Brasil sem saber português e se deparam com uma população que em sua maioria se comunica muito pouco ou quase nada em inglês. Isso não impede que muitos deles escolham o Brasil e façam do nosso país um destino turístico.

Uma última tentativa

Se nada disso te convence, e ainda bater a insegurança, tente então começar sua viagem por países onde se fala espanhol, uma língua próxima da nossa e, portanto, menos amedrontadora para quem não se sente muito confortável com idiomas. Aproveita e dá uma olhada nessas listas de festivais na Espanha, no Chile, na Colômbia e na América do Sul, inclusive festivais gratuitos. Essa pode ser uma forma mais amigável de “quebrar o gelo” do exterior, começar a se habituar com a sensação de estar num país estrangeiro e administrar os receios que estão envolvidos em se estar longe do seu porto seguro.

Se você já se aventurou em algum festival no exterior sem saber inglês, conte pra gente como foi sua experiência 😉

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2 Comments

  • Renan
    Posted 14 de setembro de 2016

    Tem horas que eu me sinto um merda por não saber inglês. Já frequentei cursos anteriormente, mas depois tive que parar por ter escolhido outras opções na vida, pelo menos consigo falar algumas coisas, mesmo que seja o mínimo do mínimo. Mas vejo que tem muita gente no mesmo barco e com disposição de aprender, nem que seja na base da marra. Hoje tá tudo mais simplificado para aprender, e hoje só não aprende quem não quiser. Nos dias de hoje acho que não vale mais a pena investir em cursos de idiomas, já que os cursos ensinam de maneira contrária e só sugam seu dinheiro. Entrei num site de como aprender a falar um idioma e ele disse que o método mais fácil de se aprender uma língua, seja ela inglês, espanhol, alemão ou francês, é por meio de escutar músicas com suas letras e cantando em voz alta e assistindo a séries de tv e a filmes da língua em que queres aprender, principalmente porque é um dos métodos mais legais e menos difícil de se entrosar com o idioma. Eu to meio que com preguiça de encarar o medo, mas vejo que esse é o método mais viável possível. Sem falar que é necessário bastante vontade e planejamento para por em prática. E outra coisa que deve-se indicar, é evitar estudar a gramática sozinho sem nem ter conhecimento do idioma, pois fica cansativo e desanimador para aprender, já que o método de falar é bem diferente daquilo que os livros ensinam. Mas já vou começar a encarar o medo e colocar todo esse planejamento em prática.

    • Priscila Brito
      Posted 15 de setembro de 2016

      Ei, Renan! Eu acho que uma das razões pra muita gente ter dificuldade com o idioma é justamente o método utilizado pela maioria dos cursos, que é muito tedioso, professoral e descolado da realidade. Eu consegui, sim, aprender idiomas em cursos, mas acredito que só foi por causa do método, mais focado em comunicação e em situações reais do que tudo mais. Um dos melhores professores de inglês que eu tive passava um episódio de Friends sem legendas todas as aulas pra gente assistir. Depois, tínhamos que fazer um resumo do episódio e discutir sobre. Imagina como isso não muda o clima da aula? Gramática é importante e necessária, e em todos os idiomas que eu estudei (e estudo) eu notei que quanto mais elementos gramaticais eu aprendia, melhor eu conseguia me expressar, porque é uma combinação de vocabulário e elementos gramaticais que vai te dar a fluência. Mas realmente tem que ser bem dosado pra não ser um fator de desestímulo.

      Aprender sozinho sempre foi possível, e hoje mais ainda com a infinidade de recursos gratuitos que se tem na internet. Além dos sites e blogs voltados pra quem estuda o idioma, você tem acesso aos sites e vídeos “reais” produzidos naquele idioma. O grande desafio é a disciplina. Quando eu comecei com o alemão eu passei os primeiros meses sem regrar muito, estudando quando dava e acabei evoluindo quase nada. Até que eu dei um basta e resolvi criar uma rotina séria, e já faz um ano e meio que tenho dia e hora pra estudar, como se fosse um curso mesmo, em que você tem os dias certos pra ir. Comprei livro, dicionário, gramática e uso alguns sites como apoio. Anoto na agenda toda semana e nesses horários eu já estou “compromissada” e não me permito fazer ou marcar outra atividade. Além disso, curti vários sites e blogs alemães que tratam de temas que eu gosto, pra ver minha timeline inundada de alemão o dia inteiro. Tem dias à noite que assisto Deutsche Welle (tipo a BBC alemã) ao invés de ver uma série ou filme.

      Percebo a evolução, e nem acredito no que já consegui aprender até aqui. Só sinto falta mesmo de colegas pra treinar a fala. Eu fico conversando em alemão comigo mesma sozinha no quarto e chega a ser engraçado. Não tem a espontaneidade de uma interação entre pessoas, mas é o que dá pra fazer por enquanto. Eu tenho um amigo austríaco, e de vez em quando a gente conversa em alemão pra eu treinar, mas é pelo Whatsapp na maioria das vezes e acho que isso conta um pouquinho menos, já que eu tenho um tempinho pra pensar no que vou escrever.

      Mas, enfim, o negócio é conseguir criar uma rotina de estudos dentro da sua rotina geral, mesmo que seja um tempo reduzido. Melhor caminhar devagar do que não sair do lugar de jeito nenhum. Pega firme que vai!

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