Primavera Sound no Festivalômetro: na avaliação do público, o que já era ótimo conseguiu melhorar

É praticamente um milagre de Natal fechar o ano — mais uma vez — com um festival tão bem avaliado no Festivalômetro.

Diferentemente de outros festivais de destaque nacional, como o Lolla e o MITA, que patinaram nas notas, ou como o The Town, que já nasceu levando um tombo feio, o Primavera Sound repetiu o ótimo desempenho de sua estreia em 2022 e recebeu novamente notas altas do público em 2023.

Fazendo o dever de casa

Mas, sejamos justos, a frase engraçadinha para abrir o texto não pode impedir que se diga com todas as letras o que aconteceu de fato: nesses dois anos, os responsáveis fizeram o que deveriam fazer para que o festival ficasse à altura do que o público merece e espera.

O resultado foi uma nota média de 4.5/5 em 2023, 0.1 superior à média de 2022, o suficiente para que o Primavera Sound permanecesse na categoria ótimo.

A variação da nota média em cada um dos critérios ajuda a entender melhor essa composição final.

Line up jogou a média para cima

O line up do Primavera Sound demorou a sair; teve novela envolvendo o Blur, que acabou não vindo por uma decisão da T4F de não pagar o cachê estipulado pela banda, considerado muito alto para o tamanho do público da banda no país; e ainda veio reduzido em relação à edição 2022.

Mesmo assim, no papel, se manteve alinhado à essência do que o Primavera Sound sempre foi em sua trajetória de 20 anos construída em Barcelona e mais tarde no Porto. E na hora de ganhar vida no palco, se materializou em shows marcantes, cada um à sua maneira.

Seja com a intensidade do Hives, o pop irresistível de Marina Sena, o mito cult em torno de CSS e Carly Rae Jepsen, a eficiência do Bad Religion, o rock de arena do Killers ou a contemplatividade do The Cure. O resultado foi uma média 4.5, superior a 2022 (4.2), somente com notas bom (4 estrelas) e ótimo (5 estrelas), fazendo o Primavera brilhar no quesito que é a razão de ser de qualquer festival: a música.

Estrutura também deu salto na média

Outro ganho notável na média do Primavera Sound na comparação de 2022 para 2023 foi na avaliação da estrutura: de 4.1 para 4.4. A estreia no Anhembi em 2022 foi muito bem elogiada no quesito estrutura, mas também teve pontos que marcaram negativamente, como a visibilidade do palco principal obstruída por árvores e a falta de transporte público para voltar pra casa no meio da madrugada.

Com a mudança para o Autódromo, nenhum dos palcos teve comprometimentos na visibilidade, e as linhas da Via Mobilidade tiveram seu funcionamento ampliado até as 2h, três horas após o fim dos shows. Assim, os problemas mais evidentes do ano passado foram eliminados.

Some-se a isso o fato de o Primavera Sound 2023 ter conseguido apresentar uma experiência diferente e melhorada de festivais em Interlagos, o que possivelmente interferiu na boa impressão deixada pela estrutura.

Enquanto o Lollapalooza consolidou um modo específico de viver festivais no local, sem mudanças significativas em quase dez anos, e o The Town fez reformas para mudar e melhorar a experiência, mas comprometeu o aproveitamento dessas melhorias com a superlotação provocada pelo mau uso do espaço e posicionamento ruim dos palcos principais, o Primavera permitiu que as mudanças no local viessem à tona de uma forma positiva.

A área reformada foi bem utilizada para comportar o público esperado, e enfim foi possível circular e experimentar um autódromo mais convidativo e menos extenuante durante um festival.

Mesmo assim, há pontos que podem ser melhorados. Houve reclamações com a acessibilidade, principalmente a locomoção na hora de ir embora do Autódromo. Faltaram também mais áreas de sombra. E a interferência de som entre os palcos Corona e São Paulo incomodou em vários momentos — público e artistas.

Ambiente demonstra consistência

A nota no quesito ambiente, que considera o conforto em geral, segurança e outros fatores, se manteve tão alta em 2023 quanto em 2022: 4.5.

É um indicador, principalmente junto com o line up, de que o Primavera conseguiu continuar sendo o Primavera que conhecemos um ano antes: um festival agradável, em que a música e o bem-estar do público se destacam na experiência, inclusive com marcas contribuindo com esse bem-estar (leia-se distribuição gratuita de filtro solar, chapéus e copos), em vez de terem uma presença intrusiva e ruidosa.

Esse desempenho é mais notável ainda se considerado que, de um ano para outro, o festival aconteceu em locais diferentes (Anhembi e Interlagos), nas mãos de empresas diferentes (Live Nation e T4F).

Não há segredo naquilo em que consiste um bom festival para as pessoas, nem há lugar ou empresa que torne impossível a aplicação dessa fórmula com os devidos recursos e expertise disponíveis.

Alimentação teve queda na média

A nota dada à alimentação, que inclui também a hidratação, caiu de 4.6 para 4.4 Esta costuma ser uma categoria enigmática, no sentido de que suas oscilações nem sempre apontam para fatores tão óbvios quanto as demais.

No caso do Primavera Sound 2023, essa diminuição da nota acontece em uma edição que apresentou os preços costumeiramente caros de alimentos e bebidas praticados por festivais. Mas que ao mesmo tempo ofereceu opções de hidratação acima do padrão, com uma T4F pressionada por dois fatores: 1) a má repercussão do primeiro show de Taylor Swift no Rio de Janeiro, quando houve a morte da estudante Ana Clara Benevides e o atendimento médico a cerca de 1.000 fãs; e 2) por uma portaria do governo decorrente do episódio no Rio obrigando a distribuição gratuita de água em shows e festivais.

Seria necessária uma investigação mais detalhada para entender o que exatamente levou à diminuição da nota. Mas uma hipótese pode ser a estrutura da praça de alimentação de cada uma das edições.

Enquanto no Anhembi o festival tirou partido do Pavilhão para montar a praça em uma área bastante ampla e coberta, a praça montada em Interlagos, ainda que também coberta, foi mais limitada em espaço na comparação com o ano anterior, diminuindo um pouco o conforto.

Custo-benefício aumentou ligeiramente

Com todas as categorias acima com nota acima de 4 — a faixa da avaliação “ótimo”, seria natural que a nota do custo-benefício refletisse esses resultados. A média subiu 0.1 em relação a 2022, com média final de 4.3.

A matemática aqui é simples: se o festival executa bem sua proposta musical dentro de uma estrutura que respeita as pessoas, é mais fácil sair com a sensação de que o dinheiro empregado no ingresso (e em muitos casos também em uma viagem intermunicipal ou interestadual) foi um investimento e não um gasto.

Leia as avaliações do Primavera Sound no Festivalômetro

Todas as avaliações e notas deixadas pela comunidade do Festivalando no Festivalômetro, tanto em 2022 quanto em 2023, você lê aqui.

Crédito da imagem principal: Primavera Sound/Divulgação