Era abril de 2012. O dólar estava na casa de R$ 1,90 e a gente brincava que o mundo ia acabar em dezembro, por causa de (má?) interpretações sobre inscrições deixadas pelos maias. No dia 3 de abril o Instagram ficou disponível para o Android e, nos dias 7 e 8, o Lolla estreou em São Paulo. De volta para 2022, o dólar vale quase R$ 6, há boatos de que o mundo acabou em março de 2020, o TikTok está engolindo o Instagram e chegamos a 10 anos de Lollapalooza Brasil.

Cheia de saudade do nosso Lollinha, sem saber o que a história reserva para abril de 2022, voltei no tempo pra ficar com ainda mais saudade daquilo que eu vivi. Resgatei um monte da memória. Com toda a seletividade — como a memória de qualquer pessoa — mas com ajuda do que registrei aqui no Festivalando e do Google, me lembrei do seguinte:

1. A estreia no Jockey Club (2012)

Começando do começo: os palcos principais eram o Cidade Jardim e o Butantã. Tinha também o Alternativo, o Perry e o Kidzapalooza. A inteira custava R$ 300 para um dia e R$ 500 para os dois dias. Sim, eram dois dias e o ingresso era um cartão fofinho (esse meu da foto é de 2013).

Os headliners foram Foo Fighters e Arctic Monkeys, que incluíram no show uma música nova que tinha sido lançada há mais ou menos um mês: R U Mine?

2. O nascimento de um ícone: minichurros (2013)

Em 2013 o Lolla cresceu para três dias, mas o grande momento da edição daquele ano foi o nascimento de um ícone do festival: os minichurros.

É claro que não foi o Lolla que inventou essa delicinha, mas os minichurros simplesmente ganharam um outro status na vida de quem frequenta o Lolla, além de terem se tornado um item tão obrigatório no cardápio do festival quanto o chopp. E foi naquele ano que essa história começou (a minha memória pode estar me trapaceando, mas o Twitter me aponta para 2013 mesmo).

3. A mudança para interlagos (2014)

Este foi o ano em que o Lolla começou a testar nossa habilidade física. Ele cresceu, ficou mais desgastante e mais cheio de coisa para fazer, afinal, ganhou (muito) mais espaço com a mudança para Interlagos.

As viúvas do Jockey sempre vão existir e estão no seu direito, mas vamos combinar que esse era simplesmente o caminho que o Lolla precisava tomar para entregar tudo que ele entregaria pra gente nos anos seguintes. E ainda bem que ele cresceu, mesmo que com problemas que foram mais ou menos ajustados com o passar dos anos (qualidade do som dos palcos, pistas de mobilidade entre os palcos, etc).

4. Marina devastated antes da Gaga (2015)

Gaga ficou devastated porque precisou cancelar sua vinda ao Rock in Rio 2017, mas Marina ficou devastated muito antes, em 2015, quando cancelou o show que faria no Lolla 2015. Ela se apresentaria no sábado, dia 28 de março.

Porém, um atraso de 12 horas e um subsequente cancelamento do voo que a traria dos Estados Unidos para o Brasil inviabilizou o show. Ela deu a notícia na manhã de sábado, usando o mesmo verbo que Gaga usaria dois anos depois. Em 2016, Marina finalmente veio ao Lolla.

5. A volta dos três dias (2018)

Em 2018, o Lolla voltou ao formato de três dias que até então só havia sido implantado em 2013. Como eu disse antes, crescer (não só em espaço) era o caminho natural e os anos anteriores já apontavam para isso.

O Lolla 2016 já tinha deixado a sensação de que era festival demais para tempo de menos e o Lolla 2017 bateu o recorde de público em um único dia de festival, com 100 mil pessoas na noite do Metallica.

6. O Lolla da vacina (2018)

Sim, 2018. Naquele ano, o Brasil vivia um surto de febre amarela que à época era o mais mortal desde 1980. A vacina contra a doença era altamente recomendada para moradores de áreas consideradas de risco ou para pessoas que se deslocavam para essas áreas, e o autódromo de Interlagos fica em um dos distritos de São Paulo que tinha recomendação para imunização naquele momento. Por essa razão, a prefeitura de São Paulo aconselhava a vacinação contra febre amarela para quem ia ao festival.

Não foi exatamente um graaande alarme na época (até onde minha memória vai), mas relembrar esse episódio enquanto a gente ainda carrega uma pandemia nas costas dá outro sentido pra coisa.

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7. O fim dos clashes (2018)

Ok, não foi a extinção completa dos clashes, afinal são quatro palcos no festival e eventualmente escolher ver um show significa descartar outro. Mas o principal motivo deles foi eliminado.

Os palcos Ônix e o Axe (que antes era Interlagos em 2019 viraria Adidas) sempre abrigaram artistas que atraem públicos semelhantes, mas a distância de quase 20 minutos de caminhada entre eles e a coincidência dos horários dos shows nos dois palcos trazia muitos dramas: qual show assistir e qual show sacrificar? Morrer de tanto caminhar de um palco para o outro ou guardar energia para durar até o fim do Lolla?

Pois em 2018 os dois palcos passaram a ocupar o mesmo espaço, acabando com esses dilemas. Fãs de música eletrônica também ganharam muito com a mudança, pois ela foi motivada principalmente para que o palco Perry pudesse ocupar mais espaço (antes ocupado pelo Axe), para refletir o crescimento do gênero dentro do Lolla. Até 2017, o Perry era uma tenda, lembra?

8. A água de graça veio (2019)

Veio, Brasil! Com muito atraso, mas veio. O Lolla Chile já tinha. O Lolla Argentina já tinha. O Rock in Rio já tinha. Até que o Lolla parou de passar vergonha e passou a ter água de graça também. Com direito a squeezes colecionáveis para beber a água, porque sair de um festival carregando mimos é de bom tom.

9. Os humilhados foram evacuados (2019)

Um alerta de raios e chuva forte na região de Interlagos no sábado, dia 6 de abril, fez a organização parar o festival, cancelar shows (Silva e Chemical Surf), evacuar o autódromo e fechar os portões.

Para parte do público que já tinha ido no festival na sexta e voltado de metrô, a evacuação foi um “upgrade” (?) da “experiência” (?) de sexta, quando uma falha no sistema elétrico da linha 9 – Esmeralda, deixou quem voltava do festival preso dentro do trem por cerca de meia hora (eu fui, eu tava). Mas no domingo deu bom. Um último festival com a vibe Deus me livre, mas quem me dera.

10. Os anos pandêmicos (2020 – 2022)

Não sei se você se lembra de todos os adiamentos do Lolla acumulados até aqui, mas o fluxo foi esse: adiado de março de 2020 para dezembro de 2020 -> adiado de dezembro de 2020 para setembro de 2021 (lembra quando a gente achava que o mês seria uma loucura com Lolla AND Rock in Rio acontecendo juntos? hahaha A inocência!) -> adiado de setembro de 2021 para abril de 2022.

E cá estamos nós, com um lineup de perdas e ganhos, com vacina, com ômicron, com saudade, com tudo. Mas sem 100% de certeza de como essa história de 10 anos de Lollapalooza Brasil vai continuar esse ano. Seja qual for o próximo capítulo, é seguro que a gente vai continuar aqui pra escrever essa história. Eu, o Festivalando e vocês.

2 Comments

  • Renan Esteves
    Posted 8 de fevereiro de 2022

    2014 foi a estreia da T4F no lugar da Geo Eventos. Hoje a produtora tá no sufoco e todo mundo querendo a cabeça deles a prêmio.

    • Priscila Brito
      Posted 14 de fevereiro de 2022

      Verdade, teve essa mudança da produtora junto com a mudança para o autódromo…

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