Era uma vez no East Village, Nova York. Lá pelos idos de 1960, 1970, bem antes dos hipsters deslocarem o eixo da efervescência cultural para o Brooklyn, era no baixo Manhattan, exatamente no East Village, que artistas de diferentes segmentos se concentravam, atraídos pelo baixo custo de vida e a mítica dos beatniks, que décadas antes se instalaram ali.

Hoje, o que restou disso tudo é história. O que se vê nas ruas do bairro não corresponde totalmente aos relatos da época – para o bem ou para o mal. Quer dizer, nem tudo é história. Reduto que era de artistas, alguns deles – mais precisamente astros do rock, eternizaram o passado do East Village em suas obras. Mais precisamente, eles usaram prédios, esquinas, muros e ruas do bairro como cenário para suas capas de disco. A propósito, alguns deles clássicos incontestáveis.

Num esforço de imaginação, eu passei uma tarde inteira no East Village “visitando” essas capas de disco e tentando me transportar para aquele tempo. Além do efeito máquina do tempo, foi ótimo sair da Manhattan típica, onde se esbarra em turistas e lojas da Sephora a cada esquina, pra conhecer a Manhattan “gente como a gente”, onde as pessoas buscam os filhos na creche e levam o cachorro pra passear.

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Aperte o play antes de ler

O passeio só não foi melhor porque naquela tarde eu ainda não tinha preparado essa playlist com os artistas que fizeram do East Village um reduto musical. Você terá esse privilégio do passeio guiado. Portanto, aperte o play, ouça a playlist e siga o Festivalando no Spotify 😉

Reforce a memória antes de ler

Uma proposta: tente refrescar a memória e ligar a capa de cada disco à foto do lugar atual. Claro, isso só vale se você não conhece os discos que serão citados. Se já conhece, fica fácil. No final do texto, tem um mapa com os lugares e suas respectivas capas de disco.

“Here today”, gone tomorrow – Ramones, Rocket to Russia e o Bowery

A caminhada começa pelo Bowery, avenidona comercial com comércios e serviços dos mais diversos, bem diferente do espaço que um dia se caracterizou por abrigar bares e centros de reabilitação. O talvez endereço mais famoso da região coloca num mesmo espaço-tempo esse passado e presente. No número 315, ainda funciona o que um dia foi o CBGB, considerado para alguns o berço do punk (britânicos discordarão).

O clube punk foi fechado em 2006 e pouco tempo depois foi comprado pelo estilista John Varvatos, que instalou sua loja no local. Por mais irônico que seja a transformação de um templo do punk em uma loja de moda de alto padrão, a obsessão que Varvatos tem pelo rock evitou que esse desfecho fosse 100% bizarro.

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Boa parte da estrutura e “decoração” original do CBGB foram mantidas, inclusive as paredes cobertas por cartazes, flyers e ingressos. Em certa medida, é como se o lugar tivesse sido convertido em um museu. Tanto que os vendedores já estão acostumados com gente como eu, que entra na loja só para tirar fotos.

Todo o restante da loja é cuidadosamente pensado para que também remeta à cultura rock: logo na entrada, um balcão com vários lançamentos em vinil. Do outro lado, uma parede com belas fotografias de astros como Ozzy Osbourne. Instrumentos musicais e biografias de rock stars ocupam um outro canto.

O beco mais famoso do punk: Extra Place com East 1st Street

A um minuto da loja, praticamente nos fundos, dando a volta no quarteirão, fica o beco onde foi registrada a primeira capa de disco deste roteiro. A parede é bem mais arrumadinha do que costumava ser na época da foto original, mas ainda dá para ver os tijolinhos onde os Ramones encostaram lado a lado para a imagem de “Rocket to Russia” (1977).

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Suponho que a loja de decoração arrumadinha que hoje funciona ali nem de longe lembra a quebrada que deveria ser quarenta anos atrás. quando o disco foi lançado.

“Trash” – New York Dolls, o disco homônimo e o Gem Spa

Seguindo em direção ao norte, o roteiro vai pela segunda avenida. Se você quer comer, vai achar aqui restaurantes de todos os tipos. Italiano, indiano, tailandês. Nada que não se encontre em qualquer outro lugar de Manhattan, mas os preços são menos escandalosos que em outros pontos da região.

No dia que passei lá, a avenida tinha um cheiro de incenso. Apesar de evocar um clima zen, a verdade é que a segunda avenida é bastante agitada, mas sem aquela atribulação turística. Tem aqueles prédios inescapáveis de Nova York, com as escadas para saída de incêndio na fachada e sacadas com detalhes em art déco. No geral, a aparência de tudo é bem naquele estilo baixo centro, wasted e nada fofinho.

Foco na contracapa: 131 Second Avenue com St. Marks Place

Uns sete quarteirões depois, na esquina da segunda avenida com a St. Marks Place fica um certo Gem Spa. Um mini camelódromo. Uma birosca do tipo tem tudo, inclusive um vidente eletrônico que lê sua sorte ao custo de dois dólares. O dono garante que é só uma banca de revistas.

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O que não se discute é que foi nesse lugar quase indescritível que o New York Dolls posou para a contracapa de seu primeiro disco, o homônimo lançado em 1973. Acho que é um caso raro no qual a contracapa ficou mais famosa que a capa. O dono sabe bem e, como você pode ver, conseguiu manter o ponto nas últimas quadro décadas.

“Houses of the Holy” – Led Zeppelin, Physical Graffiti e os prédios gêmeos

Virando a esquina, o roteiro entra definitivamente na St. Marks Pl., uma ruazinha pequena com uma amostra da vida normal. Nada de Starbucks por aqui, mas há uma casa que vende café torrado e moído na hora. Perto dali, uma loja que só vende meias. No outro quarteirão, mães, pais e avós buscam as crianças na creche. Do outro lado da rua, dois prédios idênticos. Nada demais. Nada demais?

Dois prédios não são apenas dois prédios: 96 and 98 St. Marks Place

Os dois prédios gêmeos que ficam nos números 96 e 98 da St Marks Place são os mesmos dois que se vê na capa de “Physical Graffiti”, disco do Led Zeppelin de 1975. Aparentemente são residenciais, com moradores sentado na porta vendo a vida passar. A menção ao disco fica por conta de uma casa de chá instalada no subsolo de um deles, a Physical Graffitea. Sacou?

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“What Comes Around” – Beastie Boys, Paul’s Boutique e memória

Fazendo o caminho de volta, deixando pra trás St. Marks Place, a segunda avenida e o Bowery, o roteiro chega até um East Village um pouquinho diferente, com restaurantes mais cool e moderninhos. No meio disso tudo, tem até um restaurante brasileiro que tenta atrair a clientela tocando samba.

Um memorial moderno: 99 Rivington St

Na esquina da Rivington com a Ludlow, um desses restaurantes – com cardápio de comida saudável e gente jovem nos balcões, ocupa o lugar que um dia foi de uma certa Paul’s Boutique. Ninguém além dos moradores saberia da sua existência não fosse o disco de 1989 dos Beastie Boys, que estampou a loja e ainda levou o nome da mesma.

Se a butique do Paul não está lá mais para lembrar que um dia aquela esquina se cruzou com a história dos Beastie Boys, um grafite imenso do trio de hip hop está lá para fazer registro.

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“Honey, Just Allow Me One More Chance” – Bob Dylan, The Freewheelin’ Bob Dylan e o West Village

Saindo do leste rumo ao oeste a caminhada pode ser longa. Não é por acaso, afinal estamos deixando o nosso roteiro original, que se concentraria a princípio somente no East Village. O jeito é pegar o metrô até a Washington Square para acelerar o trajeto.

Saindo da estação, discos de vinil de um vendedor ambulante decoram a calçada. Logo ao lado, um jogo de basquete de adolescentes chama atenção de todo mundo que passa pela rua. Muita gente para e assiste os lances plásticos e acrobáticos dos jogadores.

Uma esquina icônica: Jones St. and West 4th

Mais uns dois quarteirões e chega a esquina da Jones com a rua 4. Num dia frio do inverno de 1963, serviu de cenário para a capa do aclamadíssimo “The Freewheelin’ Bob Dylan”. A rua de hoje é arborizada, diferentemente daquela capturada em 1963. Lojas de chocolate artesanal, de instrumentos musicais e um sex shop compõem a vizinhança da esquina icônica.

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Bônus: 132 E 7th st., graffiti de Joe Strummer

Não é capa de disco, mas merece demais entrar nesse roteiro musical pelo East Village (que foi terminar no West Village, né?): o graffiti em homenagem ao Joe Strummer. Fica no número 132 da rua 7. Mais precisamente, na parede do bar Niagara, cujo proprietário é um super fã de Strummer e do Clash.

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O mural é atração pra todo mundo que passa. Nos poucos momentos em que estive lá, vi a parede ser fotografada por uma japonesa toda fashionista e por uma família de turistas franceses. Além de mim, claro.

Se o futuro está ainda para ser escrito, como declara o mural em homenagem ao Strummer, o passado obviamente já foi escrito e, no caso do East Village, foi escrito nas paredes, prédios e esquinas do bairro.

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Mapa das capas de disco no East Village

Como prometido, segue o mapinha com o ~epílogo~ deste passeio: as capas de discos devidamente localizadas, com detalhes dos endereços para te guiar pelas ruas do East Village.

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