Minha ida ao Northside Festival, em Nova York, se deve pura e simplesmente ao meu apetite festivaleiro. O plano inicial era ir ao Governors Ball no primeiro fim de semana na cidade e partir para Bethel Woods, nos arredores, no segundo fim de semana, para o Mysteryland USA. Mas o festival de eletrônica foi cancelado em abril, pouco antes do meu embarque para os Estados Unidos. OMG, como eu iria me alimentar de festivais em Nova York agora que um deles não iria rolar mais?

Fuça daqui, pesquisa dali, e eu descubro o Northside Festival. Ele aconteceria justamente no fim de semana que eu previamente havia programado para o Mysteryland. Problema resolvido; eu já não ia mais passar fome de festival.

O Northside é um festival de música e inovação. Tem um lineup com nomes do indie e artistas emergentes. Isso o torna um festival ótimo pra conhecer gente nova. Tem também uma programação extensa de palestras e debates com mentes pensantes de startups, marcas, agências e produtores de conteúdo que discutem tendências da tecnologia, mídia, vídeo e empreendedorismo.

A essa altura, não muita gente ouviu falar do Northside, apesar dos seus oito anos de existência. Provavelmente, não muita gente vai ouvir falar dele nos próximos anos. Com residência nos bairros de Williamsburg, Greenpoint e Bushwick, o lado norte do Brooklyn (the northside, sacou?), endereços hoje ocupados pela cultura hipster, o festival carrega esse DNA alternativo. Não quer ser mainstream.

Prova disso é que o festival não segue a cartilha do que se convencionou chamar de festival de música. Ao invés de concentrar todos os eventos em um único lugar, a programação se espalha por vários espaços nos três bairros citados: parques, bares, restaurantes, lojas, ruas, casas de shows grandes e inferninhos.

Esse é o grande diferencial do Northside e o maior valor que ele entrega para o público, principalmente para quem está sendo apresentadx a Nova York, como foi o meu caso. Os festivais que seguem o modelo tradicional te “prendem” num só lugar por dois, três, quatro dias, “roubando” o tempo que você tem para conhecer a cidade onde está. O Northside faz exatamente o contrário. Ele te oferece um roteiro para explorar o Brooklyn. Tudo bem que é aquele Brooklyn hipster, uma fração pequena da totalidade do distrito (o maior dos cinco distritos de Nova York, diga-se de passagem), mas o fato é que nos três dias que dediquei ao Northside, bati perna, explorei e descobri lugares preciosos graças ao festival.

Dê o play antes de ler

Vou te levar agora pra um passeio pelo Brooklyn (o Brooklyn que eu tive tempo de conhecer através do Northside). Como ele vai ser longo e exige fôlego, siga em frente ouvindo a playlist com alguns dos artistas que vi durante o festival, incluindo aí umas boas descobertas musicais.

Senta que lá vem um longo passeio pelo Brooklyn (graças ao Northside Festival)

Quando peguei o guia impresso no primeiro dia, foi como se eu tivesse tido acesso a um mapa da mina dos insiders do Brooklyn (hipster). No meu tempo, no meu ritmo, fui brincar de conhecer o Brooklyn.

Screening Room & Bar – Wythe Hotel

Além dos shows e das palestras, o Northside tem alguns eventos especiais. Um deles foi uma exibição de “O Imigrante”, filme de Charlie Chaplin de 1917, com trilha sonora original executada ao vivo pelos alunos da The Brooklyn New School. A sessão aconteceu no surpreendente porão do Wythe Hotel, onde funciona uma sala de cinema e um bar, ambos com programação regular fora dos dias do festival.

Bedford Avenue

Essa é a avenida mais longa do Brooklyn. É uma via movimentadíssima, comercial, cheia de lojas e restaurantes, mas com caráter bem local – nada daquelas marcas mundialmente conhecidas que se repetem a cada esquina de Manhattan. A avenida foi meu caminho natural em algum momento ou outro dos dias que dediquei ao Northside, mas o grande destaque aqui fica para a block party do festival que fecha a avenida tradicionalmente no sábado.

northside festival

São quase 12 quarteirões ocupados com shows, instalações de arte, oficinas de artes e esportes para adultos e crianças, expositores de roupas e acessórios e tapetes de grama forrando o asfalto, convidando todo mundo a se jogar no chão.

McCarren Park

No McCarren Park acontecem os principais shows do Northside Festival, sempre do fim da tarde até o fim da noite. Dentre os mais memoráveis, vi o Dirty Projectors, no primeiro dia, que poderia ter sido muito melhor se a plateia hipster não fosse tããããããão blasé e com tanta resistência a demonstrar emoções. E o Miguel, no segundo dia, este sim um showzaço resultado da entrega equilibrada de artista e público, bem mais diversificado, para além da fauna hipster.

O parque é imenso, cheio de quadras, playground e uma piscina pública. Ótimo para um passeio nos dias mais quentes de Nova York.

Pete’s Candy Store, Sunnyvale e Warsaw

Estes são três lugares para insiders do Brooklyn MESMO. Eles também são um exemplo de uma das coisas mais legais do Northside, que é descobrir os lugares onde você pode ir para ouvir música e conhecer coisas novas. Se houvesse uma versão hipster para a toca do coelho de Alice no País das Maravilhas, o Pete’s Candy Store seria um fortíssimo candidato.

A entrada é um barzinho com uma meia dúzia de lugares no balcão. Você entra em uma porta lateral e descobre um mini-auditório com um palquinho mínimo para música ao vivo. Entra na porta no corredor ao lado e descobre uma área ao ar livre com jardim e mesas. Nesse mini-auditório vi o The Spookfish (na playlist do YouTube), projeto mezzo acústico, mezzo dark-synth do músico Dan Goldberg, residente do Brooklyn.

O Sunnyvale e o Warsaw são casas de show de pequeno e médio porte, respectivamente. A primeira é bem recente, a segunda tem mais história. Ambas têm como missão abrigar shows underground – desde os mais tradicionais nomes da cena até os emergentes. No Sunnyvale vi o synth-pop do gobbinjr, projeto comandado pela Emma Witmer. No Warsaw, vi as moças do Girlpool (na playlist do YouTube), um duo de folk da Califórnia.

Rough Trade

Eu paguei minha dívida por não ter visitado a Rough Trade em Londres por vias tortas. Acabei conhecendo a Rough Trade de Nova York, que se não é a “original”, ostenta o título de maior filial da resistente loja de discos. Lá é um lugar ótimo pra se escutar música em qualquer ocasião. A equipe da loja faz uma seleção fina e periódica de lançamentos para se ouvir nas estações da loja.

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Durante o Northside, em especial, a loja recebe alguns shows. Vi o Lower Dens (na playlist do YouTube), uma banda indie retrô de Maryland. O som do grupo eu só fui conhecer depois mesmo, porque no festival eles fizeram um set especial com clássicos do Abba (!).

Bônus: Academic Records e Transmitter Park

O que eu mais faço quando estou viajando é andar a pé. Primeiro, porque gosto e faço disso um hábito até na minha própria cidade, BH. Segundo, porque aprendi que quem caminha numa cidade estrangeira é sempre recompensado com alguma boa surpresa. Nas minhas caminhadas no Brooklyn durante o Northside Festival, fui recompensada com duas: a Academic Records e o Transmitter Park.

A Academic é uma loja de vinis onde descobri coisas como uma coletânea dedicada a artistas negros do rock dos EUA. Às margens do East River, o Transmitter Park é um parque bem pequeno, mas com uma vista daquelas para o skyline de Manhattan. Não tem nem um centésimo da gente que se espreme na ponte do Brooklyn pra ter a mesma vista. Como eu estava num ótimo dia no quesito recompensas, ainda tive a sorte de chegar lá bem na hora do pôr-do-sol.

northside festival

Para entender o Northside Festival

Além dessa programação bem peculiar, toda diluída pelo Brooklyn, o Northside também tem um esquema bem peculiar de ingressos. Caso você se programe para ir ao festival, que rola sempre no início de junho, tenha esse esquema em mente:

  • Music Badge: o ingresso te garante entrada em todos os shows (parques, bares, lojas, clubes). É o mais em conta. Em 2017, custou US$ 75.
  • Innovation Badge: o ingresso te dá acesso a todas as palestras e debates. É salgado e em 2017 ficou na casa dos US$ 400
  • Premium Badge: é o combo que combina os dois ingressos anteriores
  • Single tickets: alguns shows têm ingressos avulsos à venda, variando de US$ 15 a US$ 30
  • Eventos gratuitos e especiais: a block party é aberta ao público, sem necessidade de ingresso. O último dia de shows no McCarren Park também, mas é necessário um RSVP para que a organização faça um controle de capacidade do local. Quem compra um dos três passaportes (Music, Innovation e Preimum) tem acesso a alguns eventos especiais, como sessões de cinema e happy hours

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