Quando o I Wanna Be Tour surpreendeu todo mundo nas redes sociais neste mês com o anúncio de sua edição de estreia, marcada por um line up emo e pop punk que vai ser levado a cinco cidades brasileiras em março de 2024, muitas comparações com o Lollapalooza surgiram. Um exemplo do que o line up do Lolla deveria ter, de como o Lolla deveria divulgar sem rodeios a sua programação, como o novo evento “passou por cima” do Lolla e por aí vai.

Eu também me lembrei do Lolla quando parei para prestar atenção no I Wanna Be Tour. Só que pensei em outro Lollapalooza, um que não existe mais e que só chegou a existir nos Estados Unidos, mais de uma década antes da gente viver essa grande bolha dos festivais de música. Um Lolla que se assumia um outro formato de festival.

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i wanna be tour 2024

I Wanna Be Tour (re)lembra que há outros jeitos de oferecer um festival

O I Wanna Be Tour me lembrou, mais precisamente, do formato original do Lollapalooza: uma turnê itinerante que passava por várias cidades dos Estados Unidos. Foi assim que ele nasceu, em 1991, com o propósito de celebrar a turnê de despedida do Jane’s Addiction, banda de seu criador, Perry Farrell; e foi assim que ele se consolidou e resistiu até 1997.

Depois de um hiato até o início da década seguinte, o festival retornou com esse formato em 2003, mas sem muito sucesso, tanto que ele não se sustentou e foi cancelado em 2004. O motivo: o formato de sede fixa e fim de semana, longamente estabelecido na Europa desde os anos 1970, fazia mais sentido para as bases o apogeu da indústria de festivais que vivenciaríamos anos mais tarde.

Mas se o Lolla nunca mais voltou ao formato itinerante porque prosperou em escala global com o modelo de sede fixa, assim como tantos outros festivais que vieram depois, a boa recepção do I Wanna Be Tour mostra que o atual cenário saturado de festivais pode comportar um modelo que foi sucesso em outro país, em outro século.

line up lollapalooza 1991
Line up do Lollapalooza 1991
lista de cidades lollapallooza 2021
Cartaz com lista de cidades dos EUA por onde passou o Lollapalooza 1991

Nostalgia, itinerância e acesso

É claro que a nostalgia explica muito da viabilidade por trás do I Wanna Be Tour. A propósito, se muita gente fez comparações com o Lolla, faltaram comparações com o When We Were Young, festival emo dos Estados Unidos que fez sucesso massivo no pós-pandemia e a partir do qual, indubitavelmente, e de maneira bastante inteligente, o evento brasileiro se inspirou.

Mas merece muitos pontos o fato de apostar numa escalação enxuta, porém objetiva, para permitir um ingresso com valor mais acessível e a mobilidade por diferentes cidades, por oposição a uma estrutura gigante de dezenas de artistas que obriga fixar residência e cobrar caro.

Cabe mencionar que MITA e C6 Festival também apostaram em uma itinerância levemente discreta, com edições em São Paulo e no Rio de Janeiro (em 2024, porém, já sabemos que o C6 Fest será somente em São Paulo).

O I Wanna Be Tour (a propósito, da mesma produtora por trás do MITA) consegue ser ligeiramente mais democrático. Ainda que o eixo Rio-São Paulo continue sendo contemplado, e o que Sudeste esteja presente com uma terceira cidade, BH, o evento vai chegar ao Nordeste e também passar pelo Sul.

Festivais são caros para quem faz e para quem vai. Estão cada vez mais caros para ambas as partes. E podem ser ainda mais caros quando envolvem o deslocamento rotineiro para uma mesma cidade em um país de proporções continentais.

Ainda que os organizadores não estejam oficialmente chamando o I Wanna Be Tour de festival, mas sim de turnê itinerante (olha aí a semelhança com o Lolla raiz), tecnicamente, ele também pode ser considerado um festival, com suas 12 atrações que vão se alternar em dois palcos.

E se é um festival na prática, que então seja uma inspiração para outros futuros festivais no Brasil, ampliando o acesso, principalmente do ponto de vista geográfico, a eventos com foco em grandes atrações internacionais.

Cinco cidades à sua escolha

Confira as datas e cidades do I Wanna Be Tour. Ingressos à venda aqui. Os valores variam conforme a cidade.

2 de março – São Paulo – Allianz Parque (esgotado)
3 de março – Curitiba – Estádio do Couto Pereira
6 de março – Recife – Área Externa do Centro de Convenções Pernambuco
9 de março – Rio de Janeiro – Engenhão – Estádio Nilton Santos
10 de março – Belo Horizonte – Arena da Independência

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Crédito da imagem principal: William Krause/Unsplash

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