Basta uma vivência mínima em festivais para saber que uma pista premium não deveria ter lugar em um evento do tipo – festivais são um grande campo aberto que pede livre circulação, e os palcos são sua principal área comum; um setor que subtrai do público uma boa parte da mais importante área comum fere essa premissa.
É por isso que a pista premium introduzida no MITA 2023 foi encarada pelo público do festival como um grande equívoco desde o início. E para a surpresa de ninguém, depois de realizado o MITA, a origem de muitas das reclamações registradas no Festivalômetro aponta para o indevido setor, seja quando se fala do festival no Rio ou em São Paulo.
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A infame pista premium
A julgar pelas avaliações e repercussão nas redes sociais, o MITA Rio parece ter sido muito mais satisfatório na visão de quem foi na comparação com o MITA São Paulo, e o segundo dia em São Paulo parece ter sido menos atribulado que o primeiro. Mas oscilações à parte na experiência geral, é ela, a pista premium, que protagoniza direta ou indiretamente as queixas feitas contra o festival.
A principal reclamação é a mais óbvia: a pista premium empurrou o restante do público para trás, deixando o palco mais distante, o que consequentemente compromete a experiência dos shows. O resultado conseguiu ser ainda pior porque, segundo os relatos, chegou a sobrar espaço na pista premium.
Como um efeito cascata, daí decorreram os outros problemas que acabaram afetando a experiência geral do público: o espaço que sobrou na premium foi o mesmo espaço que faltou para a melhor circulação e maior conforto do público da pista comum, principalmente em São Paulo, dado o formato mais estreito do Vale do Anhangabaú.
Problemas da (e na) premium
Nem quem ficou na pista premium se viu livre de problemas no setor. Nas avaliações do Festivalômetro, houve reclamações da má qualidade da visão do palco, do acesso e da circulação dentro da pista premium em São Paulo. Já no Rio, ganhou destaque nas redes sociais a falha na montagem da grade da premium. A estrutura ainda não estava totalmente pronta quando o público entrou, e acabou não sendo ajustada devidamente.
. @mitafestival o MAIS AMADOR DO MUNDO. quem conhece Lana Del Rey sabe que ela solicita a escada para descer e cumprimentar os fãs. além do atraso de uma hora para abrir os portões, quando chegamos e nos posicionamos na escada dela, a grade simplesmente nem estava pronta (+) pic.twitter.com/QvUIdn6T8i
— Eduardo Barros (@edubarr0s) May 28, 2023
Avaliações MITA Rio
O início de um sonho > Deu (quase) tudo errado
O MITA Rio foi um mix pra mim em muitos quesitos, então vou avaliar por tópicos:
Lotação > No sábado, estava muito lotado, o que de certa forma não seria tão relevante se a pista premium não estivesse ocupando um espaço 4x maior do que a quantidade de gente que tinha ali. Não sei de quem foi a ideia de fazer uma PP daquele tamanho em um festival, mas deu muito errado. A PP do GRLS foi tão grande quanto, mas ocupava somente metade do palco, o que já amenizaria muitas das reclamações.
Estrutura dos shows > Som e telões estavam bem bons, altura do palco tbm, mas tinha um singelo problema: TORRES E CABINES TÉCNICAS. Simplesmente meteram uma cabine de captação e som GIGANTESCA no meio da pista, e não bastasse isso, haviam 2 ou 3 gruas de câmeras + 2 torres de som tão grandes quanto, o que arruinou totalmente a experiência e visibilidade de quem não estava perto da grade da pista (grade esta que estava na metade do terreno, muito longe do palco. No sábado, eu vi o show da Lana do fundo, porque era impossível chegar a uma distância minimamente decente do palco sem ser pisoteado ou sufocado. No domingo, como tinha bem menos gente, foi bem mais tranquilo e consegui curtir o show.
Estrutura do festival > Banheiros em boa localização e quantidade suficiente, razoavelmente limpos, e alguns banheiros construídos. Bebedouros com água gelada, sem filas. Alimentação com bastante opções, infelizmente os preços proibitivos de qualquer evento nos últimos dois anos. Bebidas também bem variadas, com preços padrão de eventos (caro). Entrada descomplicada, saída também.
Ativações > Muitas ativações, de variados nichos, achei tudo bem tranquilo de se conseguir. Haviam tbm lojas pop-up da Baw e da Stanley, comprei a camiseta do evento lá e um copo.
Cashless > PAREM DE FAZER EVENTOS COM CARTÃO CONSUMAÇÃO. Todo o transtorno que a gnt tem com essa marmota poderia ser resolvido utilizando pulseiras cashless. Além disso, eu odeio a mecânica de trocar o cartão por uma água no final, só queria meu caução no final, sabe? Mas podia ser pior, podia ser igual no Rock in Rio…
Local > O Jockey é um lugar ótimo pra eventos, gostei da configuração de palcos, de ativações, banheiros, bares, etc, além de ser num ponto de facílimo acesso na cidade do Rio. Felizmente não choveu, senão teria virado lama.
No geral, a experiência foi bem porca pelo preço que foi cobrado. Fui com expectativas altíssimas por conta dos comentários positivos da edição passada, mas me decepcionei muito. Depois de ouvir os relatos em relação a edição SP, fiquei feliz de ter preferido ir no Rio. Vou pensar 2, 3x antes de considerar ir numa próxima edição, tem que melhorar DEMAIS.
Leia aqui mais avaliações do MITA Rio
Avaliações MITA São Paulo
Péssima experiência!
O festival que veio com tudo no ano passado, neste ano decaiu bastante. Era impossível se sentir seguro no local escolhido para edição de SP, sendo a única coisa boa o line-up (e com ressalvas, mas isso é relativo). Prometeram policiamento nas saídas do evento até as estações indicadas pelo próprio evento e não foi o que aconteceu, houveram furtos, houve arrastão e vários relatos de pessoas que não conseguiram voltar para casa de maneira simples como havia sido prometido. Infraestrutura TERRÍVEL na qual a pista comum ficava muito longe do palco principal, e na área da pista premium onde eu estava sequer havia quiosques de comida, apenas se saísse do local separado, o que não seria um problema se não estivessem barrando as pessoas de entrarem e saírem de lá. DEZENAS de pessoas passando mal no local, dezenas mesmo, nada funcionava ali. No primeiro dia tive a terrível experiencia na pista premium e no segundo dia tive uma experiência cinco vezes pior do que anteriormente. Ah, no segundo dia puxaram a pista comum um pouco mais para frente, mas com certeza não sabiam muito bem o que esperar para aquela estrutura. Espero que paguem por tudo o que fizeram o público passar, pois o valor do ingresso não justifica absolutamente nada do que havia ali.
Leia aqui mais avaliações do MITA São Paulo
Um caminho ainda a percorrer
Há elogios para o MITA na estrutura de banheiros e de bebedouros, mas isso é o mínimo que qualquer festival deveria conquistar. Também é bem pouco diante da má impressão derivada dos problemas causados pela pista premium, e menos ainda para quem se considera ser o terceiro festival do Brasil, atrás somente de Rock in Rio Lollapalooza, baseado apenas em quantidade de público e de noites.
O MITA é o terceiro festival do Brasil hoje, na opinião de um dos empresários por trás do evento
Luiz Oscar Niemeyer disse em uma entrevista que o MITA só fica atrás de RIR/Lolla. E está à frente do Primavera porque acontece em 2 dias em 2 cidades
— Festivalando (@festivalando) March 30, 2023
Os fãs já não compravam essa tese mesmo antes dos problemas enfrentados na segunda edição do MITA, sabendo que a grandeza de um festival não se mede só em números, mas também em relevância, história, laços fortes e construção de marca. Considerando os tópicos que dominaram a conversa sobre o festival em 2023, a tese ficou ainda mais fragilizada.
Depois de Lolla e RIR (não necessariamente nessa ordem), qual o terceiro festival do Brasil hoje?
— Festivalando (@festivalando) May 9, 2023
Por hora, o MITA é um festival que deixou de ser bom em 2022 para para ficar entre o regular e o ruim em 2023 na média do Festivalômetro (de cerca de 4/5 para 2.8/5); que provocou uma quantidade indesejável de comentários negativos nas redes sociais; e que precisa ainda se livrar de alguns obstáculos, a começar pela pista premium no meio do caminho.
Leia avaliações do MITA e de outros festivais no Festivalômetro
Crédito da imagem principal: MITA Festival/Divulgação
