Com seis palcos montados sobre um espaço plano bom para receber eventos – o Hipódromo Paris-Longchamp; um público médio de 55 mil pessoas distribuídas por três dias – o suficiente para preencher, mas não encher o local; o amplo metrô de Paris à disposição; e a aura única da capital francesa em pleno verão europeu, a estrutura do Lolla Paris precisa entregar o básico para funcionar direito.
Felizmente, é isso o que ocorre na prática. Não é uma estrutura modelo para inspirar outros festivais e fazer brilhar muito os olhos de quem frequenta festivais. Mas faz bem o dever de casa, com algumas poucas ressalvas.
Ganhe insights
Veja detalhes da estrutura do Lolla Paris nos destaques do Festivalando no Instagram
Line up e programação
O line up do Lolla Paris é bem peculiar, e comentei mais a respeito disso no texto totalmente dedicado à experiência no Lolla Paris. O ponto principal é que ele tem um peso bastante grande em atrações locais (principalmente de hip hop), inclusive nas linhas de cima do line up, e não necessariamente espelha o estilo de line up que estamos acostumados na América do Sul.
Para ouvidos curiosos musicalmente, isso não é um problema. É uma oportunidade real de conhecer artistas de língua francesa e tornar a experiência em um festival francês mais… francesa. Mas quem busca uma oferta maior de artistas globais para fazer valer o investimento de uma viagem em euros talvez se satisfaça mais com outros festivais que não são de grifes tão conhecidas dos brasileiros, mas muito relevantes na Europa, como o NOS Alive e o Rock Werchter.
A programação extramusical também é diferente e, inclusive, mais enxuta do que é ofertado no Lolla Brasil, se esta for sua referência para considerar o Lolla Paris. Nada de brinquedos. As ativações são tímidas e não atraem filas longas e constantes como em São Paulo. O clima de fun fair, que originalmente deu cara ao Lolla em sua primeira vida nos anos 1990, nos EUA, é mais evidente do que a aparência de shopping.
Estrutura
O cerne da estrutura do Lolla Paris, ou seja, o que envolve os pontos mais críticos para uma boa experiência do público, é bem satisfatório. O espaço é equipado com banheiros de água corrente, água, papel e sabão.
Há, sim, os tenebrosos banheiros químicos em alguns pontos, mas os banheiros decentes são numerosos e estão bem localizados em áreas importantes de circulação no Hipódromo Paris-Longchamp.
O transporte também funciona sem sobressaltos, graças à malha de metrô já existente na cidade e ao redor do local do Lolla Paris, servido por duas estações de metrô e uma linha de tram.
Na ida, a organização divide a entrada do público por dois acessos diferentes (o portão é designado no ingresso), cada um correspondente a uma linha de metrô, e isso parece contribuir para evitar uma grande multidão nas estações. O fato de haver muitas linhas de metrô interconectadas também colabora ainda mais para a dispersão do público.
As estações estão a cerca de 15 a 40 minutos dos portões, mas há shuttles gratuito que parte com intervalos regulares de poucos minutos para levar o público até a entrada na ida e até a estação de metrô na volta. Aqui, mais uma vez, não há aglomerações nem grandes filas, e os shuttles rodam relativamente vazios.
Na volta, com o metrô funcionando até por volta de 2h e os shows terminando por volta de 23h ou 0h, há tempo suficiente para pegar o transporte público com duas opções de linhas e, consequentemente, também pouca aglomeração nas estações. O fluxo da multidão escoa com muita facilidade.
O ponto central de informação do Lolla Paris é o aplicativo, que funciona bem e contém o básico para se orientar dentro do festival.
Ambiente
Algo notável quando se fala em segurança no Lolla Paris é a presença de policiais dentro (principalmente ao redor da réplica da Torre Eiffel) e fora do festival. É uma presença quase tão ostensiva quanto a que se observa em pontos turísticos com muita aglomeração em Paris, como no Sacré-Cœur.
Talvez seja uma herança de atentados terroristas traumáticos e relativamente recentes. Se isso dá sensação de segurança ou sugere um risco fora do normal a ponto de exigir segurança formal, vai da percepção de cada um.
A limpeza, por sua vez, é um destaque positivo do Lolla Paris. Não que o festival seja limpíssimo; isso é muito difícil quando se tem milhares de pessoas ocupando o mesmo lugar.
Mas foi interessante notar como a ideia do copo reutilizável é realmente posta em prática no Lolla Paris e como isso contribui com o aspecto geral de limpeza.
Foi muito fácil ver pessoas levando copos de edições anteriores do Lolla Paris, de 2018 a 2022. Sem o frenesi por sair coletando um copo aqui e descartando outro ali, o cenário final é de menos plástico no chão.
Já o conforto é o principal escorregão da estrutura do Lolla Paris. Com exceção das mesas com espaços cobertos na praça de alimentação, não há áreas de sombra e de descanso para atender uma parte considerável do público.
Isso não fez tanta diferença em 2023, quando a temperatura em Paris estava mais para primavera do que verão, com direito a céu encoberto. Mas em uma eventual onda de calor, a falta desses espaços cobertos teria tornado a experiência mais exaustiva.
Alimentação
Conforme dito acima, o Lolla Paris tem uma área de alimentação generosa com mesas cobertas para quem quer fazer refeições com calma.
A quantidade e a variedade de opções de comida é o que se espera de um festival desse porte, com pontos espalhados por diversas áreas e cardápio com opções de vários cantos do mundo (inclusive coxinha brasileira) e para diferentes dietas alimentares. Os preços também são mais caros que em outros estabelecimentos da cidade, como se espera de um festival.
O destaque maior na alimentação fica para o Lolla Chef, área que reúne cinco chefs franceses convidados cozinhando in loco pratos elaborados para o festival. As filas são grandes e já no segundo dia alguns pratos estavam esgotados devido à grande demanda.
Outro destaque é para as bebidas. Além dos bares comuns que se encontra em qualquer festival, o Lolla Paris tem três bares “de verdade”. Por bares de verdade me refiro à estrutura deles: cobertos, com mesas, cadeiras e uma bela decoração de balcão e mostruários com garrafas de bebida.
Cada um dos três bares é dedicado a um tipo de bebida: vinho, coquetéis e cerveja, sendo este último localizado em uma plataforma que rende uma ótima vista para um dos palcos principais.
O quesito hidratação também funciona bem no geral, com bebedouros espalhados pelo Hipódromo Paris-Longchamp.
Custo-benefício
Com tudo funcionando tão bem, o Lolla Paris vale o quanto custa? Vamos por partes. Em termos absolutos, é um festival caro. Em 2023, foram 220 euros pelos três dias.
Para comparação, o Primavera Sound Barcelona custou 260 euros os três dias (mais o Primavera na Cidade), sendo incontestavelmente mais grandioso.
Já o NOS Alive, que entrega um line up mais alinhado para uma audiência internacional que viaja até a Europa em busca de um line up blockbuster custou 179 euros em 2023 para os mesmos três dias.
Tendo isso em vista, considero que o Lolla Paris funciona muito bem como um adendo de capricho dentro de um roteiro de Paris mais esbanjador. É uma cereja bem vermelhinha e brilhante no bolo charmoso que é uma visita à capital francesa. Como motivo principal da viagem, há concorrentes mais fortes para disputar esse investimento em euros.
Saiba quanto custa viajar para o Lolla Paris e confira o guia de viagem para festivais na Europa
Crédito da imagem principal: Alexandre Fumeron/Lollapalooza Paris
Deixe seu nome na lista
Receba um email semanal do Festivalando sobre os principais festivais do Brasil e do mundo