Já faz um tempo que o Festivalando vem registrando movimentos importantes, porém desagradáveis, do pós-pandemia dos festivais no Brasil e no exterior. Eles apontam para uma mesma direção de instabilidades e desafios que não terminaram com a retomada de eventos em 2022.
O recente cancelamento das turnês que Ludmilla e Ivete Sangalo fariam pelo Brasil neste ano adiciona mais elementos a esse cenário. Como foi amplamente divulgado, as duas cantoras alegaram que a produtora responsável, 30e, não garantiu a estrutura necessária para os shows. A produtora disse que sugeriu readequações por questões de demanda.
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O que os festivais têm a ver com isso
A Billboard Brasil foi quem trouxe à tona os efeitos desse episódio no mercado de festivais em uma reportagem com bastidores do cancelamento das duas turnês. O ponto principal é que, mais que um caso isolado, o cancelamento é resultado de uma sucessão de águas turbulentas que tanto grandes shows com produções elaboradas quanto festivais pequenos, médios e grandes vêm navegando nos últimos dois anos.
Como registrado aqui no Festivalando, esses problemas incluem aumento de custos de produção, de cachês e logística que são repassados ao público no preço dos ingressos, limitação do poder de compra das pessoas, saturação de eventos, concorrência maior por verbas de patrocínio e aumento da desigualdade entre produtoras de grande, médio e pequeno porte.
Falando especificamente sobre os festivais, uma das fontes ouvidas pela reportagem disse que não há capacidade financeira para tantos festivais (principalmente os grandes) numa mesma cidade, por exemplo, como acontece hoje em São Paulo com Lollapalooza, Primavera Sound e The Town. Como consequência, nos próximos anos, veríamos possivelmente uma reacomodação do mercado. O Dia Brasil no Rock in Rio também seria efeito desses desafios, segundo a fonte.
As últimas turbulências
Em fevereiro, o Festivalando destacou o cancelamento de três festivais de portes, estilos e trajetórias diferentes. Em uma mesma semana, XXXPerience, MITA e Setembro Negro anunciaram que não iriam acontecer este ano. Enquanto MITA e Setembro Negro foram vagos nas justificativas, o XXXPerience citou uma sucessão de fatores que levaram ao cancelamento, incluindo a concorrência com outros eventos e o preço altos dos cachês.
Em abril, o REP Festival anunciou seu cancelamento por problemas de patrocínio. No mesmo mês, Encontro das Tribos e o estreante WhatzPop 71 informaram o adiamento do primeiro para o segundo semestre, o primeiro pelo excesso de eventos em São Paulo nas datas do festival e o segundo por questões envolvendo patrocínio.
Há, sim, casos bem-sucedidos e eventos que se mantêm de pé em meio a essas notícias de cancelamentos e adiamentos, mas já está evidente que há excesso de concorrência e de desigualdade que desenha um cenário desafiador e incerto para produtores, artistas e público.
Para saber mais
Ouvir quem trabalha diretamente nesse mar revolto é a melhor maneira de entender o que está acontecendo e o que ainda está por vir. Em meio às muitas opiniões repercutindo o cancelamento das turnês, duas análises podem servir de bússola: esta da empresária musical Nicole Balestro e esta do produtor Fabrício Nobre.
Crédito da imagem em destaque: Oscar Keys via Unsplash
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