Pela enésima vez eu repito que Lolla não é tudo igual. Apesar do nome e do lineup quase todo idêntico (como no caso dos Lollas da América do Sul), cada festival tem suas peculiaridades e muitas delas se manifestam nos quesitos básicos para um evento funcionar, como transporte, alimentação, etc. Uma análise da estrutura do Lollapalooza Argentina deixa isso claro.

No festival, que acontece no hipódromo de San Isidro, na região metropolitana de Buenos Aires, há detalhes diferentes do que se está acostumado na versão brasileira (veja um comparativo do Lolla BR x AR x CL). Ao mesmo tempo, as semelhanças com o Lollapalooza Chile, são maiores. A seguir, um relato bem longo da estrutura do Lolla Argentina. Ao final, uma nota média com base em tudo que ele oferece.

Transporte

A logística de transporte do Lollapalooza Argentina é familiar para quem já foi ao Lolla Brasil: metrô até uma parte do caminho e depois transferência para o trem para completar o trajeto. O trem segue para fora de Buenos Aires, no município de San Isidro – como dito acima, é na região metropolitana onde de fato acontece o festival. Mas o tempo de trajeto é também semelhante ao do Lolla Brasil. Um ponto a favor da Argentina (assim como no Chile) é que a entrada do festival está do outro lado da rua, na saída da estação.

Mas há uma diferença mais crucial ainda e ela está na hora da volta. Na Argentina, a linha Mitre, que liga Buenos Aires até o hipódromo de San Isidro, tem horário de funcionamento prolongado em três horas e meia. Sim! T-r-ê-s h-o-r-a-s e m-e-i-a!

Em dias normais, os trens circulam até as 23h30. Nos dias do festival, os trens circularam até as 3h da manhã. Em todos os palcos, os shows, incluindo os dos headliners, terminam às 23h45. Ou seja, são três horas (com mais quinze minutos) pra voltar com tranquilidade de transporte público. A única exceção é o palco 2, onde um DJ encerra a noite à 1h. Mesmo assim, ainda sobram duas horas para o retorno.

Chegando na estação final (Retiro) é preciso pegar os ônibus que passam na porta (com horários reforçados) ou chamar um uber/táxi até seu destino final. Para quem é turista, o gasto com transporte particular é pouco. Isso porque a estação está próxima aos principais bairros turísticos de Buenos Aires, onde fatalmente você vai se hospedar. Eu fiquei no bairro de San Telmo. Paguei o equivalente a 15 reais, sem surpresas na tarifa e sem aglomerações na saída da estação.

Informações

O site do Lollapalooza Argentina tem uma seção organizada e completa que ajuda na orientação pré-festival. Lá dentro, faltou ter gente entregando o guia do evento em todas as entradas. Eu entrei por um portão secundário e precisei ir até a tenda de informações para conseguir um. Mas a equipe presente no local foi bem solícita. Totens com horários, mapas, etc seriam um bom reforço, caso existissem.

Mudanças de última hora (veja no item “Segurança”, no fim do texto) foram informadas prontamente nas redes sociais e pelo e-mail usado na compra de ingresso.

Hidratação e comida

Uma expressão apenas: água de graça! Seguindo o bom exemplo do irmão Lolla Chile, o Lollapalooza Argentina tem estações de hidratação gratuita. Além disso, libera a entrada de uma garrafa de água pra que você encha-a livremente, quando for necessário. Havia duas delas. Mas seria melhor se houvesse ao menos o dobro para evitar as filas, que geravam pelo menos dez minutos de espera para encher a garrafa.

detalhes do lollapalooza argentina

A oferta de comida é diversificada. Não chega a ser aquele festival gastronômico que é no Lolla Brasil, mas é proporcional ao tamanho do evento na Argentina. Um destaque positivo é a concentração de opções veganas, vegetarianas, orgânicas e para celíacos em um único local. Ficam todas na área chamada Espíritu Verde, dedicada à sustentabilidade, conscientização e questões políticas (outra coisa que também existe no Lolla Chile – lá chamada de Aldea Verde – mas que não tem na edição brasileira).

Pra quem tem essas restrições alimentícias, é muito bom não ter que procurar aleatoriamente de stand em stand por esse tipo de comida e ainda correr o risco de não encontrar nada. O Lolla Argentina encontrou uma solução bastante objetiva.

As filas para comer nessa área eram bem rápidas (naturalmente, pois o foco era um público menor). Também havia uma oferta boa de mesas e bancos para sentar e comer com calma. Já nos pontos mais centrais, entre os dois palcos principais, as filas eram maiores, inclusive nos caixas para recarga das pulseiras. Também fez falta um esquema “praça de alimentação” nesse ponto, com mesas de apoio.

A treta da cerveja

O ponto mais chato fica por conta da cerveja. Ela só pode ser consumida dentro de um espaço delimitado, um beer garden montado exclusivamente pra isso. Como de costume, é preciso antes pegar uma fila meio grandinha para apresentar documentos e receber a pulseira de maior de idade. Aí, então, está liberada sua entrada no beer garden.

O preço não era dos mais convidativos: 120 pesos (o equivalente a 20 reais na cotação de março/2018) pela garrafa pequena de Corona. Mas você não vai gastar muito com cerveja lá dentro. Há um limite de consumo de duas garrafas por pessoa. SÉRIO.

Isso se deve a leis locais bastante rígidas quanto à venda de bebidas alcoólicas em shows e espetáculos. O objetivo das leis é reduzir o consumo de álcool e preservar a segurança dos eventos. Em 2017, o Lollapalooza Argentina sequer conseguiu vender cerveja; em 2018, a venda foi nos moldes citados, bastante restrita.

Conectividade

estrutura do lollapalooza argentina

Havia um lounge montado pela repartição de turismo da prefeitura de Buenos Aires com wi-fi gratuito que funcionava de verdade. Carregadores de celular, com cabos para Iphone e Android, completavam o espaço, que servia ainda como ponto de descanso. Não precisa nem dizer que este era um dos pontos mais concorridos do Lolla Argentina, né?

O sinal de 3G/4G era bastante instável. Quanto mais tarde e mais cheio o local, mais difícil era conseguir conectar-se. Eu usei um chip de uma operadora local, que comprei logo que cheguei em Buenos Aires.

Limpeza e banheiros

Banheiros químicos não deixam muito a declarar a não ser a expressão típica de nojinho, não é mesmo? Ao menos não havia separação explícita feminino/masculino, e todo mundo encarava aleatoriamente as temidas cabines, num esquema unissex, o que comprovadamente reduz as filas e é mais favorável para todo mundo.

Porém, assim como nas áreas de alimentação, os banheiros mais próximos dos dois grandes palcos eram os que menos davam conta da demanda e apresentavam filas mais constantes.

Havia uma distribuição razoável de lixeiras pela área do festival e algumas delas eram exclusivas para materiais recicláveis. Equipes designadas exclusivamente para coletar o lixo completavam a limpeza.

Segurança

O procedimento de revista na entrada do festival era padrão. Mas havia uma rodada extra de revista para quem chegava de trem. Um carro de autoridades federais com equipamento de raio X (como aqueles de aeroporto) escaneava as bolsas e mochilas de todo mundo que saía da estação.

Porém, a maior prova de segurança do Lolla Argentina foi no sábado. Naquele dia, a produção antecipou o fim do festival da 1h da manhã para as 22h em função de uma previsão de tempestade na madrugada. Apenas as primeiras atrações de cada palco foram prejudicadas com a mudança e não se apresentaram.

Quando todo mundo já estava em casa depois do festival, de madrugada, ficou claro que a decisão foi acertada. O mundo caiu em Buenos Aires, com direito a muitos raios e rajadas de vento. No hipódromo de San Isidro, o temporal deixou muita destruição: alagou a área do festival, danificou equipamentos e derrubou estruturas, o que infelizmente obrigou o cancelamento do último dia do festival.

(Ainda) não entra na nossa avaliação, mas um quesito a ser destacado da estrutura do Lollapalooza Argentina é a grande e bem distribuída quantidade de espaços para descanso no festival.

Leia mais sobre como é o Lolla Argentina e dicas de viagem pro festival

A viagem para o Lollapalooza Argentina teve o apoio da eDestinos

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