Um dia fiz aquele post questionando se o Rock In Rio merece o público metal que tem. Apesar de já fazer um tempo que falei isso, pra mim, os motivos que me fizeram escrevê-lo somente se renovam a cada edição do festival. Pois mais do que nunca a edição do dia do metal no Rock In Rio 2019 deixou bem claro de que somos um público fiel que está carente de um festival que nos leve a sério.

Não estou falando apenas da galera da grade do Iron Maiden. Mas daquelas pessoas apaixonadas, que fizeram o possível pra sorver até a última nota saída de uma guitarra naquele festival. Também daquela gente que chegou cedo pra prestigiar uma banda foda que ganhou horário de merda, que saiu correndo de um palco pra outro, numa verdadeira maratona, mesmo quando o festival não facilitou nem um pouco para ter espaços mais dignos entre uma apresentação e outra. Ainda, daquelas pessoas que foram conhecer o trabalho de quem estava tocando em palcos secundários, e que ainda tinham acessos bizarros, tipo uma rampa em caracol pra deixar a gente meio zonzx, o tal de Supernova. São essas pessoas que fizeram e fazem os “dias do metal” tão especiais no Rock In Rio.

Impressões sobre o dia do metal no Rock In Rio 2019

Quase um festival à parte

O dia do metal é quase um festival à parte. Porém, não é só por causa das roupas pretas e adornos metálicos, ou por cabelos grandes como a grande mídia retratou. Na verdade, o público que gosta de metal é mais diverso do que isso. Mas também poderia ser à parte pelo fato de que a maioria das pessoas que estavam ali, principalmente no palco Sunset, sabiam muito bem os motivos de estarem presentes. E não era só pela “experiência frouxa” de estar em um festival grande. Nem pelo “hype” de um ou outro artista.

Apesar do que foi dito, não estou sugerindo que os demais públicos de outros dias não compartilhem de experiências tão devotadas quanto o público metálico. Não é isso o que os deamis shows dos dias pop tem mostrado. Afinal, existe um público pop tão devotado e fanático quanto o metálico. Mas também é preciso admitir que fica bem evidente que música ainda é protagonista em meio às e aos bangers. Mesmo que alguma fila de brindes atraia certa quantidade de fãs do gênero. Ou que alguns decidam perder 40 minutos de um show de uma banda para ficar na fila de agendamento de brinquedo.

Também é impossível deixar de notar que foram raras as bandas que não tiveram suas músicas acompanhadas por coros que pareciam ensaiados. Ou shows que não tivessem uma resposta de expressão corporal tão intensa como os moshs. Assim, mesmo que o público metálico tenha suas nuances, fica evidente entre nós a comunhão com a paixão extrema pelo gênero musical como um todo. E também pelo respeito ao trabalho das bandas, pelo interesse no significado das letras (?), das capas, e de toda a produção midiática que vem junto das canções.

Lotado

O dia do metal no Rock In Rio 2019 também foi um dos mais lotados. Porém, isso já era previsto desde o momento em que o público esgotou os ingressos para o dia 04/10 em pouco mais de duas horas. Por isso, chegou um certo momento da noite me que ficou complicado transitar de um lado para outro do festival. Uma sensação de estar de fato em meio a um mar de gente!

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O dia do metal no Rock In Rio 2019 também foi delas

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Fernanda Lira, Nervosa. Palco Sunset Rock In Rio 2019. Ph: Bleia.

Apesar de haver uma presença feminina extremamente expressiva nos palcos dos demais dias do festival, finalmente o Rock In Rio abriu os olhos para escalar um pouco mais de mulheres para o dia do metal. Estamos longe do ideal. Afinal, o festival trouxe apenas 6 mulheres pros palcos deste dia. Mas, pelo menos, um passo foi dado – ainda que com tropeços, pois nada justifica colocar uma banda com a projeção da Nervosa para tocar em um horário em que muita gente nem tinha localizado ainda onde ficava o palco Sunset.

Mais mulheres no público

Também é claro que no público há cada vez mais mulheres. E da mesma forma como os homens, mulheres que cantam, que sabem a história das bandas e que NÃO estão ali apenas para acompanhar seus parceiros, como muita gente preconceituosa ousa em insistir. Infelizmente, na van da imprensa que nos leva ao Rock In Rio eu já tive que confrontar um comentário ultra preconceituoso e desinformado de um ser que não merece ser citado: “Olha só, ontem, no dia de Panic! at the Disco só tinha mulher. Hoje, dia do metal, só tem homem”. Será mesmo, cara pálida? Não tenho a cara de pau masculina de afirmar uma coisa dessas, ainda mais porque eu não tenho um censo numérico filtrado por gênero deste dia do festival ( nem dos demais). Mas eles tampouco têm este censo, apesar de terem a cara de pau.

Por essas e outras, sugiro que todas as manas e caras que querem ver mudança de linguagem e mentalidade sobre gênero e música a confrontarem comentários assim quando ouvirem. Pois, comentários como esse estão cheios de pressuposições sobre preferências musicais de mulheres que são pura inverdade e preconceito.

Sem tempo, irmão!

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Bruce Dickinson, Iron Maiden. Palco Mundo, Rock in Rio 2019. Ph: Diego Padilha.

Os shows do dia do metal do Rock In Rio escalados um atrás do outro fizeram com que a gente colocasse a língua pra fora pra dar conta de ver tudo. Ainda mais com o calor dos 30 graus! Não foi uma tarefa fácil. Do conjunto de apresentações deste dia, poucas beiraram à inexpressividade. Por isso, foi muito complicado fazer escolhas. Assim, o público teve que fazer esforços físicos reais para tentar galgar os melhores lugares.

Por conta disso, o público metálico teve menos oportunidades de curtir as “experiências” tramadas na Cidade do Rock. Era muita coisa pra ver, mas parece que de antemão este público foi desconsiderado como alvo daquelas atrações que estavam ali para além dos shows, pois mal deu tempo pra comer!

Shows apoteóticos

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Joey Belladona, Anthrax, Palco Sunset Rock In Rio 2019. Ph: Wesley Allen, I Hate Flash.

Headliners ou não, todas as bandas trataram de deixar momentos inesquecíveis no dia do metal do Rock In Rio 2019. Nervosa, trazendo representatividade e dedicando a música “Raise Your Fist” à Marielle Franco; Anthrax chamando Chuck Billy do Testament para cantar Indians, levando a galera ao delírio; Sepultura tocando clássicos como Arise e Innerself; Slayer, despedindo-se da melhor forma possível – com um setlist dinâmico, recheado de hinos do thrash metal como Angel of Death e Reign Blood ( mesmo tendo palco reduzido, ainda foi épico!).

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Andi Deris e Michael Kiske, Helloween. Palco Mundo, Rock In Rio 2019. Ph: Diego Padilha, I Hate Flash.

Helloween levando a formação de Pumpkins United ao palco e mandando um sucesso atrás de outro, tais como Eagle Fly Free, Ride The Sky, Future World e I want out; O Iron Maiden com um show cênico, e com um setlist de quebrar o pescoço; seguido de Scorpions, com a homenagem de Jabs que usava a mesma guitarra com a qual tocou na edição histórica do RIR, de 85.

Leia aqui os momentos mais marcantes do dia do metal do Rock In Rio 2019

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