Quando fui ao Lolla Chile, meu primeiro Lolla fora do Brasil, afirmei que o festival não é o mesmo em outro país só por ter o mesmo nome e até um line up quase idêntico, como é o caso da franquia aqui na América do Sul. Confirmei a tese quando fui ao Lolla Argentina e a reafirmo agora, depois de conhecer o Lolla Paris.
Tive a experiência Lollapalooza com toque francês durante o último fim de semana, nos dias 21, 22 e 23 julho, primeira vez em que o Lolla Paris se dividiu em três dias. O festival acontece na capital francesa desde 2017, no Hipódromo Paris Longchamp, sempre em julho, no auge do verão europeu (apesar de que neste ano o clima estava mais para primavera).
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Veja nos destaques do Instagram do Festivalando detalhes do Lolla Paris
Lollá Parri
Quem chega ao Lolla Paris é recepcionado por uma réplica em escala menor da Torre Eiffel. Ela ocupa o ponto central do festival, e assim como a original, pode ser vista à distância dos vários pontos do hipódromo. Com o mesmo tom cobre da estrutura erguida no Champs de Mars, à noite ela se colore de luzes vermelhas e azuis, em alusão à bandeira francesa.
A presença do símbolo supremo de Paris dentro do Lolla é um marcador aparentemente óbvio e fácil para caracterizar o festival francês. Mas é também poderosíssimo, pois não há imaginário que conceba Paris sem a torre.
E acaba sendo único, pois nenhum outro Lolla se vale do mesmo recurso de cartão-postal para ambientação, e enquanto tantos outros festivais consolidaram a roda-gigante como um cenário clichê para uma selfie, só o Lolla Paris tem direito de usar o clichê da torre para tanto (obs: não há roda-gigante nem qualquer outro brinquedo no Lolla francês).
Les chefs
Mesmo assim, há outros elementos que afrancesam o festival e o tornam particular. Um deles é a presença de chefs franceses que cozinham pratos especiais dentro do festival, fazendo assim com que o Lolla Paris incorpore um dos traços que distinguem a França internacionalmente, que é sua gastronomia.
A área designada para isso é batizada de Lolla Chef, e atrai grandes filas, a ponto de alguns pratos do menu se esgotarem, dada a alta demanda (não considero que se compara ao Chef Stage do Lolla Brasil, pois o foco em Paris é dar protagonismo aos chefs, que inclusive marcam presença no festival, e não nos estabelecimentos, como acontece em São Paulo).
O prazer da boa cozinha é complementado por bares pensados para dedicar um tempo à apreciação da bebida, com estrutura completa de cobertura, mesas e cadeiras, sendo um deles só de vinhos, outro só de coquetéis e um só de cervejas (este último em uma plataforma com vista para um dos palcos principais).
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Très français
Mas um dos mais notáveis, já que estamos falando de um festival de música, é a presença de grandes artistas nacionais no horário nobre do palco principal. Enquanto, por aqui no Brasil, os artistas nacionais que arrastam multidões são alocados nos dois palcos menores ou se apresentam durante o dia nos dois palcos principais, o Lolla Paris não tem problema de colocar as pratas da casa coladas aos headliners internacionais.
Caso do rapper belga Damso, que foi a última atração antes do Stray Kids, na sexta, e da francesa Aya Nakamura, uma das cantoras mais ouvidas do país, última atração logo antes de Kendrick Lamar, no domingo. Em comparação, no Brasil, para citar alguns exemplos, uma artista do porte de Ludmilla se apresentou no início da tarde antes de um Wallows sem sal no palco principal (2023), e Gloria Groove lotou o Perry enquanto um Libertines já sem expressão a essa altura ocupava o palco principal à noite (2022).
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Mais leveza, menos furor
O Lolla Paris ainda conserva um clima mais bucólico e menos urbano, muito em função de sua localização: o Hipódromo Paris Longchamp, localizado dentro do Bosque de Boulogne. O visual dos estandes de comida, bebida e atividades em geral, mais circense, com cara de fun faire, que deu cara à primeira encarnação do Lollapalooza nos Estados Unidos, nos anos 1990, reforça esse aspecto.
O fato de o Lolla Paris ter um público médio menor que na América do Sul acresenta outra camada à experiência. Foram cerca de 56 mil pessoas por dia, contra cerca de 100 mil por aqui, e isso dá mais leveza a três dias de festival. Há áreas de respiro e silêncio, sem a agitação da multidão, e o resultado é um festival menos saturado. Isso inclui também a experiência de ir e voltar do evento.
É notável também um comportamento diferente de quem vai ao Lolla Paris diante do que o festival oferece. As ativações de marca não são pretensamente mirabolantes e sequer atraem filas; ninguém se importa em acumular copos (pelo contrário, era muito fácil ver gente bebendo cerveja em copos de edições antigas do festival, sendo os mais recorrentes 2017 e 2022); e às vezes basta passar algumas horas sentado na grama sob o céu azul vendo qualquer show e logo ir embora.
Seja pela localização, pelo ambiente, pela organização e layout, pela música e outras atrações oferecidas, tudo pode contribuir para diferenciar um Lollapalooza do outro para que o resultado final seja diferente. No caso do Lolla Paris, é uma combinação de todos esses pontos.
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