Se alguém foi ao Primavera Sound Barcelona pela primeira vez no primeiro dia de shows no Parc del Fórum, no dia 2 de junho, e escolheu somente esta data, há grandes chances de ter saído com a impressão que a estrutura do festival é um desastre. Quem teve a oportunidade de ter mais de uma impressão sobre o mesmo aspecto, porém, entendeu que o primeiro dia foi uma exceção – ainda que a experiência ruim desse dia não possa ser apagada.

Isso porque o Primavera Sound Barcelona começou muito mal, mal mesmo, no quesito estrutura. Tão mal que era difícil acreditar que aquele se tratava de um festival de 20 anos, e um dos maiores e mais importantes no cenário internacional.

estrutura do primavera sound barcelona
Gaelle Beri

O fato é que, na quinta-feira, o Parc del Fórum foi tomado por filas com mais de uma hora de espera nos bares por falta de atendentes e lentidão nos pagamentos, escassez de bebedouros e uma aparente superlotação – segundo a organização, o primeiro dia recebeu cerca de 80 mil pessoas, assim como o segundo dia; o terceiro dia teve público de 60 mil pessoas.

Combinados e somados ao calor daquele dia, esses problemas tornaram o retorno do festival uma decepção para muita gente.

O público foi às redes sociais e reclamou pesado, sem aliviar para a organização. A resposta veio no dia seguinte, com melhoras visíveis nos principais problemas – e o reconhecimento dos fãs, nas mesmas redes sociais, de que o pior havia sido corrigido.

Em coletiva de imprensa no fim do Primavera Sound, a organização explicou que parte dos problemas se deveu à falta de tempo suficiente para fazer testes na estrutura – por exemplo, testes nas redes wi-fi para os sistemas de pagamento.

Nos dias que se seguiram, e no segundo fim de semana, realmente os problemas foram mais pontuais, lembrando que o Primavera Sound tem suas imperfeições, mas não a ponto de atravessarem a experiência toda. Enfim, a segunda impressão foi melhor e foi essa que ficou.

Estrutura do Primavera Sound: ponto a ponto

Na sequência, uma avaliação ponto a ponto de alguns aspectos da estrutura do Primavera Sound ao melhor estilo Festivalômetro.

Line up e programação: programação de shows e atividades em geral

Há um festival em Portugal, o NOS Alive, cujo slogan é “o melhor cartaz sempre”. Pois eu peço desculpas ao NOS Alive porque acho que esse deveria ser o slogan do Primavera Sound. De forma consistente ao longo dos anos, o Primavera Sound se distingue pela curadoria do line up, e em anos mais recentes deu um salto ainda maior ao adotar a política de equilibrar as atrações do ponto de vista do gênero.

Estrutura: banheiros, opções de transporte e pontos de informação

Os banheiros são do tipo químico, inclusive os da área VIP. Um festival desse porte com a estrutura que se tem no Fórum poderia fazer melhor. Os banheiros do Rock in Rio sempre vêm à mente nessas ocasiões. Se nós conseguimos, por que eles não conseguem?

O acesso ao festival é muito simples por transporte público, com estações de metrô e tram a poucos metros da entrada.

A volta para casa tem uma forcinha do festival, tendo em vista que os shows terminam só por volta das 5h ou 6h, enquanto o metrô funciona somente até 0h na quinta e até as 2h na sexta (no sábado ele opera 24h). Como alternativa para a madrugada, o Primavera Sound disponibilizou ônibus gratuitos que vão até a Praça Catalunya, um ponto central de Barcelona por onde passam muitas linhas noturnas de ônibus.

Além disso, o tram funcionou 24h durante todos os dias de festival. Ele não tem a cobertura ampla da cidade como o metrô, mas ainda assim pode ter sido uma alternativa para algumas pessoas dependendo da região de destino final.

Mas a saída do festival em determinados momentos não era das mais tranquilas. Ao final dos shows do principal headliner da noite e em alguns pontos da madrugada, havia um fluxo mais intenso de gente deixando o Fórum, o que rendeu filas e superlotação na espera do ônibus ou na entrada da estação do metrô.

A sinalização e as informações dentro do festival existiam, mas não eram suficientemente abrangentes para a área vasta do Fórum. O aplicativo nem sempre funcionava adequadamente. Orientar-se dentro do festival foi muito mais uma questão de aprendizado pela experiência do que uma orientação com base nas informações disponíveis no local.

estrutura do primavera sound barcelona
Gaelle Beri

Ambiente: segurança, limpeza e conforto em geral

No primeiro dia, a falta de mais pontos de hidratação e a dificuldade de se comprar bebida (incluindo água) e comida, aliado ao grande volume de público, colou em xeque a segurança de um festival do porte do Primavera Sound. Afinal, o quão seguro pode ser estar em um ambiente superlotado, sem acesso adequado a água e comida, sob calor na casa dos 30 graus e sol até as 21h?

Nos dias que se seguiram, como já foi dito, esses pontos mais críticos foram corrigidos, felizmente.
Em termos mais gerais de segurança, a revista na entrada pode ter sido um pouco aleatória (um dia abrem a bolsa e tiram tudo de dentro dela, no outro apalpam os pertences e dão uma vistoria geral), mas não foi displicente.

Com relação à limpeza, chamou atenção a falta de mais lixeiras espalhadas pelo festival, principalmente na área dos palcos principais, onde sempre tem mais gente.

Alimentação: hidratação e venda de lanches e bebidas

Os bebedouros foram um dos pontos mais críticos na estreia defeituosa do Primavera Sound. Só três pontos de água gratuita estavam disponíveis em todo o Fórum, o que não passa nem perto de ser suficiente para a área e o volume de público do festival.

Após as críticas, do segundo dia em diante, esses pontos dobraram e chegaram a seis, mas esse continuou sendo um número pequeno. Pior: não havia sinalização do mesmo e era preciso conhecer bem a área do Fórum e já ter circulado por ela para encontrar com facilidade os bebedouros.

Ao menos a alimentação contava com uma grande praça principal em área coberta, com mesas e cadeiras, além de food trucks combinados com bares em outras áreas de maior circulação de pessoas. Poderia ser ainda melhor se houvesse um número maior de ambulantes circulando pelo público vendendo cerveja (eram poucos) e lanches (não havia nenhum).

estrutura do primavera sound barcelona
Gaelle Beri

Custo-benefício (o festival vale o quanto custa?)

Conversões do euro à parte (abafa essa moeda passando dos R$ 5), sim, o Primavera Sound Barcelona tem um bom custo-benefício. O line up muito bem formulado, da primeira à última linha, e com o recheio extra do Primavera a la Ciutat, é o principal responsável por esse valor que o festival retorna para quem aposta nele.

Quando se passa tantos dias no Fórum, também é possível comprovar o peso justificado da marca Primavera Sound e, mais ainda, sentir e viver a dimensão subjetiva do festival, uma grande responsável, ao lado dos shows, por gerar uma experiência marcante. O Primavera tem alma.

Cabe ressalvar, no entanto, que tudo isso não apaga o fato de o Primavera ser um festival relativamente caro mesmo quando comparado com outros grandes festivais europeus.

Crédito da imagem principal: Sérgio Albert

Veja nos destaques do Instagram a cobertura diária do Primavera Sound Barcelona

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