Não é a primeira vez que a retromania é assunto aqui no Festivalando. A síndrome de obsessão da cultura pop pelo seu próprio passado, conforme definida pelo crítico musical britânico Simon Reynolds em livro homônimo de 2011, ajudou a explicar a realização de festivais retrô como o Replay Festival e o I Wanna Be Tour no Brasil.
Como apontou o texto à época, os dois eventos eram a expressão da tal síndrome no mundo dos festivais, e ela não se limitava ao território nacional. Mas enquanto os exemplares brasileiros, por enquanto, são candidatos a one hit wonders, pois não se sabe se e quando vão se repetir, nos Estados Unidos, em particular, já é possível delinear um nicho consolidado de festivais do tipo.
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O nicho de festivais nostálgicos dos Estados Unidos
R&B, indie, emo. Primeira década dos anos 2000. Os gêneros variam, mas a época foco dos festivais nostálgicos que estão formando um nicho à parte nos Estados Unidos é a mesma. São festivais enxutos, de um único dia e dois palcos — afinal, trabalham com um recorte temporal que limita as possibilidades.
O período de surgimento deles também é semelhante. A virada da década de 2010 para a década de 2020, o distanciamento temporal perfeito para tornar a primeira década do século suficientemente nostálgica.
Não por acaso, por trás desses festivais estão gigantes do entretenimento, com o poder e os recursos necessários para explorar uma vertente de mercado que já se sabe ser lucrativa.
Just Like Heaven, o festival do indie sleaze
Antes que o indie sleaze virasse uma trend do TikTok, muito antes ainda do TikTok se tornar um aplicativo dominante, antes inclusive da pandemia (ou seja, praticamente em outra era), a Goldenvoice, empresa por trás do Coachella e também de sucessos retrô, como o Desert Trip e o Power Trip, criou um festival baseado na nostalgia da cena indie da primeira década dos anos 2000.
Com nome de hit dos anos 1980 do The Cure, o Just Like Heaven é realizado desde 2019 em um campo de golfe adjacente ao estádio Rose Bowl, em Pasadena, na Califórnia.
Os line ups são tentadores, mas com figurinhas repetidas em um curtíssimo espaço de tempo, dada a limitação imposta pelo recorte temporal, como observado acima.
Lovers & Friends, a celebração do R&B e hip-hop
Também nas mãos da Goldenvoice, o Lovers & Friends foca no R&B e hip-hop old school. Ao contrário do colega de cima, o nome orna com o período ao qual o festival se dedica. O nome vem da música lançada em 2004 por Lil Jon & The East Side Boyz, com participação de Usher e Ludacris. Usher, inclusive, é um nome garantido no cartaz.
O festival foi gestado para estrear em 2020, em Los Angeles, com line up pronto e tudo. A pandemia veio, ele precisou aguardar, mas quando finalmente aconteceu foi um sucesso e continua sendo.
Ele teve sua primeira edição, finalmente, em 2022, em Las Vegas, e de lá não saiu, com edições esgotadas desde então, bem como a abertura de um segundo dia de evento para absorver a alta procura por ingressos.
When We Were Young, a prova de que emo não foi só uma fase
O When We Were Young, cria da Live Nation, nasceu em 2017, em Los Angeles, para celebrar a era emo. Só foi retornar em 2022, desta vez em Las Vegas, quando de fato virou um fenômeno, com ingressos esgotados e a abertura de um segundo dia com programação idêntica para atender a demanda.
Em 2024, o festival dá um passo adiante na nostalgia: todas as bandas vão fazer shows com o repertório integral de um disco clássico.
Nas cenas dos próximos capítulos, vamos descobrir se nos anos que estão por vir esses festivais vão seguir adiante ou se vão ser absorvidos pela onda de nostalgia da década seguinte.
Leia também: uma seleção de line ups de festivais dos EUA em 2024
Crédito da imagem em destaque: Alex Moliski via Unsplash
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