Não é fácil para um festival no Brasil sustentar-se por duas décadas. Principalmente se estiver fora do eixo, priorizar a cena independente e não tiver espaço nos grandes veículos nem uma chuva de patrocinadores. Por isso, os 20 anos do MADA, comemorados no último fim de semana em Natal, já seriam o bastante para o festival conseguir o atestado de resistência. Mas ele foi obtido por outras vias também.

20 anos do mada
Luana Tayze/MADA/Divulgação

Resistência do formato: sem firulas, muita musica

Numa época em que o foco de atenção nos festivais é dividido entre a música e mais um monte de coisas – ações de marcas, brinquedos, brindes, instalações e o que mais for possível, o MADA é sobre música acima de tudo. Como costumava ser de modo geral até um tempo atrás e também coerente para um festival cuja sigla significa Música Alimento da Alma, mostrando que a música pode ser o bastante.

A disposição dos palcos é a melhor possível pra quem vai ao festival com esse espírito: um ao lado do outro, o que significa não só música ininterrupta como também a garantia de que não vai se perder nada. E a novidade maior para comemorar os 20 anos de festival foi adicionar um terceiro palco, ou seja, mais música.

Até havia ativação de um dos patrocinadores – uma selfie tirada a 15 metros de altura. Mas era bem discreta, sem atravessar a paisagem do festival, tanto que a mestre de cerimonias que introduzia os shows precisou anunciar a atividade no microfone algumas vezes.

Resistência no discurso de artistas e público nos 20 anos do MADA

Os 20 anos do MADA ficaram marcados pelo forte tom político da imensa maioria dos shows, naturalmente em função do período eleitoral, e também por outras pautas que foram trazidas por alguns artistas. Ao lado do ele não, resistência foi uma das palavras mais repetidas no palco e endossadas pelo público.

Gritos puxados pela plateia ou pelos artistas, mensagens no telão. As manifestações que reforçam a necessidade de resistência e oposição à onda conservadora no Brasil vieram, dentre vários outros momentos, do maracatu da Nação Zumbi, do pop da drag Potyguara Bardo, do indefinível Baiana System e do carnaval eletrônico do Àttoxxa.

20 anos do mada
Luana Tayze/MADA/Divulgação
20 anos do mada
Luana Tayze/MADA/Divulgação

O Franz Ferdinand, que fez o show que todo mundo esperava – uma micareta indie pra sair do chão a cada hit tocado, também deu o recado via Alex Kapranos. O vocalista pediu cuidado com os demagogos que querem dividir o país.

Representatividade e amor

Larissa Luz colocou o foco na representatividade negra, em especial nas mulheres. Falou do poder da mulher negra, trouxe citações a Nina Simone e Elza Soares no repertório (Larissa interpreta a cantora no musical “Elza”), denunciou a violência e o racismo sofrido pelas religiões afro-brasileiras e homenageou os blocos afro da Bahia, sua terra natal.

20 anos do mada
Luana Tayze/MADA/Divulgação

Com um dos shows mais potentes de todo festival no tom e também na performance, Francisco El Hombre reforçou a necessidade e o poder do amor na adversidade. O recado foi seguido de forma irreverente por uma cover de “O Meu Sangue Ferve Por Você”, de Sidney Magal.

Uma edição que já seria histórica pela data em si – os 20 anos – certamente vai ser lembrada no futuro por outras razões também.

O Festivalando é embaixador do MADA e viajou para Natal a convite do festival.

Veja destaques dos shows do MADA e da nossa viagem pro Rio Grande do Norte nos stories do Festivalando no Instagram.

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