O que é um festival em sua essência se não algumas boas bandas tocando em palcos alternados, não é mesmo? Em tempos de macrofestivais atraentes e que se transformam em objeto de desejo tal qual grandes marcas globais, o chileno Fauna Primavera me ajudou a lembrar desse ponto no último fim de semana.

Veja bem, absolutamente nada contra os gigantes, até porque o Festivalando orbita bastante em torno deles em função de um interesse natural e boas experiências. Mas foi bom reforçar a convicção de que iniciativas genuínas e sólidas têm sempre o potencial de entregar muito, não importa o buzz que exista em torno delas.

Ganhe insights

Conheça o relatório especializado do Festivalando sobre o mercado de música ao vivo
descubra

O básico que se basta

O Fauna Primavera é realizado em Santiago, no Chile, desde 2011. Foi a “primeira primavera” dos festivais na América do Sul, bem antes que o Primavera Sound se expandisse para a região. Nesses anos todos, sempre se manteve pequeno, em um formato para não mais que 15 mil pessoas, e também sempre manteve a proposta de ser uma vitrine do indie rock local e internacional.

Focando no essencial de um festival e mantendo a consistência em sua trajetória, o Fauna Primavera oferece um monte de bons shows fazendo o básico: dois palcos com shows alternados sem intervalos, uma distância diminuta entre um palco e outro, não mais que dez atrações por dia. E fim.

O resultado é um festival na medida. A falta de hype e de alvoroço ajuda a manter o foco na música, com poucos estímulos alheios para dividir a atenção. E o tamanho reduzido ajuda a manter a experiência longe da atribulação – e às vezes caos – que inevitavelmente ameaça os festivais maiores.

Bônus tracks

Todos esses atributos já seriam o bastante para que o Fauna Primavera entrasse para o grupo de festivais queridos do Festivalando, principalmente depois de anos cogitando uma viagem até o festival chileno. Mas a edição 2023 teve elementos que deram um sabor a mais para a experiência.

O primeiro foi o line up mais exclusivo. É comum que os festivais da América do Sul compartilhem atrações internacionais para facilitar as turnês na região, mas o Fauna Primavera, com sua trajetória independente, conseguiu a façanha de ser diferentão nesse contexto. Juntou Blur e Pulp no mesmo cartaz, e ainda levou para o Chile Warpaint, Weyes Blood e Molchat Doma.

O segundo foi o cenário. Aos pés das montanhas do Parque Ciudad Empresarial, a norte de Santiago, o Fauna Primavera teve a paisagem como aliada para oferecer um ambiente tão autêntico e bonito quanto sua proposta original, preservada ao longo do tempo.

Não é um festival perfeito, e a análise dedicada do Festivalômetro detalha isso. Mas certamente é um exemplo para lembrar que não é preciso forçar um conceito mirabolante nem um hype para fazer um festival que cumpre com sua função mais básica, que é entregar um punhado de shows alinhados a uma curadoria musical sem ter que passar por uma prova de resistência patrocinada.

Veja nos destaques do Instagram mais detalhes do Fauna Primavera

Crédito da imagem: Fauna Primavera/Divulgação

Deixe seu nome na lista

Receba um email semanal do Festivalando sobre os principais festivais do Brasil e do mundo

Leave a comment