Entre acertos e árvores, foi marcante a estreia do Primavera Sound São Paulo

Esteve mais para inverno do que primavera e teve árvores no lugar de flores. Mas deu bom. Deu certo a estreia do Primavera Sound no Brasil. Tanto que já há quem queira saber as datas do festival em 2023.

Se por um lado o clima de verão  em plena primavera de Barcelona foi substituído nessa estreia em São Paulo por um inverno fora de época, com temperaturas mais próximas dos 10 graus, por outro a atmosfera de ode à música que é característica do Primavera Sound se manteve. O line up, que já indicava em sua maior parte que este é um evento de música para quem tem ouvidos curiosos, se realizou em um espaço em que a música é a protagonista maior, com uma presença notável, mas não agressiva de marcas e ativações.

O cenário ajudou

A estrutura do Anhembi potencializou a identidade do festival e a experiência do público. O espaço intimista do auditório Barcelona, o clima de galpão industrial do palco Bits, dentro do Pavilhão, o anfiteatro nas arquibancadas do Sambódromo e o gramado artificial do palco Primavera trouxeram camadas sensoriais diferentes para a experiência musical. Os banheiros já existentes do Anhembi e o uso da área ampla e coberta do pavilhão para a praça de alimentação deram mais conforto para as longas horas de festival.

E teve o Beck’s. E as árvores do Beck’s

Mas essa mesma estrutura do Anhembi que trouxe pontos tão positivos para a estreia do Primavera Sound São Paulo foi também a que comprometeu o que é mais sagrado em um festival: os shows. Restou uma área de estacionamento para instalar o palco principal, o Beck’s, responsável por acolher as maiores atrações de cada noite. Uma área com muitas árvores na direção de onde foi posicionado o palco, estreita e ainda mais estreitada pela área VIP instalada na lateral direita do palco.

O resultado: visão ruim do palco que recebeu alguns dos shows mais aguardados do festival. A presença incomum de telões fora da pista e a grande quantidade deles – nove, fora os dois corriqueiros em cada uma das laterais – já denunciava que estava claro para a organização que o espaço, de fato, não oferecia a melhor visão. O fato de este ser o palco mais distante do festival só agravou a experiência. Era preciso uma caminhada muito longa para ao final não receber a melhor das recompensas.

Tem explicação? Tem solução?

Nas avaliações que a comunidade do Festivalando fez do Primavera Sound lá no Festivalômetro, o Gregory Soares apresentou pontos elucidativos, como o fato de a área escolhida para o Beck’s ser a única capaz de receber um público de 40 mil pessoas, o que seria o estimado para os grandes nomes da noite. Vale a leitura dessa avaliação e das demais que, no geral, são muito positivas.

Leia as avaliações do Primavera Sound São Paulo

Vida longa ao Primavera, mas…

Com seus acertos e erros – mais dos primeiros, menos dos segundos, o Primavera Sound São Paulo deixa o desejo de construção de uma trajetória longa no Brasil, assim como vimos acontecer na última década com o Lollapalooza, outro estrangeiro que fixou território por aqui. Mas que fique de dever de casa para o próximo ano refletir sobre o seguinte:

• Sem metrô, a volta para a casa não foi fácil para quem escolheu prestigiar o festival até o final; o término dos shows de madrugada não agradou desde a divulgação dos horários e, portanto, poderia ser repensado
• No próximo ano não podem se esquecer de um objeto básico de qualquer ambiente onde há seres humanos: lixeiras, muitas lixeiras, que foram uma ausência muito sentida nesta edição de estreia
• Muita gente que pagou para receber as pulseiras em casa enfrentou fila desnecessariamente no sábado para retirá-las na bilheteria simplesmente porque não foram entregues como deveria; é inadmissível cobrar por um serviço e não cumpri-lo
• A programação do Primavera na Cidade precisa ou ter mais recheio ou acabar mais cedo em vez de ter o último show começando à 1h da manhã de um dia útil para que as noites não fiquem tão vazias; pode ser que o frio fora do comum tenha espantado muita gente, mas é bom lembrar que o clima de férias que se tem na Europa em junho não é o mesmo que se vive aqui abaixo do Equador no início de novembro

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Imagem principal: Divulgação/Pridia