A Neseblod é só mais uma loja de discos e o Inner Circle/Black Circle era só mais um grupo de adolescentes. Não. Espera! Apesar de em partes isso ser verdade, há muito mais na Neseblod e no Inner Circle do que se pode imaginar. Uma pena, porém, é que somente aqueles que frequentavam o local e faziam parte desse grupo poderiam dar melhor dimensão dessa complexa realidade que faz de ambos mais do que eles aparentam ser. Meu rolé na Neseblod serviu para ver um monte de coisas, dentre elas, perceber que o lugar não é apenas uma loja de discos, assim como a Cogumelo, grande gravadora e loja de discos do metal extremo de BH não é também mais uma loja. Ambas não são. E não o são pelo fato de as paredes do local, assim como os seus donos e pessoas envolvidas, exalarem história – a Neseblod records é uma loja que começou em outra parte de Oslo, em 2003. Mas, quase 10 anos depois de sua abertura, a loja se mudou para um lugar onde operou, entre 1991 e 1993 a famosa Helvete. A Helvete não era, desde o princípio, só uma loja de discos. Euronymous (Øystein Aarseth), primeiro guitarrista do Mayhem e grande nome do black metal Norueguês, quando abriu essa loja e selo sabia tudo o que surgiria dela e nela? Talvez soubesse e desejasse, inclusive o que aconteceu a ele mesmo. Talvez não fazia a menor ideia de nada. Corroboro muito para essa teoria – afinal, eram só adolescentes com uma força criativa imensa. Eram mesmo?

Quando a Neseblod se mudou para a Helvete, assumiu mais do que nunca o que já havia começado a fazer: museologia do Black Metal. A loja desde seu início passou a não vender certas raridades, como por exemplo, fitas de ensaio do Mayhem, materiais inéditos etc (a loja guarda, inclusive, materiais raros do Sepultura, Sarcófago e Mutilator, lançados pela nossa Cogumelo Records). Decidiu preservá-las compartilhá-las – e daí surge também a semente para a ideia do Museu do Black Metal, o qual tem como parte do acervo objetos reunidos pela Neseblod, bem como aqueles disponíveis no porão da antiga Helvete – onde se encontra intacta a tag “Black Metal” na parede suja e de pintura antiga, que provavelmente não será tão cedo renovada. E esse porão é, definitivamente, um local de peregrinação para os fãs de metal de todo o mundo.

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Mayhem helvete
Mayhem na Helvete.

Estive na Neseblod duas vezes. Uma no verão de 2014, bem rápido, quando fui conhecer Oslo e a Noruega por um ângulo menos convencional ( e contamos tudo aqui nesse post). O retorno aconteceu durante o Inferno Music Festival 2015 – é parte do festival a já tradicional “visita guiada à Neseblod”. Saem algumas pessoas do hotel oficial do festival, que são acompanhadas por algum entendido do assunto que tenha escrito um livro ou artigo que seja sobre o Black Metal Norueguês nos últimos tempos…para ser sincera com vocês, não faço a menor ideia de quem foi o “guia” desse ano – também estou com preguiça de olhar nos arquivos do Inferno. Dá um google aí 😉 . Essa preguiça é justificável, no entanto: em 2014 fui recebida por uma menina mulher, Ib.. Ela sabia muito mais do que qualquer livro, página, e falava sobre tudo com tanta coerência e articulação que me encheu de orgulho. Mulher. Sim, uma mulher nos apresentou toda a loja e também toda a história do Black Metal. E isso é muito relevante, uma vez que o meio do metal, principalmente o black metal, ainda parece ser um ambiente inóspito para o feminino. E viva a escandinávia e a igualdade de gênero!

Fui recebida na quente tarde de Sábado pela Ib. e pelo Ebbe Magnus. Eles foram muito doces e abriram uma exceção para o nosso grupo: chegamos às 15:55 e a loja fechava às 16:00. No entanto, eles continuaram de portas abertas para nós, por bem mais tempo do que pensávamos que conseguiríamos. Também, eram tantas histórias e tantas trocas de figurinhas sobre os nossos países e nossas “cenas” metálicas…palavra que, aliás, gerou certa cautela na fala de Ib. ” Muita gente não se dá conta de quão pouca gente realmente vive aqui em Oslo. Então, acho difícil ter de fato um espaço para algo que se possa chamar de cena”, brinca, Ib.! Ela ainda completa que, não há, como se pensa, indivíduos que ouvem apenas black metal e andam apenas com pessoas que ouvem black metal. As pessoas são diversas, ouvem coisas diversas e não estão apenas em Oslo. Existe e sempre existiu uma forte relação com a vizinhança do metal escandinavo. E isso para ela é muito natural, afinal, se as pessoas andassem somente com aquelas que ouvem esse tipo de música etc, você teria então uma “cena de três pessoas”.

Ib. não trabalha na loja como empregada. Ela faz alguns turnos como voluntária. Primeiro, porque gosta muito de música, toca e também é interessada em toda essa história. Também tem o lado bom, que ela vez ou outra é presenteada com alguns vinis. Ebbe também estava lá como voluntário, ajudando a amiga em caso de mais movimento na loja. Ambos extremamente carinhosos e simpáticos. Totalmente avessos ao estereótipo do escandinavo gélido.

E esse porão? Perguntei à Ib.. Ela responde ” pelo que eu ouvi, eles costumavam ter até mesmo colchões lá em baixo. Ficavam todos aí no que pode ser comparado a um grupo de meninos, ou como preferirem, o Black Circle. Todos tinham por volta de 17 anos e a Helvete era grande nessa época. Juntos eles criaram não só um estilo de música, mas também suas próprias identidades”. Porém, com sensatez, Ib. pondera que” a adolescência é uma fase, não importa com qual subcultura nos identificamos, em que sentimos a necessidade de pertencimento, de ser parte de algo. Eles eram apenas crianças. Portanto, não vejo porque existir tanta glorificação do Black Circle. Lembrem-se de que eles eram apenas crianças.

Voltando à história da Neseblod, perguntei à Ib. o que ela achava de mais impressionante na loja. Ela disse sem hesitar: ” os dois donos, Kenneth e Grete Neseblod. Eu os admiro pelo trabalho duro e dedicação, especialmente quando toda a música pode ser encontrada online. Administrando uma loja de nicho no metal na pequena Oslo – e tão pequena Noruega, é algo perto do impossível, mas eles continuam a fazer”.

… alguma coincidência com nossa Cogumelo Records em BH, aos queridos João e Patty? =)

A história do meu passeio na Neseblod se confunde com a história de uma amizade com duas pessoas que quero muito bem – nada disso de ” eu tenho um amigo norueguês” virtual. Provamos à nós mesmos que todos éramos de carne e osso e ideias. E quando tivermos oportunidades, nos veremos no Inferno ou em algum lugar da linda escandinávia, ou quem sabe no Brasil, quando eles aceitarem meu convite de ir me visitar nas terras tupiniquins. Obrigada pelo rolé, Ib. e Ebbe!

Compartilho com vocês uma das minhas lembranças desses dois dias: bora dar um rolé na Neseblod?

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