O primeiro disco de rock que sentei pra ouvir de cabo a rabo na vida foi o “Black Album”, do Metallica, emprestado por alguém da escola. Apesar da memória ter permanecido mais de 15 anos depois, por algum motivo um pessoalzinho inglês mais chegado em melodias foi quem mais me seduziu naquela fase de formação musical e o heavy metal acabou ficando pelo caminho. Aprendi com o tempo a abrir os ouvidos pra tudo (e ganhei muito com isso), mas mesmo assim não fui a aluna mais aplicada nas aulas musicais de heavy metal.

Então por que fui gastar dinheiro para passar quatro dias enfurnada no meio da República Tcheca ouvindo a música de Satã no Brutal Assault? Trabalhar para o Festivalando seria a resposta mais óbvia, mas eu poderia ter ido atrás de outro festival. Engrossaria nossa temporada aqui na Europa e a Gra, que gosta e entende do assunto, daria conta da tarefa sozinha.

Mas uma pessoa que se diz melômana estaria sendo contrária à sua natureza se negasse a si mesma essa experiência. Aquele clichê segundo o qual um dos pontos positivos de um festival de música é descobrir bandas novas mostrou ter muito sentido no contexto da metaleiragem e, guiada pela Gra, que conhece a cena, acabei assistindo dois dos meus shows preferidos até agora nessa maratona de festivais: Shining e Combiechrist (assunto para outro post). Senti aquele prazer de estar ouvindo uma banda tocar diante de mim mais que nos Stones (um show obrigatório na vida) e no Arctic Monkeys (que estava muito a fim de ver), ambos no Roskilde. Ainda me diverti horrores com a bricolagem de referências do metal feita pelos suecos do Amon Amarth, um Massacration que se leva muito a sério.

E se no fim de tudo o clichê acima falhasse, ainda assim esses quatro dias teriam me proporcionado alguma diversão. Quanto maior o festival, menos ele aposta só nos shows e no Brutal não foi diferente. No dia em que optei por não ver nenhum show, vi dois filmes e uma exposição de arte. Nos quatro dias, pude conhecer e admirar um ponto turístico da República Tcheca, o forte militar Josefov, onde acontece o festival. Bati papo com um romeno que me deu dicas sobre festivais em seu país.

No fim, até tirei foto fazendo um maloik, os famosos chifrinhos com a mão (acho que preciso treinar mais e abrir menos os dedos). Me senti no direito de posar fazendo o gesto sagrado do metal (e tão profanado por aí) porque depois dessa prova de tolerância e compreensão, meu amigo, você pode me chamar de tudo, inclusive de headbanger honorária, mas nunca de poser.

experiencia_brutal

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