Fogos de artifício brilhando em várias direções no céu enquanto eu andava nas terras do festival à procura da saída para o estacionamento. Foi assim que terminou o Wacken este ano, mas não terminou o Wacken para mim.

Sabe aquele lance das tribos perdidas pelo mundo, tipo as de Israel? Então, quando você chega lá na entrada do festival, sendo um apaixonado por heavy metal, é como se você tivesse reencontrado seu povo que estava espalhado pelo globo. Metalheads de várias partes da Alemanha, Brasil, China, Austrália,Venezuela, México, Dinamarca, isso apenas na amostragem de gente com quem conversei.

Todos achando incrível o simples fato de estar em Wacken, reconhecendo face a face sua comunidade de gosto, pensamento e estilo de vida. Comunidade esta que, defnitivamente, a sociedade não conhece a fundo, ou nao faz esforço para entender.

Estar no Wacken é ver uma das rodas de mosh mais violentas, gigantes e rápidas, mas também ver o cuidado com o outro na hora de ajudar um colega de festival a se levanter de uma queda no mosh pit, ou quando ele parte para o crowd surfing. Todo mundo ajuda a levanter e, se alguém meio baqueado quase deixa você cair, vai ter outro que te abraçará como uma mãe que pega o filho para protegê-lo de uma queda.

Estar no wacken é vociferar as canções do heavy metal, mas também pedir desculpas gentilmente quando se esbarra sem querer, ou conversar sobre música, história e cultura. É ser recebido pelos fiscais das entradas dos shows com um maloik (aquele chifrinho com a mão) e um sorriso no rosto. Maloik que, a propósito, significa eu te amo na língua inglesa de sinais.

Como em todo festival gigante, também se sente muita angústia por não se conseguir ver e aproveitar tudo o que acontece por lá. Foram quase 50 bandas todos os dias, sem contar os demais eventos. Eu mesma me deparei com um dilema bruto: Motorhead e Carcass na mesma hora, lado a lado. Ou então, atrações que na sequência aconteciam em palcos muitos distantes um dos outros, dificultando chegar nos horários de início dos shows.

Ver a Cow Skull pegando fogo e escutar os mugidos emitidos por ela é algo único. Clichês da metal colocados a prova de todo “bom gosto” junto com as peculiaridades da pacata (no resto do ano) e rural Wacken.

Os alemães foram ótimos anfitriões. Todos eles, junto conosco, os convidados, atuamos como platéia calorosa e verdadeira, platéia do maior festival de metal do planeta. Um festival que tinha lugar para todo mundo:fãs de metal da terceira idade , bem como adolescentes acompanhados pelos pais.

Não era fácil ver as pessoas empacotando barracas, indo embora do camping. Eu não queria ir embora dali. Perdida olhando fogos no céu, o caminho do estacionamento volta a aparecer. Eu saía da terra do metal, sem querer. Dizendo com todos os votos de sucesso um “até breve, Wacken!”.

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