Eu nasci no ano que o Jeff Walker resolveu formar uma banda para falar de sangue, morte e apodrecimento. Com oito anos de idade, quando lançaram o Heartwork, eu era apenas público da Mara Maravilha. Mas foi com 14, depois da minha transição entre hard rock e metal que essa arrebatação musical chegou às minhas mãos. Desde então sonhava enlouquecidamente em voar de um lado para o outro e bater cabeça freneticamente ao som das minhas preferidas daquele álbum. Foi só chegando aos trinta que quase realizei o sonho por completo. Quase, pois a primeira vez em que vi o Carcass acabou sendo no meio de uma plateia dinamarquesa…
O que posso dizer sobre a atuação da banda? Magnífica! Tanto os clássicos como as músicas de trabalho do cd atual, Surgical Steel, que não deixa nada a desejar com relação aos demais. Quando começaram com Buried Dreams, música do Heartwork, achei que a plateia ia se levantar. E seguida de This mortal coil, pronto, fui ao delírio… Mas nada levantava aqueles defuntos que se dizem descendentes de vikings! Jeff então sem paciência, perguntou se a galera tava a fim de escutar RnB, e educadamente deu um foda-se, e disse que tinha que tocar 75 minutos e o problema é de quem tinha que assistir e não estava gostando. Concordei com o Jeff. Que as múmias voltassem para as suas barracas e fossem brincar de stop mosh.
A impressão que ficou era de que não existem headbangers verdadeiramente entuasiasmados no reino da Dinamarca, ou de que o Carcass não deveria ter sido colocado ali naquela hora e naquele lugar. Duas horas da tarde num calor escaldante do último dia de festival, num palco coadjuvante e longe para kct do palco principal. Mas nada disso é motivo para não se curvar diante de uma lenda do metal.
Na grade eu me desdobrava e destroncava meu pescoço. Pulava, cantava. E de vez em quando via aqueles olhos azuis de vários lados me observando, incapazes de compreender a loucura que emanava da minha pessoa. O nome disso para mim não é só loucura, mas é amor. Amor ao metal, sem pose, sem mimimi que tá calor ou são duas horas da tarde. Li algumas reviews de blogs de metal dinamarqueses antes de fazer a minha. O tempo todo os reizinhos da escandinávia colocam a culpa no Carcass por não ter sabido cativa-los. Eu vi mais shows de metal nesse festival e, posso dizer com toda certeza que a culpa não é do Carcass. Nem do Crowd Safety também – afinal, um pouco de desobediência civil faz parte desse gênero musical, por que não? A plateia é mornae ponto final. Mesmo com uma das bandas locais teoricamente aclamada por eles, a Helhorse – banda que tem competência, toca bem, mas não faz nada de empolgante na minha opinião.
Depois de incansáveis cortadas no público insosso dinamarquês, Jeff lembrou a eles sobre o que era a banda, e a influência da mesma em muitas outras que figuram hoje cheias de pose por aí. Ninguém deu bola. Jeff, então, encerrou burocraticamente o concerto: “pronto. 75 inutos. Fiz meu trabalho. Agora podem ir embora”. Fiquei com vergonha, pelo público.
Talvez eu consiga ir para o Wacken, e aí vou ter uma segunda oportunidade de ver o Carcass. E vou honrá-la como da primeira vez, com esperança de ver um público mais animado, sem muita viking bullshit.
3 Comments
Leandro
o publico dinamarques é bem meia boca mesmo. show do Volbeat foi assim, e olha que é a maior banda do país, e eram 10 mil pessoas, e era gravação de DVD ;p