Ao longo da semana de Roskilde Festival, em diferentes pontos do acampamento do evento, ouvia-se no repeat “AM”, mais recente disco do Arctic Monkeys. Num festival onde a música não é o único atrativo, e onde, portanto, o público se mostra bastante desencanado diante da obrigação de ir “uniformizado” com camisetas de bandas, era notável a quantidade de gente com o nome da banda inglesa estampado no peito – as camisetas só rivalizavam em número com as dos Stones.

Indícios claros de que o Arctic Monkeys era uma das atrações mais aguardadas do festival, notadamente da meninada, milhares de dinamarqueses com carinha de bebê que gastaram um sábado inteiro numa fila para ter acesso à área frontal do palco para ver Alex Turner e sua turma de perto.

Com um repertório muito bom, que já apresenta interessantes nuances sonoras após a produção de cinco discos, e nas condições citadas acima, a banda não teria dificuldades em agradar. Mas é provável que a turma do high school dinamarquês, fã mais ferrenha da banda, tenha saído mais satisfeita do show que o público regular. Repito, os Monkeys já colecionam um bom repertório, e um show amparado majoritariamente pelos deliciosos singles de “AM”, em tese, não tem como dar errado. O problema é que o roteiro escolhido pela banda peca em energia e deixa o show arrastado da metade pra frente. Caso da trinca “Fireside”, “No. 1 Party Anthem” e “She’s Thunderstorms” ou da transição de “505”, no fim da primeira parte do show, para “One For The Road” e “I Wanna Be Yours”, no bis. Quando o repertório se desperta desse longo bocejo e volta a ficar elétrico com “R U Mine?”, o show acaba.

~Espetáculo~ à parte é a performance mezzo charmosa/mezzo canastrona de Alex Turner. Ele faz pose para colocar o cigarro na boca, para segurar a latinha de cerveja, para ajeitar os dois fios de cabelo que saíram do lugar com um pentinho de tiozão tirado do bolso e ainda se insinua indiretamente para as menininhas que gritam por ele. Suspeito que antes de entrar no palco ele ouça “Vogue”, da Madonna, para se inspirar. [Cena no camarim: “Strike a pose”, os primeiros versos de Vogue, ecoam em algum aparelho de som. Alex se olha no espelho ensaiando uma pose qualquer. Fim de cena no camarim].

Mas, calma lá, não estou jogando pedras no moço. É ótimo que Alex finalmente tenha descoberto que, além de guitarrista e vocalista, também pode ser um show man ao vivo. Porém, como a descoberta é recente, ele simplesmente ainda erra a mão. É questão de tempo para calibrar as encenações, se ele quiser.

O showzinho particular do Alex e o show de repertório bom e ritmo tedioso do Arctic Monkeys você pode ver no Brasil nos dias 14 de novembro, em São Paulo, no Anhembi, e 15 de novembro, no Rio, na HSBC Arena. Antes disso, você pode ver a apresentação completa no Roskilde no vídeo abaixo.

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