O fantasma do cancelamento de festivais segue rondando por aí. Quem acompanha o Festivalando já sabia que, em 2023, foram muitos os festivais do verão Europeu que precisaram anunciar seu cancelamento. Neste início de 2024, notícias semelhantes estão se repetindo, agora com festivais cancelados no Brasil (mas não só).

Até o momento, três festivais de estilos, portes e trajetórias diferentes informaram que não vão ocorrer neste ano. Embora as razões por trás desses cancelamentos não tenham sido explicitadas em todas as ocasiões, o pouco de justificativa que se apresentou encontra eco no movimento visto nos festivais do lado de cima do Equador no ano passado.

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XXXPerience, MITA e Setembro Negro cancelados

Foi praticamente uma sequência de cancelamentos em uma única semana deste mês: no dia 6 de fevereiro, o XXXPerience anunciou o cancelamento de sua edição de 28 anos. No dia 8, foi a vez do Setembro Negro informar ao público que não ocorreria este ano após 15 edições. Um dia depois, 9 de fevereiro, o MITA revelou que sua terceira edição não ocorrerá em 2024.

O XXXPerience foi bastante transparente no seu comunicado. A produção do festival explicou que uma sucessão de fatores levou ao cancelamento do evento. O principal deles foi a indefinição do local, o que comprometeu a venda de ingressos. A concorrência de outros eventos e o preço alto dos cachês (classificados como “estratosféricos na nota oficial) também pesaram na decisão de cancelar o festival.

Setembro Negro e MITA foram menos detalhistas em seus comunicados. O festival de heavy metal explicou que fará uma pausa para um planejamento que permita ao evento atingir um novo patamar. Mais vago de todos, o MITA se limitou a dizer que precisa da pausa deste ano para encontrar respostas.

Juntando os pontos

Os cachês estratosféricos citados pelo XXXPerience em sua nota oficial como um dos motivos de seu cancelamento já haviam sido expostos ao público pelo Festival Sensacional! há dois anos, quando o evento revelou que artistas passaram a cobrar 400% mais no pós-pandemia.

Sem coincidência alguma, essa é uma das razões para o cancelamento de nove festivais neste ano até o momento no Reino Unido, de acordo com reportagem do The Guardian.

Os custos gerais de produção, para além do alto valor dos cachês, também continuam sendo um problema em 2024, assim como foram no ano passado para os festivais europeus e para os brasileiros, conforme o mesmo Sensacional! e o Sarará afirmaram —  dependendo do serviço, houve aumento de 30% a 200% nos custos.

Amanhã não se sabe

Dentre os festivais cancelados no Brasil neste mês, temos um festival maduro, com quase 30 anos de existência (XXXPerience); um festival independente (Setembro Negro); e um festival feito por duas produtoras, a Bônus Track, liderada por um dos principais empresários do showbizz brasileiro, Luiz Oscar Niemeyer, e a 30e, impulsionada por um aporte de R$ 400 milhões de um fundo de investimento (MITA).

Um festival de música eletrônica, um de heavy metal e um híbrido, com espaço para indie, rock, pop e música brasileira. Eles não poderiam ser mais diferentes, mas podem estar se esbarrando com os mesmos problemas.

O público, parte interessada desse cenário, sente os reflexos no preço alto dos ingressos, na oferta grande de eventos e no serviço com qualidade muitas vezes incompatível com o valor pago.

É possível que o mercado esteja chegando a um ponto em que mudanças mais profundas vão ser necessárias para garantir sua sustentabilidade, do contrário, como ilustra uma já conhecida metáfora, a bolha vai estourar.

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Crédito da imagem principal: Pablo Heimplatz via Unsplash

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