Hoje, no #podcast, vamos tratar de dois assuntos que parecem estar bem ligados: os festivais que deixaram saudade e os problemas dos festivais brasileiros, de um modo geral. Como a gente não queria ficar falando sozinhas, decidimos trocar uma ideia rápida com integrantes das bandas Psychotic eys,Maestrick,Higher e Pop Javali. Todas representadas pela galera do Som Do Darma. Obrigada Suzi e Eliton pela colaboração ;).
O mais interessante é que a contribuição dessas bandas é que nos fez perceber o quanto a extinção de alguns festivais pode estar ligada aos modelos de organização que prevalecem aqui no Brasil.
Os festivais que deixaram saudade
A gente se lembrou de alguns aqui no #podcast, mas provavelmente vocês vão dizer sobre vários outros. Sentimos saudade até mesmo de festivais que não fomos, como é o caso do Free Jazz, que era transmitido pela MTV e fazia a gente ficar babando por ele. Nesse caso, a Pri babava muito mais do que eu =).
E quem não se lembra das edições históricas do Hollywood Rock, em São Paulo e no Rio de Janeiro? Neles também nunca fomos. Quando eu tinha 10 anos de idade, lembro que, com frequência era transmitido por aquela emissora de TV do plim plim. Acho que foram nas edições e 93 e 95 do Hollywood Rock que minha paixão por festivais foi despertada. Não só por festivais, mas por gêneros musicais “transgressores”.
Falando em saudade, talvez alguém fique nostálgico ao ver esse documentário que achei. Ritmo Alucinante mostra a primeira edição do festival, em 75. Tá certo que talvez boa parte da audiência do Festivalando tenha que trocar uma ideia com os pais ou avós para saber quem foram Cely Campelo, Raul Seixas e Os Mutantes, os headliners brasileiros do festival.
Hollywood Rock e um tempo que não volta mais
Muito difícil falar que não faz falta um festival que trouxe nomes tão legais de artistas que estavam em seu auge para o Brasil. Imagina ver Nirvana, L7, Alice in Chains, em uma mesmo festival,logo em 93? Stones, Bob Dylan, Supertramp, Pretenders, Page & Plant também já estiveram nele. Ou seja, clássicos absolutos marcando edições dos festivais.
A geração MTV, da qual somos fruto, teve um dos seus primeiros festivais mais importantes. Edições com artistas como Samshing Pumpkins, The Cure, Bon Jovi, Aerosmith, Poison, Red Hot Chili Peppers e por aí vai. Sensacional, não é mesmo? Uma pena ter acabado em função de uma lei que proibia a propagando de cigarros e bebidas. Entendo o ponto de vista da lei. Mas, não posso deixar de dizer, de forma bem egoísta e mimada, rsrs, que as pessoas continuam fumando como desesperadas e morrrendo de câncer. Só que agora não temos mais o HR para ir =(
Fora isso, ainda lembramos muito de festivais como o Live ‘n’ Louder, o mineiro Pop Rock Brasil, o Planeta Terra, SWU, Brasil Metal Union... tem muito festival bom que já não está entre nós. A gente não entende muito bem o por quê. Bom, talvez a gente desconfie…
Por que os festivais desaparecem no Brasil?
Claro que existem jogos econômicos muito maiores por trás da extinção de grandes festivais. Ou até mesmo marcos na legislação, como foi o caso da extinção do Hollywood Rock, devido a uma nova lei de publicidade na época.
Mas, parece que o modelo dos grandes festivais brasileiros está sempre sujeito a essas variáveis econômicas. Os festivais em que todo mundo vai ou que são reconhecidos como grandes, mainstream, estão totalmente nas mãos de grandes grupos de entretenimento. No Brasil, não existem modelos de festivais que foram feitos por fãs e cresceram a ponto de virar um certo negócio. Ainda não há nada parecido com o Wacken e Hellfest.
Por um lado, os festivais menores, feitos por quem curte de verdade, parecem não vingar devido à precariedade da organização. Falta planejamento e de respeito com público e com os artistas. Por outro, quem só vai aos grandes festivais sempre terá uma parcela de ‘culpa’ em não fazer festivais como estes crescerem. Poderíamos começar a construir um meio termo: público e organizadores precisam ceder em alguns pontos.
Problemas recorrentes em festivais brasileiros de metal
Na conversa com a galera do Psychotic eys,Maestrick,Higher e Pop Javali, eles detectaram muitos pontos em comum na experiência das bandas que atuam no underground. Os festivais estão cada dia menos preparados para receber as bandas. Por exemplo, ainda faltam coisas básicas como um camarim, onde os caras possam se preparar, trocar de roupa, ou descansar minimamente depois de um concerto.
Há também muitos problemas em organização de horários e grades de apresentação, problema com preços de ingressos, e até mesmo a insistência na repetição. Um monte de bandas novas que surgem e não ganham visibilidade por conta da repetição de veteranos.
A realidade dos festivais brasileiros de metal pode mudar?
Nossa bola de cristal otimista quer acreditar que sim. Mas, diante da realidade que se coloca pessimista aos nossos olhos, achamos um pouco difícil. O modelo de negócio de festival está nas mãos das grandes corporações. Elas conseguem manter uma estrutura grande e por vezes “gourmetizada” que atende à cultura criada entre os fãs brasileiros que querem as coisas já prontas, e fáceis, tipo comida de microondas.
Somente essas grandes produtoras têm conseguido entregar o pacote de festival ‘lineup estrelado+ ótima estrutura’ atualmente. O que foi construído em outros países não surgiu necessariamente assim. Mas a conjuntura e cultura desses outros países é diferente. Aqui, parece que a coisa só funciona com o modelo de negócio atual.
Pensamento capitalista de negócio é importante, mas não basta para um grande festival
Porém, as grandes corporações não necessariamente vão conseguir criar festivais que tenham uma “aura” para os fãs mais dedicados ao metal. Pois elas sempre estarão de olho nos hits e nas tendências. Não há nada como um Wacken e Hellfest no Brasil, pois não há um mercado preparado para isso. Ainda não parecer existir um projeto claro, que reúna bandas underground, grandes nomes, clássicos, e até os hits em um lugar só.
Se um festival é visto só como negócio, sem qualquer pitada de paixão, isso também não vai garantir a continuidade dele. Ele vai estar muito mais sujeito às intempéries do mercado do que à vontade de fazer a coisa acontecer, criar uma linearidade e vínculo com os fãs. Daqui a alguns dias, talvez tenhamos que atualizar esse podcast e post para acrescentar mais nomes na lista dos festivais que deixaram saudade…
No mais, vem ouvir esse #podcast com a gente para render melhor essa discussão. E coloca aí nos comentários quais são os festivais que te deixaram na saudade!
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2 Comments
Renan
Vou fazer aqui um comentário grande. Como já dizia um certo cara: vamos lá? Eu comecei a frequentar shows e festivais a partir de 2005, pois nessa época eu já comecei a trabalhar e a ter din din pra poder me virar. Na questão de festivais nacionais, eu posso dizer que Goiânia Noise(GO), Porão do Rock(DF) e Abril pro Rock(PE) são os que vem tendo uma identidade mais forte e duradoura com seus fãs, sem falar no Planeta Atlântida(RS), que trouxe até The Offspring no festival. Eu tive a oportunidade de ver Muse, em 2008, pela primeira vez, no Porão a 15 reais, que isso! Ainda teve Suicidal tendencies, que não fui, na noite anterior. E nos dias atuais são os festivais brasileiros mais longevos que ainda conseguem se virar, mesmo com toda a dificuldade de se arrumar patrocínio e até trazer bandas internacionais. Pra se ter uma ideia, o porão já teve bandas como Muse, Suicidal, She Wants Revenge e Eagles Of Death Metal. De festival só de bandas nacionais mainstream e independentes, eu acho que o Goiânia Noise ainda consegue a cada ano manter a sua identidade própria. Mas temos outros em Goiânia crescendo, como o Bananada e o Vaca Amarela, fora o Festival do Sol(RN), que a cada ano vem se firmado como um festival nacional de qualidade. De festivais internacionais, não tem como não lembrar do Hollywood Rock de 1993, que sem dúvida foi um dos mais fodas até hoje, principalmente pela onda Grunge que estava no auge, só faltou o Pearl Jam para completar o pacote. Só uma curiosidade: houve apenas um Hollywood Rock todo nacional em 1975. A partir de 1988, as bandas internacionais começaram a pintar no HR. O festival Rock In Rio foi quem impulsionou para que isso pudesse acontecer. O festival duraria até 1996, por causa dessa questão das marcas de cigarro não patrocinarem mais os eventos esportivos e musicais. Teve o Free Jazz Festival, que trouxe um monte de cantor lendário e bandas alternativas como Bjork, Cake, Neneh Cherry, Macy Gray, Kraftwerk, Massive Attack, Fatboy Slim e, claro, Sonic Youth. Acabou pelo mesmo motivo do Hollywood Rock. Depois tivemos o Tim Festival, que trouxe gente como Daft Punk, The Strokes, Arcade Fire, The National, Kings of Leon e Convinience, Yeah Yeah Yeahs, The White Stripes, Tv on the Radio, Patt Smith, The Killers, Arctic Monkeys, entre outros. Uma pena que acabou! Aí tivemos o lendário e cultuado/hype Planeta Terra, que durou até 2013, mas trouxe Suede, The Jesus and Mary Chain, Iggy Pop, Sonic Youth, The Offspring, Blur, Primal Scream e etc. O Planeta Terra foi um dos festivais que poderia ter continuado, até pelo fato de reunir bandas indies old school, que raramente passavam por aqui e que, se tivesse rolado um pouco mais, poderíamos ter My Bloody Valentine, Portishead, Weezer e outros nomes que só aparecem em festivais europeus como Glastonburry e Primavera Sound. O SWU foi um dos festivais que eu cheguei a me planejar, mas recuei de última hora e me arrependo até hoje. Era um festival que, se tivesse continuado, tinha tudo para ter se tornado nosso Primavera Sound, Leeds/Reading ou Rock am Ring/Rock in Park. Rage Against, Faith no More, Linkin Park, Queens of the Stone Age, Black Rebel Motorcycle Club, Ash, Peter Gabriel, Lynyrd Skynyrd, só para citar alguns. Mas pena que essa questão ambiental deles bem demagoga não deu certo e outros fatores também como a própria logística e a segurança do local, deixaram o festival bastante exposto a críticas bem negativas. Eu também não deveria deixar de lembrar das edições de 1995 e 1996 do Monsters of Rock. A de 1995 trouxe Paradise Lost, Megadeth, Ozzy Alice Cooper e Faith no More. A de 1996 trouxe King Diamond junto com Mercyful Fate, além de Iron Maiden, Motorhead, Skid Row, Biohazard, Helloween e Raimundos. Teve também a edição de 2005 do festival Claro q é Rock, que trouxe Flaming Lips, Iggy Pop and The Stooges, Nine Inch Nails e Sonic Youth. Neste ano eu já estava trabalhando, mas não me planejei para poder ir ao festival. Teve um pequeno festival que quase ninguém lembra, chamado Curitiba Pop Festival. Este evento reuniu Weezer( até hoje, seu único show no Brasil), Mercury Rev e Raveonettes. E para encerrar, ainda teve o Rock In Rio de 2001, que na minha opinião foi uma das melhores edições já feitas na história do evento. O que dizer de um line com Sepultura, Rob Halford, Iron, R.E.M, Silverchair, Guns, Oasis, Red Hot, Beck, Dave Mattews Band, Neil Young, Deftones, QOTSA, Britney Spears e Nsync? Nem preciso dizer mais nada. Enfim, esses festivais foram os que eu mais achei interessante, principalmente pelo fato que a MTV ajudou a divulgar bastante esses festivais, com exceção da Multishow que fez a cobertura completa das edições de 2010 e 2011 do SWU. Enfim, são bons tempos que não voltam mais, já que a tv a cabo não era tão predominante quanto é hoje e não tínhamos uma internet tão avançada aqui no Brasil,a ponto de deixar as informações facilitadas e ao alcance da nossa mão.
Gracielle Fonseca
Massa, Renan! É verdade. O Porão e o Goiania são sem dúvida importantíssimos. Não são os de heavy metal maisntream, mas contemplam sempre bandas muito pesadas e legais. O SWU e o Monsters também deixaram sdd né. Eu não fui em nenhum deles, não rolava ainda. Mas como a gente concorda, tds esses fests tb rolaram em épocas bem distintas, de uma efervescência musical e de outro contexto midiático. Td isso gera outro tipo de sensação qdo compramos com os fests de hj, e tal.
Massa demais seu comentário. Bjão e valeu!!!