Atenção! Vamos lá… Separou os calmantes? Quem está sempre em busca de informações sobre shows internacionais no Brasil conhece bem estas frases. A esta altura praticamente transformadas em bordões, elas são a marca do perfil do jornalista José Norberto Flesch no Twitter. O também editor do jornal Destak é um dos usuários mais populares da rede social graças às informações em primeira mão que ele despeja diariamente em sua conta sobre a vinda de artistas gringos para o Brasil – informações precisas, certeiras, graças a uma boa rede de fontes e apuração cuidadosa.

Como os festivais sempre abocanham muitas dessas atrações, o Festivalando conversou com Flesch sobre o que está reservado para o futuro dos festivais no Brasil. Não tem nenhum exercício de adivinhação nem visões do Radiohead ou do AC/DC em uma bola de cristal (se você o segue, sabe: “não trabalhamos com especulações, apenas com confirmações”). Mas tem insights preciosos para entender porque os nossos festivais são como são, porque temos um lineup com X e não com Y, tudo isso do ponto de vista de quem é um insider desse mercado.

Leia a entrevista, siga @jnflesch e stay tuned.

futuro dos festivais no brasil

Neste ano o Brasil ganhou três festivais no segundo semestre, o Maximus, o Epic Metal Fest e o Maniacs Metal Meeting. No ano passado vieram pra cá Tomorrowland e Electric Daisy Carnival Brasil. O que o futuro próximo reserva para os festivais no Brasil? As produtoras cogitam criar/trazer mais eventos desse tipo pra cá?
Toda produtora sempre tem em mente um festival. Desde a pequena produtora até a grande, eles sempre têm em mente algum festival, só que nem sempre dá pra arriscar em determinado momento. Por exemplo, um festival teoricamente pequeno agora em Rio Negrinho [Maniacs Metal Meeting] não deve ser tão pequeno porque são três dias, talvez não tenha bandas muito grandes, mas, enfim, é um novo festival. E não é a primeira vez que Rio Negrinho tem festival. Também não é a primeira vez que tem um festival em São Paulo de metal [Maximus], teve o Live and Louder.

São experiencias que as produtoras vão clocando no mercado. Se dá certo, continua, se não dá tenta uma outra. A tendência é que sempre vai se pensar em festival, ainda que não se realize. Sempre vai ter planejamento. As pessoas falam ‘os festivais lá fora podem vir pra cá’. Podem, só que custam caro. Eu não sei se vai chegar um momento em que vai se dizer ‘olha vamos investir e trazer mais festivais gringos’. Pode ser, sempre está na pauta, mas não é tão fácil porque o interesse de lá tem que ser muito grande. O Lollapalooza teve um interesse muito grande do próprio pessoal lá de fora em vir pra cá. Não é só a gente ir lá buscar, tem que ter interesse mútuo.

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I Hate Flash/Lollapalooza Brasil/Divulgação

Qual a principal dificuldade que esses festivais que são experiências encontram para conseguir vingar e construir uma trajetória sólida?
Primeiro é você conseguir fazer com que a conta feche, levar público, trazer as atrações, que nada dê errado. É como um show grande de estádio, que tem que fechar a conta. Se fechar a conta ele foi um sucesso. Se ele empacar, vai decidir se continua com ele ou não. Se ele for um fracasso provavelmente não vai ter continuidade.

Festival gringo é a mesma coisa. Se o Tomorrowland uma hora não conseguir fechar a conta, eles vão repensar. Por enquanto está indo tudo bem, ainda que as pessoas digam que esse ano demorou pra vender. Tudo bem, já não é mais novidade o Tomorrowland. Quando era novidade todo mundo foi e comprou na mesma hora, depois vai vendendo. É assim mesmo, eu acho normal.

Qual a maior dificuldade que os produtores enfrentam para fechar o lineup de um festival no Brasil?
Primeiro, o cachê muito alto, ver se o artista tem interesse, se ele tem data, são vários fatores. Mas eu não vejo dificuldade, às vezes você quer trazer um artista, ele não vem, mas aí você vai conseguir outro. A maior dificuldade é o que você tem em mente – você quer aquele artista, ele não pode, então vai ter que trazer outro.

Conte uma boa história de bastidor de negociação/fechamento de lineup.
O Depeche Mode já estava certo no Lollapalooza e caiu fora. O Depeche Mode tem algum problema realmente pessoal com o Brasil. Há várias histórias rolando sobre uma vinda deles em 1994, alguma coisa que aconteceu nos bastidores que não agradou a banda. Mas eu acho que isso não vai impedir a banda de acabar vindo futuramente. Uma hora eles vão vir.

O Van Halen não vem porque na década de 1980, quando eles vieram, teve várias histórias rolando – sumiu coisa do Ed Van Halen, coisas que não agradaram e a banda acaba ficando com uma imagem negativa. Mas isso não impede que eles venham. Eles dizem ‘esquece isso’, ou ‘a grana é maior agora’. Tem muita coisa que acontece que depois acaba ficando pra trás.

O Rock in Rio abriu uma enquete para saber quais atrações o público deseja ver em 2017. Você tem um tweet fixado no seu perfil perguntando quais artistas seus seguidores querem ver no Lolla do ano que vem. Em que medida, efetivamente, os produtores levam em conta essas sugestões/desejos do público?
Eles gostam de saber, mas não adianta você pedir. Primeiro porque nessas votações entra muito fã clube. Põe um artista e todo mundo do fã clube vota 200 vezes, então nem sempre o resultado da votação é verdadeiro. Todo mundo tenta dar um jeito pra que o artista querido dele tenha mais voto. Mas, de qualquer maneira, é um espelho pro produtor ver. Ele vai ver: ‘esse é o mais querido, mas não dá porque não tem data, não tem interesse ou porque é muito caro’. Não é porque o artista foi mais votado que ele vai vir, mas o produtor está sabendo que é o mais pedido.

Eu não gosto dessas enquetes porque ganha o artista X e quando anuncia o público fala ‘poxa o cara era o mais votado e você traz o outro?’ Eu pessoalmente não gosto. Mas tem mais coisa envolvida, tem departamento de marketing, dá acesso, você coloca a e da acesso no site, no perfil, tem uma movimentação. Mas não quer dizer que o artista mais votado é quem vai pro festival, é ideia. Dos dez mais votados do Rock in Rio alguém vai vir, mas não os dez.

Futuro do Rock in Rio
Marcelo Mattina – I Hate Flash/Divulgação

Tem algum artista que é impossível de trazer pro Brasil hoje? Ou ninguém é impossível?
Ninguém é impossível, sinceramente. Eu acho que ninguém. Não consigo pensar em nomes que nunca vão vir pro Brasil. Tem nomes difíceis. O The Who é muito caro, não sei se tem um público que vai fechar conta aqui, acho que vai ser muito difícil alguém investir nisso, é muito perigoso. Mas não que a banda não queira. Dá pra trazer, só que é perigoso.

Não existe uma lista dos artistas que não podem vir, dos que nunca virão. Existem os que são mais difíceis e os que não são tão difíceis. Normalmente quando o artista já veio e teve uma boa experiência, ele quer voltar. Tem artista que veio, não deu lucro, o produtor não quer mais trazer, mas ele quer voltar. Aí ele facilita. Da segunda vez ele cobra um pouco menos, ele quer voltar e acaba vindo.

Que análise você faz do cenário de festivais que temos hoje no Brasil?
O Brasil é um mercado muito forte pro show business. Esse ano a gente está concorrendo pesado com a Argentina. Tem muitos festivais, está muito forte. Se o Brasil está forte em festivais e Argentina forte em festivais, você tem um mercado sul-americano forte. Você pode fazer um festival lá simultâneo aqui, um festival aqui com alguns artistas lá e vice-versa. Tem festival lá que não vem todo mundo pra cá, mas alguns artistas vêm. Você tem um foco que é muito grande, não é só o Brasil, é Argentina, Chile, Colômbia – que agora vai ter Lollapalooza. A América do Sul cresce.

Falam da crise, mas é um mercado, tem que olhar o mercado como um todo e é um mercado que está sempre crescendo. Em nenhum momento nesse últimos anos eu vi diminuir. Diminuiu assim: uma cidade tal tem menos show que a outra. mas a outra passou a ter. Tem gente que me pergunta: ‘por que o Rio saiu da rota?’, ‘por que Porto Alegre saiu?’, ‘por que Brasília?’. Não tem show porque os últimos shows não foram muito bem, saiu da rota e vão testar outras cidades, vão ver como está Recife, por exemplo. De uma maneira geral o mercado está crescendo. Se uma cidade está tendo menos show que a outra não é porque o mercado está diminuindo.

O que falta aos festivais brasileiros?
Falta mais festivais. Os países de primeiro mundo têm muitos mais festivais que a gente, e aí você tem muito mais opções. Mas ainda fico um pouco temeroso se a gente teria dinheiro pra ir em tanto festival. Aqui tem coisas peculiares, a coisa da meia entrada, que o produtor alega que tem que aumentar muito o preço do ingresso. Na comparação com o primeiro mundo você vê que entra imposto, que é diferente; a cobrança de direitos autorais é diferente. Seria legal ter um cenário ainda melhor, mas ainda temos entraves que não dependem do produtor; é lei.

Mas a parte de estrutura tem melhorado, a parte de conceito também. Já temos um conceito do Rock in Rio, o Lollapalooza é conceito que vem de fora, agora tem um festival de metal [Maximus] que não é como o Monsters nem super moderninho, está no meio. Estamos criando conceito.

Agora a parte de expansão dá uma travada quando chega na parte burocrática, mas estamos indo bem, contornado. Tem festival. Mesmo que um não seja realizado, tem outro. O mercado está crescendo. O show business sempre foi muito bem desde que pegou embalo. E não adianta olhar só o Brasil, tem que olhar Argentina, Chile. Se os caras estão bem lá dá pra crescer aqui também. São reflexos.

guia tomorrowland brasil 4
Fotos: Divulgação Tomorrowland Brasil

Qual o melhor festival que o Brasil já teve, na sua opinião?
Eu ainda acho que o Rock in Rio é o melhor e maior festival do Brasil, pelo tamanho dele, das atrações, foi o pioneiro. A existência do Rock in Rio é ele como grande líder lá na frente e vem um monte de gente atrás e isso vai expandindo. Eu não vejo um festival tão grande como o Rock in Rio. O Lollapalooza, pra mim, é bem menor que o Rock in Rio, ele seria o segundo maior. O legal é a expansão da coisa. O Rock in Rio abriu um conceito, a ideia de ‘vamos fazer festival no Brasil’.

O que está na pauta para 2017?
Como eu te falei, toda produtora pensa em festival. Agora tem o Maximus, que é uma experiência. A gente tem primeiro que saber se ele vai dar certo pra ver se tem continuidade ou não. Se ele der certo, provavelmente vai ter no ano que vem ou no máximo em dois anos. O Monsters, por exemplo, não tem regularidade, tem ano que tem, tem ano que não tem. O problema nesse caso às vezes é o artista que não está disponível, a época que não está legal. O Maximus é uma grande experiência. Vamos ver o que acontece. Se der certo, provavelmente vai ser repetida, a gente não sabe se vai ser 2017, 2018. Porque se for fazer o Maximus em setembro do ano que vem, vai ter Rock in Rio também. Vai fazer esses dois festivais? De repente é mais interessante fazer em 2018 do que fazer no mesmo mês do Rock in Rio. São coisas de mercado que vão ter que ser estudadas.

Quanto a artistas não dá pra dizer nome, mas todo artista grande que estiver em turnê e disponível em 2017 com certeza vai ser sondado pelo Lollapalooza e pelo Rock in Rio. Sondado todo mundo vai ser. Igual eu te falei, não existe artista que não pode vir. A não ser que o produtor se esqueça dele. O artista em quem o produtor tem confiança e que todo mundo quer ver, se estiver disponível, vai ser sondado em 2017 pros dois grandes festivais e pros outros também, ou pra um show solo.

A melhor ideia é a noção do mercado geral. Tem festivais na Argentina, no Brasil e olhando o mapa da América do Sul tem um foco grande de show business. O mercado dos festivais está crescendo. E ainda que não tenha mais um certo festival, por outro lado tem outro. Não tem essa de a gente tinha dez festivais, caíram cinco e ficamos com cinco. Caíram três e ganhamos mais três. Estamos em expansão, assim como o mercado de shows solo.

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