*Texto sobre a estrutura Graspop feito em colaboração entre Gracielle Fonseca e Sandra Nunes, leitor@ festivaleir@ e enviada especial do Festivalando.

Guardadas as devidas proporções, no sentido estrito da lama, parece que o Graspop Metal Meeting é uma versão belga do Wacken Open Air, que quando está molhado também fica caótico. Criado há 20 anos, este festival ainda tem muitas arestas para limar, especialmente no que toca à preparação para lidar com algumas condições meteorológicas. A avaliação da estrutura Graspop de festival passa, de forma imprescindível, pela capacidade da organização em lidar com os percalços causados pelas fortes chuvas que acometeram a área do festival. Temos consciência do peso dessa questão sobre a nota, mas também é preciso admitir que os belgas possuem uma estrutura muito boa e estão no primeiro escalão dos festivais europeus, sem dúvida alguma. São seis palcos, sendo dois deles bem grandes e com ótima qualidade de som, o Marquee, Metal Dome e Classic Rock sendo três palcos cobertos e por isso muito convenientes para a situação meteorológica desastrosa que sempre acomente o festival, e um placo menor, o Jupiler Stage.

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Desde a nossa chegada que estávamos a começar a desanimar e a arrependermo-nos de termos vindo para o evento, mas à medida que os concertos e a grande maioria de pessoas simpáticas que fomos conhecendo aqui e ali nos foram amenizando esse desânimo e arrependimento inicial, logo nos apercebemos que havia alguma fórmula secreta para conseguirmos enfrentar as nuvens negras que nos perseguiam, se não podes vencê-los… junta-te a eles e foi o que fizemos!

Vamos então avaliar o Graspop segundo uma série de factores essenciais num festival, de maneira a que possamos ajudar-vos a organizar a vossa viagem para uma das próximas edições, prevendo os diversos problemas que podem surgir pela frente:

Transporte

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Existem boas conexões desde todos os aeroportos da Bélgica, com viagens de comboio até Mol, fazendo mudança em Antwerppen-Brechen. Mol é a localidade mais próxima da vila de Dessel, onde se realiza o Graspop, e é a partir da estação de comboios de Mol onde se apanham os free shuttle busses, assegurados pela companhia DeLijn, para a zona do festival com duas paragens no percurso, uma no Metal Town (uma espécie de camping especial com diferentes tipos de acomodações para os festivaleiros, por exemplo, o Festihut é uma cabine com dois ou mais lugares para festivaleiros que optam por não levar tendas e preferem algo mais requintado e cómodo que um simples Festitent); e outra próximo da entrada do festival, pois os pontos de localização ficam longe uns dos outros e damos o exemplo do local onde fomos levantar as nossas acreditações, um edifício localizado num complexo desportivo que ficava a 3kms dos pontos de levantamento de convites, entradas VIP e entradas normais na entrada principal do festival…não seria mais simples reunir também uma banca para estes serviços de imprensa ao lado dos pontos já referidos ?? Poupava-se tempo e esforço.

Informação – é insuficiente porque nem todas as pessoas nos conseguiam explicar onde ficava determinado sítio, apenas uma ou outra conseguiram ajudar-nos.

Informação

Em geral, o festival possui bons canais de comunicação com seu público. O site é um dos mais claros e mais bem construídos dentre o de vários festivais de metal, com informações precisas em três línguas: holandês, francês e inglês.
Além disso, também existe um aplicativo do festival que é muito bem feito e um guia impresso vendido na área do festival – deveria ser distribuído, na verdade. Mas conta como ponto positivo, ainda.

As informações presentes na área do festival são relativamente boa para algumas coisas, mas para outras nem tanto. Por exemplo, deveriam ter sido colocadas mais placas de localização dos vários pontos do festival não só dentro da área envolvente mas principalmente na área circundante, especialmente para quem vem de Dessel, pois encontrámos automobilistas no caminho de regresso do local onde levantámos as nossas acreditações a perguntarem-nos pela direcção do festival.

Hidratação e comida

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É razoável na área do camping, com torneiras disponíveis na zona destinada aos banhos e WCs. Também é muito bem sinalizada e com áreas amplas, para atender um grande número de pessoas. Porém, não se pode entrar com garrafas cheias com água na área de festival, nem mesmo vazias com a tampa, o que dificulta o reabastecimento, às vezes. Isso conta ponto negativo, uma vez que nos força a comprar um recipiente novo todas as vezes. Também não é nada ecológico.

A alimentção é variada, porém, extremamente cara, assim como as bebidas adquiridas dentro e fora da área do festival (referimo-nos à zona do camping), pois as compras de alimentos e bebidas eram feitas mediante o pagamento por “tokens”, a moeda do festival, obrigando os festivaleiros a deslocarem-se aos dois únicos pontos de ATM para levantarem dinheiro e assim comprarem os tokens necessários nas máquinas de venda automática, ainda que algumas aceitassem pagamento a dinheiro, a maioria só aceitava mesmo pagamento por cartões e cada token custava à volta de 2,75, imaginem então pagar 6€ por um hamburger e 6€ por um pacote de batatas fritas, isto para não falar das bebidas. Contudo existem ainda umas roulottes de “comes e bebes” próximo da entrada do festival com preços mais acessíveis, de acordo com as opiniões que conseguimos recolher junto de alguns festivaleiros amigos. Saíu-nos mais barato e prático trazer comida com antecedência ou irmos ao supermercado em Mol e Dessel – fizemos boas comprar no Carrefour em Dessel, onde existe um ponto de ônibus do festival em frente, inclusive.

Entretanto, havia muitas tendas, entre elas vegetarianas, com opção de comidas típicas como as batatas fritas belgas, e também deliciosos wafles. As opções que davam mais “sustância”, por assim dizer, eram sempre da culinária italiana. Os hambúrgueres e sanduíches eram muito pobres e pouco saborosos para o preço que era exigido. As batatas belgas com bastante molho acabaram sendo uma boa opção para a hora que batia a fome no festival.

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Foi legal também encontrar boas cervejas, como Jupiler e Leffe lá dentro – contudo, essas eram no mínimo duas vezes mais caras do que dentro do supermercado. Mas já sabemos, essas são as regras de festival.

Limpeza

É insuficiente na medida em que não vimos muitas pesspas a recolherem garrafas. Por exemplo, se as mesmas tivessem depósito de retorno, seria mais rentável e económico para todos; os WCs não eram limpos apesar de serem disponibilizados rolos de papel higiénico com regularidade. Tudo bem que quando chove, fica um lamaçal por todos os lados, mas a estratégia de colocarem serragem e cascalho não parece funcionar, pois para além de dificultar a passagem em vários pontos críticos das áreas do festival e camping, não ajudou na chegada e partida dos festivaleiros que vinham carregados de malas, tendo a grande maioria sofrido imenso, não só de cansaço devido ao peso das suas cargas, como de perderem acessórios das suas malas, mas também verem as suas tendas ou carrinhos de compras destruídos. Talvez as condições nos terrenos seriam melhores se fossem colocadas placas de relva sintética com pedra de brita por baixo.

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A área de dentro do festival era mais limpa do que a área de camping, o que já era esperado. Porém, o camping estava realmente em condições ruins, com muita lama fétida e ainda com o cheiro forte das madeiras colocadas para tentar conter a lama.
No segundo dia de festival a organização tentou colocar algumas placas de madeira e ferro ao longo do festival, para tentar facilitar a passagem das pessoas de um área a outra. No entanto, essas placas foram insuficientes para o tamanho do festival.

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Conectividade

Fraca no primeiro dia, acabou por se tornar razoável nos dias seguintes, principalmente dentro dos palcos cobertos e das proximidades dos mesmos. Sem dúvida, é uma das melhores conectividades de todos os festivais em que já estivemos, pois atendeu bem em quase todos os dias, sem panes muito significantes.

Segurança

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É muito boa, desde o primeiro dia que tem sido cumprida de forma rigorosa na entrada principal do festival, nas entradas e saídas do recinto do festival e prestável durante os concertos, temos visto com regularidade segurança a patrulhar o camping, se bem que a divisão do mesmo deixe bastante a desejar, especialmente na área do Festitent, onde ficámos razoavelmente instaladas, (foram montadas mais de uma centena de tendas para festivaleiros que optaram por não trazer tenda por razões práticas e económicas, essas tendas deveriam ter cobertura dupla no seu todo e não apenas em cima porque entra água nas partes laterais, pudemos confirmar esse facto durante a madrugada, quando arrefecia mais), pois qualquer festivalzinho sem reserva no Vestimenta poderia instalar-se nessa área, falta mesmo uma divisão correcta deste espaço.

Como referimos no início, em 20 anos de Grampo, ainda há arestas por limar e bastantes condições por melhorar. Apesar do descontentamento inicial, vimos que logo o caos foi ordenado e o festival seguiu da melhor maneira possível. Gostamos da experiência e já aprendemos e sabemos como ir bem preparadas para enfrentar esta série de factores negativos, caso se mantenham. Graspop Metal Meeting, até uma próxima edição!

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4 Comments

  • Gilberto Morais
    Posted 6 de janeiro de 2018

    Ola Festivalando! Parabens pelo otimo servico que prestam neste site.

    Gostaria de colocar algumas coisas sobre o Graspop.

    Nao discordando da avaliacao de 2016, que foi mesmo meio caotica devido as condicoes climaticas bem adversas, mas, muita gente que foi somente em 2016 toma essa experiencia como unica, verdadeira e realidade e nao eh bem assim.

    Achei um exagero compara-lo ao Wacken, pois, embora chova praticamente em todos os anos, nunca se forma lama da maneira que se formou na edicao de 2016, que foi uma casualidade.

    Em 2012 teve chuva pesada tambem e foi um caos, segundo relatos, mas muito aquem da ja citada edicao avaliada. De 2013 a 2015 nao foi nem 1% do stress de 2016 e o camping, que foi o mais afetado pela falta de adocao de um plano de emergencia em 2016, estava em plenas condicoes de uso nas demais edicoes. Alias, considero o camping do Graspop em termos de estrutura um dos melhores. havia ate um mini mercado na edicao de 2014.

    Quanto a serragem na rua principal do camping, foi o que segurou a bronca em 2016, pois as ruas paralelas e tranversais estavam um verdadeiro bosteiro. Mesmo fedendo a serragem encharcada, seria muito melhor que a lama acumulada nas demais ruas.

    Nao fui a 2017, mas, parece que foi atipico tambem e nao choveu uma unica vez sequer, contrastando com o ano anterior. Irei este ano apos uma pausa de um ano sem comparecer.

    E o Wacken eh muito pior em relacao a lama, so quem esteve la em 2012 e/ou 2015 sabe que nem a edicao caotica de 2016 chega aos pes quanto a lama. 2002 tambem teve caos e os headbangers tiveram ate que ajudar a desatolar um carro de policia, so pra ter nocao. E quem foi ano passado ao wacken, me disse que mesmo com as obras que fizeram pra melhorar a drenagem, a lama nao escoou como planejado.

    E continuem a prestar este otimo trabalho que fazm. Bons festivais!.

    • Gracielle Fonseca
      Posted 10 de janeiro de 2018

      Obrigada, Gilberto!

      Realmente, como fui ao Graspop apenas uma vez, é importante ponderar sobre a avaliação. Mas fico feliz que tenha o seu comentário aqui, que ajuda a diagnosticar melhor como tem sido o festival ao longo dos anos. A estrutura de camping do Graspop não é uma das piores mesmo não. Porém, achei a solução da serragem meio bizarra. Ainda mais quando vi a solução do Copenhell, de colocar britas no local para conter a lama. Achei que segurou melhor – porém, a quantidade de chuva também foi muito menor do que a do Graspop. Abraços e obrigada pela sua contribuição!

  • Gilberto
    Posted 12 de setembro de 2018

    Oi Graci!

    Eu também fui a edição de 2018 e fico contente de ter escolhido um Airbnb em Turnhout a ter que acampar como nas 4 vezes anteriores, como fizera. Não da nem pra acreditar em superlotação do camping pior ainda que em 2016. Tenho pesadelos daquele camping até hoje, só pra ter uma ideia. Vai vendo!

    Eu fui ao Copenhell 2016 e concordo com a adoção da brita, bem melhor que a serragem. Mas, como você ficou na festtent, você pegou uma parte boa do camping e a serragem não foi nada. Quem saiu das ruas principais para ir nas travessas e paralelas, se f**** legal, era lama que não acabava mais, exigindo a galocha para se virar legal por lá.

    Parabens pelo ótimo trabalho.

    • Gracielle Fonseca
      Posted 17 de setembro de 2018

      Olá, Gilberto! Nossa, eu imagino que você tenha ficado com trauma. Eu conversei com muita gente na época, inclusive dei abrigo a uma amiga minha portuguesa no meu festtent, pq a situação do camping comum estava tensa demais. Que bom que você ficou bem hospedado em Turnhout este ano. É super perto de Dessel, boa opção! E obrigada pela leitura e elogio =* bjão!

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