Quem curte acompanhar o mundo da moda sabe que o calendário da indústria é organizado por temporadas, quando muitas das (possíveis) tendências e novidades são lançadas nos desfiles das grandes grifes durante as principais semanas de moda – Nova York, Londres, Milão e Paris. Ao que tudo indica, dá para adicionar um elemento novo a esse calendário de lançamentos: as coleções de festival.

Progressivamente, mais e mais marcas – as lojas de departamento especificamente (inclusive aquelas que a gente a-do-ra se esbaldar quando viaja), estão lançando linhas de roupas voltada para a moda de festivais. H&M, Primark, Forever 21 e Topshop já entraram na dança. Vi coleções de “festival fashion” nas duas primeiras na Europa no ano passado. Neste ano, a H&M foi mais fundo ainda e lançou uma coleção exclusiva inspirada no Coachella. Free People, Asos, e ShopBop, menos famosas por aqui, também entraram na onda lá nos Estados Unidos. Aqui no Brasil, Farm (já há mais tempo), Dona Florinda, Mineral e C&A chegaram a lançar coleções inspiradas em festivais, mas foi algo pontual. Essa galera gringa aí tem lançado anualmente coleções para festivais.

moda de festivais
Coleção da H&M para o Coachella

É claro que há um olho grande mirando a oportunidade de capitalizar em cima de algo tão mainstream como são os festivais hoje. E como muita gente não só frequenta os festivais como também publiciza isso nas redes sociais, há todo um esforço para sair bem naquela foto que vai registrar a experiência perfeita de festival, e estar bem vestido ajuda muito nesse momento. Pronto, a oportunidade de capitalizar ganhou um impulso maior ainda.

Há uma clara colisão de interesses dos ~capitalistas selvagens~ da moda e dos festival goers ~exibidos~ e não vejo problema algum, há princípio, nessas coleções. Muito pelo contrário, tenho acompanhado o lançamento delas por interesse próprio, e só não comprei um dos shortinhos da coleção da H&M porque não ficou bem em mim. Já comprei roupa nova só porque ia em festival, sim. E fico pensando que roupa vou usar em um determinado festival, sim (a propósito, quanto mais longo o festival, maior o drama).

Além disso, festival exige, em certo ponto, um tipo específico de roupa que seja confortável, funcional e, por que não, bonita? Se a gente se arruma para sair com os amigos ou para qualquer outro evento social, por que iria mulambo para um festival? E sei que em alguns casos ir a um festival X ou Y é um grande momento na vida de alguém (sim, as pessoas sonham em ir para o Coachella, para o Tomorrowland, para o Wacken), e a gente tende a querer estar com uma aparência boa nos bons e grandes momentos da nossa vida.

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Look da Free People saindo um pouco do lugar comum do “uniforme de festival”

O problema é que chega a ser tedioso passar os olhos por essas coleções, de tão repetitivas e padronizadas que são. Viu uma, viu todas. Seria uma ótima oportunidade das marcas acirrarem a concorrência lançando peças únicas e diferenciadas, e que aliassem beleza e funcionalidade (que, como eu disse, é necessário em um festival). Mas o que elas conseguem fazer é apenas construir um dress code limitado a uma combinação de franjas, crochês, jeans e estampas étnicas que emulam um frágil estilo boho-hippie chic. São poucas as propostas diferentes.

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As marcas são diferentes (Asos à esq. e ShoBop à dir.), mas poses e styling são idênticos
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Mais uma vez: as marcas são diferentes (Free People à esq. e Asos à dir.), mas poses e styling são idênticos

E, pra piorar, as tendências candidatas a substituir a coroinha de flor mamãe-sou-fada (outra constante e tediosa repetição na moda d festivais) não são muito animadoras: vi se repetirem em profusão nestas coleções sandálias gladiadoras (até o joelho), kimonos (recentemente estabelecidos no uniforme de festival), camisetas de banda com estampas vintage (como as mostradas acima), leg chains e anklets (bijuterias para as pernas e para os pés).

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Sandália e leg chain da Free People

Se, como ensinou aquela clássica cena de “O Diabo Veste Prada”, nossas escolhas de vestuário jamais são decisões 100% autônomas, pois há sempre toda uma engrenagem por trás do mercado que define até que tom de azul vai para as vitrines, quero ao menos que esse pessoal da muóda de festivais se esforce para tomar decisões primárias mais inspiradas e criativas para eu ter opções mais atrativas.

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