Daqui a alguns dias vão se completar três meses desde que pisei pela segunda vez nas orange lands, vulgo Darupvej 19, 4000 Roskilde, Dinamarca. O Roskilde Festival sempre deixa saudades – por vários motivos que fazem lama no pé, cheiro de vômito misturado a urina e todo o problema crônico da sujeira serem superados, não tão facilmente o quanto se espera, contudo.
Assim como cada experiência de festival é única, falando de um festival para o outro, as edições de um mesmo festival também trazem vivências únicas. Grande parte disso se dá pelo fato de a curadoria de atividades ser bem antenada em trazer projetos diferentes em cada ano, e que conversam de alguma forma com a proposta do festival.
Em 2015 havia mais uma vez uma infinitude de atividades, artistas, intervenções. Mas delas, destaco as três a seguir, as quais me marcaram bastante, mexendo com vários sentidos e com o coração, principalmente.

The Human Library

Jane, Human Library . Foto: Gracielle Fonseca
Jane, Human Library . Foto: Gracielle Fonseca

Esse foi meu livro. Ou melhor, essa é a Jane, dinamarquesa, 63 anos, alcoólatra. Na livraria humana, como o próprio nome já indica, os livros são pessoas que se disponibilizam a conversar com os visitantes por no mínimo 30 minutos.

Os exemplares bípedes ficam circulando no espaço do festival, mais especificamente entre a Art Zone e os palcos. Você chega ao stand da Human Library e acessa uma lista de temáticas literárias. Todo mundo tem um preconceito, e isso é fato. E para cada preconceito havia um livro. Nessa versão do projeto era possível encontrar exemplares como portadores de HIV, pessoas LGBT, feministas, ex-criminosos, viciados de todas as naturezas possíveis, entre outros. Após a escolha do tema é feito um cadastro. Com cartãozinho de bibliotca, com horário de devolução e tudo mais você sai para dar um volta com seu volume.

human book

Escolhi uma alcoólatra. Mas Jane esclareceu que havia 10 anos que ela não bebia nada. No entanto, a mesma disse que sempre será alcoólatra, pois sempre precisará se vigiar. Jane segurou minhas mãos e quis saber porque a escolhi. Contei a ela que, quando pequena, eu ficava me preparando para a morte do meu pai, como se fosse um luto antecipado. Álcool e direção já eram uma mistura bem perigosa na minha cabeça pequenina. Também não entendia o fato de meu pai, com tais problemas, possuir um bar naquela época…

Ela chorou e eu também. Nunca imaginei que pisaria no Roskilde Festival para chorar. Mas naquela tarde foi impossível segurar. Não trirei uma cópia do livro que li, nem vou transcrever. Mas posso dizer que virei uma página. Alccolismo é doença e não sacanagem do alcoólatra com todo mundo. Mas nunca peguei o livro do meu pai emprestado durante a vida dele.

Para saber mais sobre esse projeto sem fins lucrativos criado pelos dinamarqueses para promover a tolerância, você pode ir ao site oficial. O projeto é itinerante e sempre coloca festivais de música em sua rota de ação.

Chesapik – ou a super caixinha de música aberta

engenhoca de musica

Imagine o conceito de uma caixa de música. Agora pense nela em escala maior e com ferragens expostas. Imagine agora elementos inusitados que produzem som no meio dessa parafernália toda, tipo uma máquina de escrever … tudo isso estava reunido nessa máquina chamada Chesapik, que é também um dos instrumentos com os quais a banda espanhola CaboSanRoque se apresenta. Eles fizeram shows muito legais no Roskilde 2015 e, além disso, liberaram a engenhaca deles para a galera poder brincar à vontade, em um espaço montado também na Art Zone.

Essa engenhoca toda é comandada por meio de um tablet, com um software especial chamado conductr. A experiência foi linda porque intuitivamente operei a minha caixinha de som aberta de forma a fazer uma melodia aplaudida no final… até achei que poderia ter alguma utilidade dentro da música… porém, deixa para lá, hahaha

Para saber mais sobre a engenhoca, acesso o site www.chesapik.com e sobre o software, conductr.net

O big brother poéticco

Enccontros, num laboratório de 69 horas de experimentação. No meio da Dream City, uma artista construiu uma redoma de vidro em que havia apenas uma cama, as roupas dela, pincéis para escrita em vidro, conectores de som – microfones para o público externo e fones de ouvido para comunicação. Ela ficaria ali, exposta como numa jaula, com possibilidades de comunicação limitadas durante praticamente todo o festival.

Nana Francisca perguntou “o que é um encontro para você?”, e foram várias pessoas ate lá escrever e interagir. Eu falei que encontro = Roskilde Festival. Mas desencontro também! Vários escreveram sobre amor, outros se desdobraram em chats existencialistas absurdos, e muita gente também escreveu sobre zueira de festival. O resultado das poéticas do encontro com Nana está registrado nesse site, porém, a maioria escreveu em dinamarquês. Mas vale a pena copiar e colar no google tradutor!

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