Teve gente da maior importância pra música hoje (Pharrell), gente que vai ser sempre importante (Plant), gente que bomba aqui e agora (Skrillex) e gente pra matar a saudade, porque hoje o rock não é rock se não for na base da nostalgia (Smashing Pumpkins). Foi um mosaico interessante o line up do quarto Lollapalooza Brasil e eu flanei por essa colagem diversificada de shows, apesar de ter visto a maioria deles nas últimas três semanas nas minhas andanças pelo Estereo Picnic (Colômbia), Lollapalooza (Chile) e Asunciónico (Paraguai).

Fiquei com as seguintes impressões:

Pharrell Williams
Pharrell bigger than rock? Pelo menos no Lolla, sim. O produtor mais que poderoso fez show único na América do Sul em São Paulo e visivelmente atraiu mais gente que Robert Plant e Jack White, headliners do dia anterior. O interesse do público foi retribuído com um Pharrell carismático, que conversou muito com a plateia e fez um momento “os mano, pô, as mina pá”, quando chamou aleatoriamente meninos (inclusive um sósia) e meninas para subir ao palco e dançar com o artista.

O show é deliciosamente dançante, com momento justo de solo das bailarinas que acompanham Pharrell no palco, e, principalmente, é um recorte de parte incontornável da história recente do pop. Pharrell canta hits de Snoop Dogg, Gwen Stefani, Daft Punk, Kelis e outros que ajudou a fabricar para espertamente lembrar a todos: fui eu que fiz.

https://www.youtube.com/watch?v=h0IIVUdK090

Jack White e Robert Plant
O que eu tinha sentido nos festivais anteriores se repetiu no Lolla: os dois shows são fantásticos – Jack White esfrega a genialidade blues-roqueira na cara de todo mundo e Robert Plant mostra que consegue fazer muito mais do que a sombra do seu passado, mas as plateias de rock andam meio estáticas e moribundas, um tanto quanto saudosistas, aguardando apenas o fim do show pra cantar aquele hit empoeirado enquanto os caras lá no palco têm muito mais para oferecer. O resultado é que os shows acabam ficando bem menos interessantes do que deveriam por responsabilidade do público.

https://www.youtube.com/watch?v=g3VVqAf6zmM

Smashing Pumpkins
Fez barulho, muito barulho e eu gostei, mesmo que as distorções e solos de Billy Corgan tenham em alguns momentos durado mais que o esperado. Houve quem reclamasse da falta de uma porção maior de hits, mas os que realmente importam estavam lá. Não, pera. Quase todos, porque “Zero” estava prevista no fim do show, emendada com “Heavy Metal Machine”, mas a banda terminou o show cinco minutos antes do horário marcado com um Billy Corgan visivelmente irritado com o barulho dos fogos de artifício que tiraram o sossego de sua versão leve de voz e violão para “Today”.

Interpol
Esse eu vi só por causa do horário. Queria ver como o Interpol, uma banda com jeitão de hábitos noturnos, funciona em plena luz do dia, às 15h30. Destoou muito do que eu vi em Santiago, quando a banda encerrou a noite em um dos palcos do Lolla Chile, e foi justamente a falta do clima dark que fez a diferença. O show simplesmente não funciona no horário que foi reservado pra banda em São Paulo.

O curioso é que isso tudo me fez lembrar de uma história antiga. Em 2008, o Interpol fez uma turnê pelo Brasil que passou por BH. O Pato Fu foi escalado para fazer o show de abertura e a produção do Interpol proibiu os mineiros de alterarem a iluminação da casa de show para não interferir na iluminação que já estava pronta para os gringos. Resultado: o Pato Fu teve que tocar com todas as luzes da casa acessas, estouradas, sem nenhum efeitozinho sequer. Fernanda Takai explicou a história e se desculpou (sem necessidade, porque ela não tinha culpa) naquela noite. Seria um castigo pro Paul Banks e sua tchurma dessa vez?

Skrillex
Quem segura Skrillex? Mais ainda: quem me segura? Porque eu assisti quatro shows do Skrillex neste mês e simplesmente não consigo parar. Já estou aqui pensando o que vai ser da vida sem um show dele essa semana. De uma tenda eletrônica lá no primeiro Lolla em 2012 para uma multidão louca neste Lolla, o moço dos óculos de nerd fez a transição sem a menor cerimônia e com a maior facilidade. O show foi exatamente idêntico aos outros que vi: mesmo repertório, mesma entrega, mesma energia. Invariavelmente muito bom.

Major Lazer
Eu achava que o show do Chile seria insuperável, mas não se pode nunca duvidar do que Diplo pode fazer. Conhecedor dos nossos batidões, Diplo e sua crew enfiou no meio do show um medley de funks, chamou algumas moças para subir no palco e pronto, estava armado o baile.

Banda do Mar
A observação mais gratificante que fiz foi notar que o pessoal compareceu cedo para ver uma atração nacional. Nos demais festivais que fui na América do Sul, artistas locais chegaram a tocar para apenas dezenas de pessoas, em cenas bem deprimentes. O público brasileiro não só se juntou em número relevante para ver a Banda do Mar como também cantou quase tudo. Destaque para Mallu Magalhães, que com a banda se tornou uma perfomer beeeeeem menos apática e mais agradável.

Pitty
Ganhou um horário bom, mas merecia um tempo maior de palco. Concorrendo com o Foster the People, banda que é bem a cara do público do Lolla, a minha xará conseguiu atrair muita gente e chegou a animar o público mais que o Smashing Pumpkins, que tocaria mais tarde no mesmo palco.

https://www.youtube.com/watch?v=If1JBnL9Cuc

PS: Lolla, precisamos falar sobre fogos de artifício. É bonito ver aquele foguetório encerrando o dia de festival, mas que tal esperar o show terminar para acionar o botão? Não é legal ter que dividir minha atenção entre “Seven Nation Army” e barulho de explosão, nem ver o Billy Corgan desistir de tocar uma das minhas músicas preferidas porque os fogos atrapalharam o show. Música em primeiro lugar, por favor.

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