Adoramos o fato de que vários festivais de música independente têm se consolidado no Brasil. Podemos bater no peito e nos orgulhar que temos o Porão do Rock, Abril Pro Rock, João Rock, entre outros. Minas Gerais também é um estado berço de festivais importantes, como o Indie Rock Brasil, que acaba de voltar! 2016 tem sido um marco para os festivais brasileiros, e a volta do Indie Rock vem dar ainda mais força para o cenário. Contribuindo com a diversidade musical do estado e do país, é o tipo de festival que não pode mais faltar.

Young Lights Hi
Young Lights Hi toca no Indie Rock Brasil 2016

O Indie Rock Brasil surgiu como movimento de oposição ao pop manjado, e por isso, criou espaço para fãs e artistas de uma vertente mais restrita da música independente, composta por bandas de rock que cantavam basicamente em inglês. A primeira edição aconteceu no bar A Obra, casa de palco apertado, quente, com capacidade para 150 pessoas, aproximadamente – mas que teve que fazer caber 1500, público do ano de estreia do Indie Rock Brasil. O ano era 2002, bem na semana do feriado da independência – 5,6 e 7 de setembro (Festival Indie na semana da independência… significa?!). Participaram dessa estreia as bandas mineiras Thesurfmotherfuckers, Moan e Valv, as cariocas Casino e Pelvs, além de Monokini (São Paulo), MQN (Goiânia), Walverdes (Porto Alegre) e Space Invaders (de Pouso Alegre, no interior de Minas).

Em 2003 rolou mais uma edição, dessa vez na extinta casa Lapa Multishow. Ainda apostando na música independente de qualidade, o festival contou com as bandas Violins (Goiânia), ESS (Curitiba), Leela (Rio de Janeiro), da mineira Multisofá e das paulistas Detetives, Borderlinerz e Forgotten Boys. Depois disso, 12 anos se passaram sem que o festival acontecesse. Mas, em 2016, Fernanda Azevedo, mentora e fundadora desse festival super importante ( yuuupiii, mulheres que fazem acontecer, não é mesmo?), decidiu voltar a realizar o evento, como uma forma de comemoração para o lançamento do filme Guitar Days – Uma Improvável História da Música Brasileira, documentário dedicado às bandas brasileiras do Indie.

A edição do Indie Rock Brasil 2016 volta a acontecer na Obra, e também na casa de shows Autêntica, em Belo Horizonte. Serão sete bandas, nas noites dos dias 22 e 23 de abril. Apresentam-se Jonathan Tadeu (BH), Young Lights (BH), Lava Divers (MG), Câmera (BH), Valv (BH), Second Come (RJ), Killing Chainsaw (SP), e também os DJs Gordinho (Pelvs/RJ), Mancha (Casa do Mancha/SP), Maurício (Multisofa), Cris Foxcat (Wannabe). Os ingressos variam entre 30 e 50 reais. Podem ser adquiridos na porta do evento, ou atencipadamente por esse link.

Killing Chainsaw © Caio Augusto Braga (1)
Killing Chainsaw

Para saber mais sobre a volta desse festival tão importante, conversamos com a Fernanda Azevedo, que nos conta como foi fazer o Indie Rock Brasil acontecer, como tem sido a volta do Festival e o que a gente pode esperar do evento.

F: Pra início de conversa, fiquei bem curiosa pelo fato de o festival ter parado por tanto tempo. Afinal, a primeira edição foi um sucesso e toda a onda do ‘do it yourself’ parece tornar as coisas mais possíveis de serem repetidas mais vezes. Assim, apesar de eu não ter acompanhado o surgimento do fest nem as consequências dele, parece que seria natural várias edições subsequentes. Por isso, queria que você comentasse esse hiato de tempo.

F.A.:O Indie Rock Brasil surgiu como um projeto meu dentro da Motor Music, uma espécie de Produtora / Selo / Distribuidora / Loja de Discos, onde eu trabalhava na época. Tivemos uma primeira edição em 2002, na Obra, e uma segunda edição em 2003, no Lapa Multishow. Quando a Motor encerrou suas atividades, em 2004, o cenário já não era muito atrativo para shows independentes. As festas com DJs começavam a dar mais ibope do que apresentações de bandas. E como o custo de se colocar um DJ é bem menor, as casas deram mais ênfase para uma programação voltada para a música mecânica. No fim de 2004 eu ainda participei da curadoria de um projeto chamado Casa Ototoi, que funcionou durante um mês com programação cultural (DJs e bandas) todos os dias. Depois disso eu percebi que precisava criar uma forma de ser independente financeiramente para continuar a trabalhar com o tipo de música que eu gosto. E o que aconteceu foi isso, a partir do momento em que eu me estabilizei, pude retornar à produção de eventos, mas mais como um hobby, através de projetos pessoais nos quais eu não preciso necessariamente ser remunerada. E isso tem funcionado bem pra mim.

F: Fale um pouco sobre você, sentimentos, relações de trabalho, vida, coisas que corroboraram para a vontade de conceber e realizar um festival como o Indie Rock. Uma mulher que concebe e faz um festival acontecer, que tipo de realidade ela enfrenta – preconceitos, dificuldades, ou não?

F.A.:O fato de ser mulher nunca foi uma questão, pelo menos pra mim. Nunca houve nenhum problema em relação ao meu gênero, nem assédio, nem preconceito. O independente sempre foi um meio bastante inclusivo.

Já tive conversas muito interessantes sobre o papel da mulher no cenário da música independente. Quando a Laura Ballance veio com o Superchunk eu aproveitei a oportunidade para agradecer pelo exemplo que ela foi na minha adolescência, tanto na banda quanto na Merge Records. A Peaches passou uns dias aqui em BH com sua equipe, que é formada só por mulheres, e elas fizeram várias perguntas sobre o assunto e me incentivaram muito a continuar nesse caminho.

F:Quando você percebeu que era preciso retomar o festival?

F.A:A retomada do festival aconteceu naturalmente. Eu já vinha pensando em uma plataforma para reiniciar os trabalhos, quando apareceu o documentário Guitar Days, que fala sobre a cena independente dos anos 90 até agora. A equipe do filme veio a BH para algumas entrevistas, inclusive comigo e com meu ex-chefe Jeff Santos. Lá conheci mais sobre o projeto e me ofereci para produzir o show daqui. Esse show, com algumas bandas que fazem parte do documentário, acabou se transformando no que veio a ser o Indie Rock 2016.

F:Nesses anos que separam a edição de 2016 da primeira edição, o que você acha que mudou em BH e na cena Indie em geral?

F.A.:Acho tão complicado falar da cena indie como um todo porque ela engloba TANTAS vertentes, que eu seria injusta. Posso pular essa?

F: Pode, claro =)

F:Sobre a edição de 2016, pq a escolha da Obra, novamente?

F.A.:A Obra é o nosso CBGB. É um dos poucos espaços que ainda incentiva a performance de bandas autorais, assim como A Autêntica. Escolhi essas duas casas com essa mentalidade. As duas são formadas por músicos que realmente acreditam no desenvolvimento cultural e na formação de um público que busca novidades e não se contenta só com banda cover.

F: Em que medida a edição de 2016 dialoga com o passado, para além da casa de show?

F.A:Essa edição do Indie Rock é uma amostra da cena independente brasileira desde a década de 90 até hoje. Você tem o Second Come e o Killing Chainsaw que, na minha opinião, lançaram os discos mais representativos da cena guitar 90′ (“You” de 93 e “Slim Fast Formula” de 94). Daí vem o Valv, de 2000, que foi influenciado por essa cena. E, por fim, o Câmera e o Lava Divers, que surgiram nessa década, e bebem da mesma fonte de todo mundo aí.

Para o primeiro dia do Festival, dia 22, na Obra, tomei o cuidado de escalar um pessoal que representa a nova cena de BH. Teremos o Young Lights, que vem se destacando no cenário mineiro com uma produção impecável e show bem intenso, e o Jonathan Tadeu, que é ligado a um movimento novo que vem conquistando um público fiel no Brasil todo com grupos como o coletivo Geração Perdida (MG), o selo Bichano Records (RJ), a Transtorninho Records (Recife) e a Umbadumba Records (Porto Alegre), entre outros. É bem o que eu queria pra demonstrar o conceito de underground e a relativização de o que é ser bem-sucedido na cena musical.

F:A gente costuma dizer que vários festivais surgem todos os dias, o tempo todo. Uma vez, numa entrevista com o Thomas Jensen, fundador do Wacken, ele nos disse que um festival tem que ter uma alma, algo que o diferencie. Na sua opinião, qual é a alma que o Indie Rock Brasil tem, ou que você quer construir para ele?

F.A.:Acho que para cada pessoa esse conceito varia. Particularmente, acredito que o Indie é o que foi o Punk em outras décadas. É o ‘do it yourself’, independente de dinheiro, equipamento, público, etc… Apesar de difícil, é muito compensador. Principalmente porque as pessoas que vivenciam isso realmente acreditam, colaboram, incentivam. É muito bonito presenciar essa movimentação.

F: Planos? Aumentar o festival, dias, espaço?

F.A.:Vários planos, várias idéias. Na verdade, as coisas acontecem de forma menos planejada e mais de acordo com as oportunidades que aparecem. Meu sonho mesmo seria fazer uma espécie de SXSW tupiniquim, com diversas apresentações de bandas em casas pequenas e um festival de cinema independente. Uma hora acontece.

SERVIÇO
Festival Guitar Days – Indie rock brasil 2016 
★ 22 | 4 . Sexta . 22:00

Ingressos: R$ 30
Somente na Porta
A Obra Bar Dançante
Rua Rio Grande do Norte, 1168

★ 23 . sábado . 22:00

Ingressos:
Antecipado – Sympla R$ 40
Porta R$ 50
A Autêntica
Rua Alagoas, 1172

Ouça a #Playlist do Indie Rock Brasil para já ir aquecento!

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