Quando o mundo dos softwares para ilustração está mais avançado do que nunca e, consequentemente, a maioria dos trabalhos artísticos de capas de CDs é feito com técnicas digitais, alguém que vai na contramão sempre se destaca. E na minha opinião, de forma muito brilhante! As capas de metal mais bonitas da atualidade – para mim – saíram do trabalho de arte minucioso de Zbigniew M.Bielak, um arquiteto polonês que vê no artesanal e técnicas como desenho a mão livre e serigrafia uma saída expressiva. Nascido em Cracóvia em 1980, Bielak é responsável por verdadeiras obras primas em meio ao mundo das capas de cds das bandas de metal. Nada mais nada menos do que as bandas Ghost, Mayhem, Paradise Lost, Darkthrone, Absu, Vader, Watain, kreator, além de outros grandes nomes, tiveram seus trabalhos musicais ilustrados por esse grande artista.

paradise lost the plague within
Paradise Lost “the plague within” – Illustration/artwork acervo Zbigniew M. Bielak

 

Ghost Infestissumam- Zbigniew M. Bielak
Ghost Infestissumam- Zbigniew M. Bielak

 

watain album
Watain “Lawless Darkness” artwork/ illustration Zbigniew M. Bielak

Encontrei-me com Bielak no hall do Royal Christiania, o hotel oficial do Inferno Festival, durante o evento, na Noruega. Muito discreto, o trabalho de Bielak se sobrepõe à sua pessoa. Por isso, quando me encontrei com ele o confundi com um outro artista que estava nessa exibição coletiva durante o festival. Apesar da minha super mancada, Bielak foi extremamente simpático e atencioso. Mesmo com pressa para reorganizar seus desenhos para a exposição que aconteceria à noite no Rockefeller, ele parou e conversou comigo por alguns minutos. Perguntou de onde eu era. Quando falei Brasil, ele soltou bem alto um “caralho!” ( pronunciado por ele como “caraio”). Contou que morou no Rio de Janeiro por algum tempo, fez menção ao Sepultura, Sarcófago…

E a relação com o Brasil não para aí. Bielak tem dentre a lista das suas bandas preferidas a brasileira Grave Desecrator. Para o artista, a banda é a única que na contemporaneidade consegue preservar o verdadeiro espírito e essência do pungente metal brasileiro. E é por isso e também por uma proximidade pessoal com a banda que, dentre os trabalhos maravilhosos de Bielak, em breve poderemos ver a capa do novo álbum da Grave Desecrator, na qual o artista tem trabalhado recentemente. Na opinião de Bielak,  a assinatura da banda com o importante selo Season of Mist traz finalmente mais reconhecimento ao trabalho dedicado do grupo. ” As músicas são inspiradas na maldade, na força cruel da realidade que presenciam, na qual estão imersos e não rejeitam. Trazem essa rara e não forjada essência do espírito violento das ruas, a mesma coisa que, na minha opinião, fez com que o Sepultura soasse tão excitante para as audiências mundo a fora, logo no início da carreira deles em 1989. E a história gosta de se repetir”, afirma Bielak. De forma bem descontraída, o artista ainda fala  que ” esse aspecto fez com que o lado noturno e obscuro da vida no Rio se tornasse muito mais interessante”, ( e o complemento dessa frase, como você pode imaginar, são boas risadas!!). [E se você ficou curioso para saber mais sobre essa banda brasileira, confira aqui uma das faixas]:

Cansado do desenho de autocad e de como a arquitetura às vezes perde o fator humano na elaboração de peças, Bielak transforma sua paixão pela música pesada em algo que faz sentido para ele como arte. Técnicas como pintura acrílica, serigrafia e desenho a mão livre são as mais usadas e dão às ilustrações aquele tom enciclopédico cheio de mistério. Aliás, tais livros antigos como bíblias, enciclopédias e ilustrações das obras de Edgar Alan Poe são uma influência desde a adolescência do ilustrador.

 

mayhem cover
Mayhem “Esoteric warfare” – Illustration/artwork acervo Zbigniew M. Bielak

 

mayhem cover
Mayhem “Esoteric warfare” – Illustration/artwork acervo Zbigniew M. Bielak
ghost infestissumam
Ghost “Infestissumam” – Illustration/artwork acervo Zbigniew M. Bielak

 

O artista fez várias exposições recentemente, na Inglaterra, Suíça, Alemanha, Dinamarca, Holanda, Noruega… as obras de Zbigniew M.Bielak não só têm o status de alternativas, como também são de fato restritas: não é qualquer banda que consegue ter uma capa desenhada por ele. Bielak me contou que ele segue um primeiro e grande critério: ele só desenha para as bandas as quais ele gosta de ouvir. Então, existe esse processo seletivo que passa primeiro pelos ouvidos do artista. Segundo ele, isso é importante para manter a coerência do trabalho que ele desenvolve. Sortudos e talentosos são aqueles agraciados pela arte de Bielak, então!

Nosso podcast de hoje é uma entrevista com esse artista super talentoso, educado e brilhante! Ele fala sobre como começou a trabalhar como ilustrações, mesmo sendo um arquiteto, sobre suas bandas preferidas e também sobre o seu processo criativo. Espero que vocês curtam! ( A entrevista foi feita em Inglês. Mas para quem não entender muito, a gente também coloca a tradução aqui, logo abaixo).

Bielak: Aqui é o Zbigniew M.Bielak, eu sou da Cracóvia, na Polônia. Eu sou um artista que faz basicamente capas para albuns de metal.

Festivalando: Qual é a sua principal fonte de inspiração para fazer esse tipo de trabalho?

Bielak: Existe principalmente uma vontade de trabalhar com as bandas de que eu gosto. É basicamente um sonho que todo mundo que cresceu ouvindo música tem. Se você tem como fazer isso, você deve se tornar um músico do metal ou um artista envolvido com trabalhos no metal. Pode ser qualquer área de trabalho, o importante é que você ache o seu e direcione para trabalhar com aquilo que gosta.

Festivalando: Quando e como você começou com esse trabalho?

Bielak: Difícil de responder, mas, eu sou um arquiteto. Essa é a minha principal ocupação. Eu tenho um escritório na Polônia. Mas, como você sabe, o computador tomou conta de tudo, todas as áreas de trabalho ou as áreas industrializadas e também em vários aspectos da vida humana. Na arquitetura da mesma forma. a partir de 2005 você jamais usaria suas próprias mãos na arquitetura, e essa era a principal ferramenta por mais de dois mil anos. Tendo isso em vista, alguém deveria, eu não estou certo se alguém deveria realmente, mas pelo menos eu comecei a desejar por um refúgio para manter meu puslo intacto, e manter esse lado artístico das coisas intacto. Porque, diante do fato de se desenhar plantas com suas próprias mãos por mais de dois mil anos, o computador se torna uma ferramenta muito conveniente mas, é como se tomasse a alma do processo, enfim.

Festivalando: Então o seu processo consiste em desenho à mão livre, apenas?

Bielak: É absolutamente desenho à mão livre ou técnicas tradicionais de pintura a óleo, aquarela ou apenas tinta regular. Falando sobre como eu vim parar aqui, eu fiquei muito frustrado com a falta do fator humano no trabalho arquitetônico. Então eu comecei a olhar por trabalhos que eram ligados a algo mais artesanal. Daí eu achei uma editora na Cracóvia , chamava-se “the world of books”, traduzindo minimante para inglês. Ela era uma divisão de outra editora na Alemanha. E eles estavam procurando por alguém que pudesse ilustrar uma enciclopédia de 12 volumes. Então isso foi basicamente algo que caiu dos céus nas minhas mãos. Então foi assim que tudo começou de novo. Pois, quando eu era criança eu desenhava muito, como qualquer outra pessoa. Eu larguei isso naquele tempo, e depois voltei a fazer algo nos últimos períodos da universidade. Então, as capas de heavy metal foram um trabalho que começou como consequência desse trabalho com a editora.

Festivalando: Você falou da enciclopédia, e seus trabalhos realmente parecem muito com esse tipo de ilustração. Você tem inspiração nesses livros, e também nos livros de séculos atrás?

Bielak: Sim, claro. Essa é uma arte muito similar entre aqueles que usam ferramentas analógicas. Eu me lembro também de folhear as páginas das novelas de Edgar Alan Poe e ver as ilustrações nos mesmos, as ilustrações de Alan lee. Gravuras de artistas como Harry Clarke , trabalhos de Gustav Doré…

Festivalando: Fale um pouco sobre as ilustrações para as capas de cd. Vi ali a capa do Ghost…

Bielak: São bandas queridas, ligações pessoais ou apenas música que cresci escutando, ou seria apenas bandas que apelam para meu gosto, como foi o caso do Watain. Aquelas que também são coerentes, teatrais ou que me incitam de alguma forma a querer desenvolver algum trabalho em conjunto.

Festivalando: Então é um tipo de critério. Você tem que gostar da banda.

Bielak: Esse é o primeiro e vai ser o último, sempre.

Festivalando: Você poderia dizer algumas das suas bandas favoritas?

Bielak: Minhas bandas favoritas? Essa é uma pergunta muito traiçoeira! Mas, Slayer é uma das bandas que sempre estiveram comigo, como Judas Priest, como Danzig… mas é uma miríade de bandas que evocam emoções na minha vida. Como um entusiasta da música, é difícil para mim pegar apenas uma banda que seja a minha favorita.

Festivalando: Como é expor sua arte em um festival?

Bielak: Os festivais modernos tem essa coisa de estarem abertos para outros tipos de expressão artística ligadas à música mas que não se restringem à linguagem musical apenas. E isso é muito bom, pois para mim a música está sempre muito ligada às artes, ao visual. Por exemplo, o jeito como uma capa de cd é construída sempre te prepara com um certo tipo de “humor” para fruir aquela obra. Isso influencia em como você vai ouvir aquele trabalho musical. E isso para mim, como artista e fã de música, é inseparável. E essa é uma das coisas mais excitantes para mim: estar apto a dar cara para a música.

Festivalando: Uma coisa bem cliché agora: você ouve metal enquanto desenha?

Bielak: (risos) Geralmente eu ouço o meu cachorro roncando! Mas eu gosto de ouvir uma música de fundo enquanto eu trabalho, de vez em quando. Mas isso é tão bom quanto usar os seus fones de ouvido do silêncio, de vez em quando!

Festivalando: Obrigada!

Para quem quer conhecer mais do trabalho maravilhoso desenvolvido por Bielak, compensa seguir a fanpage do artista no facebook e dar uma olhada nesses dois sitesum deles uma galeria online em que você pode comprar as obras. Vi de perto e posso garantir que o acervo do cara, no entanto, é muito maior do que isso!

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