Nesse festival, acho que a experiência dos participantes deve ter sido toda um pouco ambígua, oscilando entre momentos fantásticos e outros em que dava vontade de se jogar de um penhasco! Não se pode dizer que o Hellfest é menos legal por conta de algumas falhas estruturais, nem que é a coisa mais maravilhosa que já aconteceu na face da terra, infelizmente. O evento que acontece em Clisson, na França, tem uma série de qualidades que fazem dele único. Uma delas, o fato de ter o time forte do potencial turístico e gastronômico que o país oferece,ali mesmo nos arredores do festival. Outro ponto que faz desse evento um dos mais cobiçados entre a galera da metaleiragem sem dúvida é o line up! Tem banda para todos os gostos e estilos, e ainda existem inúmeras brechas para que os mais “ecléticos” aproveitem da melhor forma possível o festival, como por exemplo, a própria arquitetura dos palcos, que faz deles acessíveis em poucos minutos de caminhada. Distâncias razoáveis, limpeza bem executada, bom ambiente de convivência, estrutura funcional e cuidado estético ( por mais que em certos momentos eu achava o gosto dos artistas visuais responsáveis pelas “alegorias” hellfest meio discutíveis…), entre outros fatores fazem com que o festival responda bem ao seu título de melhor festival open air francês, com o qual foi agraciado esse ano no Festival Awards.

O Hellfest completou 10 anos em 2015. É mais novo e menor do que o Wacken, com pelo menos metade da capacidade de headbangers por dia – enquanto o Wacken vende 85 mil ingressos de três dias, o Hellfest vende no máximo 45mil por dia. A conta total dos pagantes em todo o fim de semana chega à casa dos 100 mil, uma vez que o festival vende ingressos de apenas um dia, o que o Wacken não faz, por exemplo. São 6 palcos, e muito bem organizados por conceito musical – no Warzone rolava hardcore e punk, já o The altar e the temple, você via clássicos do death e black metal. No The Valley rolavam as novidades pós modernas, bandas de stoner. E os dois palcos principais, tudo aquilo de mais main stream no rock e metal, tudo junto e misturado.

Um balanço geral sobre o festival me diz que ele é um lugar para se pisar mais de uma vez, com certeza. Afinal, não é todo dia que você pode se dar ao luxo de assistir a duas ou três músicas de uma banda foda, depois ver do lado outra parte de um show foda, etc. Não é todo festival que tem comida boa e preços legais, além de um clima adorável. Porém, algumas coisas precisam ser melhoradas urgentemente no Hellfest, principalmente no que diz respeito à logísitca. Sabemos que é um festival para fãs, feito por fãs, como eles dizem, pois grande parte da equipe que faz o festival acontecer é voluntária. Contudo, é preciso dar atenção para os detalhes, para fazer da experiência dos festival goers algo positivamente inesquecível!

Transporte

Que comecemos com o pior, então! Bring the shit on: PUTA QUE PARIU, Hellfest! No primeiro dia eu achei que fosse até zueira quando cheguei à estação de Clisson pela primeira vez e vi umas peruas/van, daquelas mesmas, tipo ” bh sélagoas” ou aquelas que você se acostumou a ver em muitas capitais há uns anos atrás… inacreditável! E não foi pelo fato de ser um transporte pequeno e modesto não, mas pela completa falta de organização de fila, ordem de chegada e sistema para recolhimento do dinheiro! Na estação de Clisson, por exemplo, não havia gente para te dar informações e sequer placas. Você via o amontoado de gente e simplesmente ia atrás. Gente furando fila, coisa absurda – pra mim, tá mais que comprovado que esse lance de que brasileiro é que fura fila e num tem educação é um mito! Tem que ver a zona que gente de tudo que é lugar, inclusive os franceses estavam fazendo nessa hora.

rotatoria de clisson

Cartão, bilhete e/ou pelo menos um quadro de horários para os shuttle? Que nada! Pra quê isso? Eles passam “regularmente”… a vagueza dessa palavra era simplesmente adorada pela organização e nos deixava à mercê! Você só descobria a frequência daquele dia para o transporte quando estava lá. A motorista só falava Francês, mal sabia falar quanto custava a viagem, para o desavisado que chegasse.

A hora da volta sim era um milhão de vezes pior. Organização zero! Educação zero! Rolava basicamente um mosh pit pra poder entrar nos ônibus que iam para Nantes, super escassos, por sinal. Já quem iria ficar em Clisson enfrentava menos tumulto e concorrência. Não sei qual a dificuldade de colocar umas arestas ou sinalização de uma fila, ou mesmo alguém a postos para dar informações sobre os horários dos ônibus etc.

Nada de quadro de horários ou sistematização do transporte para facilitar a vida do festivaleiro. Nas estações de trem de Nantes e Clisson também rolaram coisas bizarras – tipo, você comprava um bilhete para o trem no horário x, e no painel aparecia que esse trem ia sair no horário Y, num dava pra saber se era o mesmo trem… No domingo, último dia de festival, não só eu, mas também várias outras pessoas caíram numa pegadinha da estação de Nantes… o quadro de horários que todo mundo viu no dia anterior mostrava um trem saindo às 14h. De repente, eu e uma galera chegamos à estação por essas horas e vimos que só sairia um próximo trem para Clisson às 16h30… ou seja, parece que todo mundo zuou mesmo no último dia e ligou um imenso botão de foda-se para a galera que ainda ia para o festival aquele dia.

A volta no último dia foi ainda mais traumática. Espera de 1 hora ou mais pelo ônibus que levava à Nantes. E o pior,um drama sério, pois muita gente que estava acampada decide vir embora naquela hora, de mala e cuia, enfiando tudo no balaio! Muito complicado…Nesse quesito, o Hellfest fez muito feio.

Informação

Você sabe francês? Não? Então se fudeu! Igual a mim, em diversas situações. Esse é o primeiro ponto da história. Você já imaginou entrar numa van, perguntar para onde que tá indo e a mulher não te responder nada com nada, tudo em Francês? Ou por exemplo, você está na estação esperando pelos trens e os avisos são todos dados na língua local? Ou quando dentro do próprio festival, em alguns estandes de comida, por exemplo, a galera num sabia te falar do que determinada coisa era feita? Ou até mesmo no site, quando escrevem um texto em inglês e, a informação ou serviço importante para ser acessado está completamente em francês. Mahrromeno assim, viu?!

Em geral, o site de informações do Hellfest e também o aplicativo possuíam muitas orientações e direcionamentos, eram bem claros e organizados. Não era desleixado, de jeito algum. Porém, a vagueza das informações presentes é um saco. Às vezes se sabia do “quê”, mas o “quando” e “como” ficavam pra trás. Os pontos de informação existiam, e eram para funcionar o tempo todo. Como por exemplo, esse aqui da estação de Nantes.

info hellfest

Não foi só na vez da foto que eu o encontrei vazio… Custava ter a disponibilidade de uma tabela de horários definitiva no site do evento??

Infelizmente, esse ponto também precisa ficar melhor: por mais tabelas de horários de transporte, mais detalhes sobre os serviços, mais organização!

Hidratação e comida

Aqui o festival fez a obrigação. Havia água potável gratuita, disponível em grande quantidade, em pelo menos dois principais pontos do festival – o que ficava entre os palcos The Valley e o The Temple, e também outro ao lado esquerdo do main stage 2. Porém, achei que os pontos eram poucos, e também eram meio escondidos. Ok que tinha uma placa escrito H2O gigante no ponto entre esses palcos, mas era num lugar um pouco escondido, entre as tendas. Além disso, as torneiras de água eram meio lentas, demorava demais para a água vir e tinha hora que a água simplesmente não vinha e vc tinha que trocar de torneira…

Já com relação à comida, o festival fez bonito. Não comi nada que fosse horrível ou com gosto de passado. Além disso, cozinhas internacionais como por exemplo cubana, argentina, americana, tailandesa e também as delícias francesas! tudo isso muito bem temperado e quentinho! Curti. Como sempre, as barracas de comida vegana, vegetariana ou sucos e frutas frescas são simplesmente poucas ou inexistentes em festivais. No Hellfest eu vi apenas 1 barraca! O bom é que algumas opções de prato vinham com salada. Os preços das refeições eram um pouco mais altos do que as refeições do Wacken, por exemplo. Enquanto a média alemã do ano passado era de 5 euros, a média do Hellfest é de 8 euros. Achei meio salgado. Porém, os pratos eram muito fartos e até requintados, alguns deles. Por exemplo, você já imaginou comer ostras e risoto num festival?

comida hellfest

Uma coisa meio ruim me chamou atenção, porém. Havia espaços para sentar e comer, mas eram insuficientes e, para piorar, todos sem qualquer proteção contra o tempo. Quase todas as vezes eu peguei minha comidinha e fui comer sentada no chão, numa espécie de mini bosque que eles tinham lá perto. Havia estandes de snacks e bebida perto dos palcos também, o que é muito interessante.

Tinha também vinho muito gostoso, feito pelos agricultores da região e também cerveja, em média de preços de 2 a 5 euros. Muito bom.

Limpeza

O festival é bem limpinho, apesar de não ser super limpo como é o Sweden Rock. Acredito que um menor número de pessoas presentes contribui para isso. Os banheiros, contudo, tinham dos mais variados. Ainda havia resquícios de banheiros químicos imundos, nas entradas e saídas. Os banheiros com água corrente estavam ok durante todo o dia. Mas ao final da noite eles ficaram meio deploráveis. Quando havia um vazamento, por exemplo, parece que demoravam a limpar, e formava-se um lamaçal meio chato dentro da cabine. Contudo, no geral os banheiros eram bons. Chato foi não ter espelhos grandes, só pequeninos…

Outra coisa muito legal foi o banheiro de compostagem, uma saída mais legal aos banheiros químicos. A serragem tem um poder neutralizante de odores muito melhor, e isso tornava esse tipo de banheiro menos terrível do que os demais. Além disso, é bem ecologicamente correto.

banheiro hellfest

Conectividade e energia

Fez feio. Conectividade zero para a geral do festival. E as linhas telefônicas também deram uma surtadinha, a ponto de muita gente num conseguir ligar um pro outro. Mas até mesmo quem era da imprensa teve dificuldades com o acesso de wifi dado. Ele só funcionava dentro da tenda de imprensa, que era afastada dos palcos principais. Era ridículo ter que vir e ficar ocupando lugar para postar uma foto simples no instagram. Essa é definitivamente uma coisa a ser melhorada.

O ponto de recarga para celular era único e gratuito. Por isso, ficou bem cheio em vários momentos e às vezes demorava muito para ter o celular de volta…

Segurança

Foi um festival muito tranquilo, apesar de os grandes festivais sempre evocarem certa tensão nesse quesito. A revista nem sempre era das melhores, contudo. Tinha hora que a galera tava meio de saco cheio e nem abria nossa bolsa. Havia vigilância na área do festival e camping, mas nada muito agressivo. Porém, a galera recebendo com sorrisão no rosto, ou os guardinhas descolados do Sweden Rock, isso eu não vi não! Mas ainda sim havia um pessoal bonzinho e simpátiquinho.

prevencao
Outras facilidades como banco, supermercado próximo, primeiros socorros, guarda volumes e cadeiras para densacansar estavam presentes. Tinha um banquinha da preven♪5ão também, com protetor de ouvido, camisinhas e teste de dst de graça. O Festival também tinha a praça central cheia de lojas e atividades promovidas pelos patrocinadores. Tinha até um estúdio de tatuagens e carro para foto-souvenir do festival. Outra coisa legal também foi a implementação de chips nas pulseiras, assim, para entrar no festival a coisa era mais automática, sem muita espera pelo cara que ficava a checar se sua pulseirinha havia sido adulterada ou não.

Apesar de não estar nos planos da organização do Hellfest ser um ultra gigante festival, torcemos para que esses detalhes sejam melhorados para as próximas edições! Ah, esqueci de falar, mas como não é um item muito avaliado, ficou de fora, mas merece todo respeito para a edição do festival desse ano: Ótimos telões, parabéns! Tinham telão em quase todos os palcos, ao lado, ou do lado de fora das tendas e os cinegrafistas fizeram planos muito bons! 😉

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6 Comments

  • KLAUS
    Posted 25 de junho de 2015

    1 PALAVRA : SWEDEN ROCK

  • Carlos
    Posted 16 de setembro de 2016

    Olá Gracielle, parabéns pelo blog!!!

    Com relação ao Hellfest, tive somente experiências muito boas, mas concordo com muitos dos pontos fracos na infra.
    Apenas a nota que você deu no festivalômetro é que me incomodou um pouco, principalmente por estar abaixo de alguns outros festivais bem inferiores (em minha opinião), como Rock in Rio e Copenhell.

    Acredito que o melhor do Hellfest não está sendo avaliado nesse festivalômetro que é o lineup (quase imbatível).
    A experiência de trocar os palcos rapidamente e com ótima visibilidade e qualidade de som, me deu a sensação de estar em uma espécie de youtube gigante, onde digitava-se a banda favorita e lá estava ela, principalmente entre os palcos The Altar e The Temple.

    Com relação ao transporte, aluguei um carro em Nantes e deixei uns 10 minutos a pé do local. Perfeito. O transporte público é muito deficitário mesmo, principalmente na volta.

    A conectividade WiFi é fraca mesmo, mas dá para conseguir alguns cartões de dados na França a bom preços e que permitem trocar mensagens rápidas. Mas geralmente a comunicação eu fazia no hotel em Nantes.

    Com relação ao idioma, não tive problema. Achei o povo francês muito atencioso e educado. Uma vez pedi para que o vendedor abastecesse 50 Euros no cartão (em inglês) e o vendedor não endendeu. Daí falei em português mesmo e ele compreendeu kkk

    Outra vantagem, é que foi possível entrar com uma cadeirinha portátil que se encontra em qqer loja Dechatlon, o que evita problema com falta de assentos e cansaço excessivo (Wacken que o diga).

    No quesito banheiro, para o público masculino foi bem tranquilo, já que havia mictório em todos os cantos e lados. Já para uma visita mais demorada, levava meu próprio rolinho de papel, já que no final da tarde os locais ficavam bem mais deficitários.

    Para mim, Hellfest já é o melhor festival de metal europeu.

    Um abraço.

    • Gracielle Fonseca
      Posted 19 de setembro de 2016

      Ei Carlos!!! Muito legal suas impressões sobre o Hellfest. Sem dúvidas, é um dos melhores festivais que existem na Europa. Falo, por exemplo, que se o Festivalômetro tivesse outros quesitos, como line up, certamente a nota do Hellfest subiria muito. É evidente que as notas são uma aproximação, uma estimativa de como é um festival somente com relação à estrutura. Não se trata de um espelho do festival, mas uma ideia. Ainda mais pelo fato de que muitas variáveis podem influenciar, como por exemplo, o próprio tamanho dos festivais que é diferente. Não dá sempre para comparar lado a lado, mas dá para fazer uma pequena ideia de como é a estrutura de cada um. No entanto, a nota do Hellfest é mais baixa do que o Rock In Rio e Copenhell, pelo fato de os itens de estrutura avaliados no Festivalômetro serem menos bem consolidados, do nosso ponto de vista.O sistema de ônibus do Rock In Rio dá um show no sistema de ônbibus do Hellfest, e em outros quesitos de estrutura, não deixa muita coisa a dever. O Copenhell tb dá show de organização de transporte, conexão, limpeza entre outras coisas. Mas, se a gente pega a nota do festivalômetro+ outros aspectos, talvez o ranking mudaria, sacou? Tb não avaliamos equipamentos e palcos no festivalômetro, pq geralmente são padrão, quase todos os festivais muito bem montados. Mas esta é uma categoria que eu gostaria de adicionar, por exemplo.

      Obrigada pela leitura e comentário!bjs e até mais!

  • Leandro
    Posted 29 de agosto de 2017

    Lá no Hellfest chove normalmente? E a área em frente aos palcos , é lama , asfalto ou grama?

    • Gracielle Fonseca
      Posted 1 de setembro de 2017

      Ei, Leandro!! Olha, o Hellfest é um dos festivais mais secos e mais ensolarados do verão do metal na Europa. É raro chover, pq a região de Nantes está quase sempre com muito bom tempo. O piso em frente aos palcos é grama mesmo. O terreno tem grama, brita e mandeira, basicamente.

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