Foi quase uma visão onírica quando eu e Gra avistamos no meio do acampamento do Roskilde, na Dinamarca, aquela barraquinha de quermesse no meio do campão de terra com a plaquinha que dizia “Vand”. “Água” em dinamarquês. Mas não era apenas água, era água de graça em festival, um dos maiores e mais antigos da Europa. Água à vontade pra gente encher a garrafinha quando quisesse – fora os copos de água distribuídos gratuitamente pela produção para quem ficava na grade dos shows.
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À medida em que seguimos jornada rumo aos demais festivais europeus na viagem que deu origem ao Festivalando, fomos descobrindo que isso não era uma exclusividade da Dinamarca. Mais de duas dezenas de festivais depois, somando Europa, América do Sul e Brasil, nós duas já estamos mais que convictas que disponibilizar água potável para o público em festivais é uma questão tão determinante para uma experiência positiva quanto um bom lineup. Tanto que hidratação é um dos quesitos que avaliamos desde o início em todos os festivais que visitamos – e água de graça aumenta muito a média de um festival no nosso Festivalômetro.
Quem acompanha o Festivalando já percebeu o quanto a gente bate nesta tecla vira e mexe, em um post ou outro. Este texto nasce apenas com o intuito de organizar melhor as ideias e os argumentos em torno dessa espécie de bandeira que a gente tem levantado. Não, não é frescura. Não, não é mimimi. Não, o festival não tem que cobrar de mim pra tomar água, principalmente se ele não me deixa entrar com a quantidade de água que eu necessito. Me cobrem pelos shows porque este é o serviço que vocês estão prestando pra mim. Faz assim, ó: me cobrem água se, e somente se, me derem a opção de entrar com quantidades razoáveis de água (um copinho só não conta); assim como normalmente me cobram comida, mas me deixam entrar com quantidades razoáveis de lanchinhos.
Sendo assim, para ficar claro para você, festival goer, e para você, realizador de festival, tenha em mente o seguinte quando eu falo de água de graça em festivais:
É praxe nos maiores e mais importantes festivais no mundo.
No gigante Roskilde Festival, na Dinamarca, um país onde tudo é absurdamente caro, e cobra-se até pela credencial de imprensa (a Gra teve que passar por essa…), a água de graça. No Wacken Open Air, na Alemanha, maior festival de heavy metal do mundo, á água é de graça. No Sweden Rock, outro gigante da Escandinávia, a água é de graça. No Coachella, em Indio, nos EUA, um dos festivais mais badalados e cobiçados da atualidade, á água de graça, conforme nos contou a nossa leitora Karina Bernardo. No Governors Ball, em Nova York, também – a leitora Ana Zacchi esteve lá para nos contar.
Em todas as edições do Electric Daisy Carnival pelo mundo, a água é de graça (como em Nova York, na foto abaixo). E eu acho particularmente lindo o fato de eles tratarem isso como uma questão de “segurança e saúde” do festival. Porque, no fundo, a coisa passa muito por aí mesmo. Como eu disse lá no início, no Roskilde tem a distribuição de água na grade e ela é feita pelo pessoal da “crowd safety”, a equipe de segurança, sinalizando que a organização do festival dinamarquês também entende que oferecer água gratuitamente é oferecer bem-estar. Hidratação é vida, né? Ah! No Glastonbury, o senhor supremo dos festivais, a água é de graça. Fim.
Não é uma prática só de “país rico e desenvolvido”.
“Ah, mas é claro que a água vai ser de graça em festivais nos Estados Unidos e na Europa, esse povo civilizado”. Não. Eu fui no Lollapalooza Chile, nossos irmãos ~terceiro-mundistas~, e me deparei com um monte de estação para encher minha garrafinha de água à vontade (foto abaixo). O Electric Daisy Carnival Brasil, que acontece em São Paulo, pela primeira vez no país, agora em dezembro, já anunciou que a água vai ser liberada também. Quem foi ao Tomorrowland Brasil relatou a presença de estações de água potável.
“Ah, mas estes são festivais de origem gringa que estão reproduzindo modelos do exterior aqui”. Não. Está lá no site do Rock in Rio, no link “Termos e Condições”, mais precisamente no item 7: “A organização informa que haverá, à disposição do público, bebedouros com água potável instalados na Cidade do Rock”. O Popload Festival, em São Paulo, distribuiu uma garrafa de água como cortesia para o público (gesto notável, mas que pode ser aperfeiçoado, tá, queridos?). Quando fui ao Cultura Inglesa Festival, também em São Paulo, quando o evento ainda rolava no parque da Independência, também não tive que me preocupar em gastar dinheiro para comprar água. Tem festival aqui no Brasil que dá conta, tá vendo?
É lei em determinados lugares.
A prefeitura de Amsterdã criou no ano passado uma lei que obriga os festivais locais a oferecerem água de graça. “Ah, mas neste caso, sim, é uma lei de país europeu que não tem problemas maiores para se preocupar”. Não. No Brasil não há leis nestes exatos termos, mas tem algo bem próximo disso em alguns municípios e/ou Estados. No Rio, em São Paulo, em BH e também no Distrito Federal, há leis que obrigam bares, restaurantes e/ou casas noturnas a oferecerem água para os clientes. Assim como casas noturnas, festivais oferecem música e entretenimento para jovens e adultos, não é mesmo? Estamos quase lá; mais umas emendas e a lei pode ser aperfeiçoada.
Não deu pra se sentir meio passado pra trás na hora de tirar umas (muitas) dilmas do bolso pra matar a sede em festival? Tipo o nosso leitor Eduardo Mülling, que comentou neste post aqui que no Monsters of Rock, lá no sul, cobravam R$ 10 por um c-o-p-o de água? (Sim, copo, pois não basta cobrar pela água. Tem que cobrar caro e vender o recipiente que abriga a menor quantidade do líquido). E esse pessoal que organiza os festivais, será que não fica constrangido com essa indecência?
Reflitam, hidratem-se e lembrem: como ensinam nossas mães, um copo d’água não se nega a ninguém.
Agora me dá mais água de graça porque tá pouco. Me dá, por favor, porque eu tô virando água.
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1 Comment
Marina Alguz
No lollapalooza Brasil de 2014, eu estava perto da grade de um palcos – não me lembro agora qual – e tinham uns seguranças (?) que estavam distribuindo copos de água pra quem estava ali por perto, mas só naquele momento vi essa distribuição, durante o resto do festival, cada copo custavam R$ 5