Não fomos ao Zoombie Ritual – e de forma bem egoísta vem à cabeça um “ufa!”. Mas a Jaqueline Souza ia ao festival e se prestou bravamente a ser a nossa correspondente nas terras sulistas. Jaqueline é uma metalhead, publicitária e mãe dedicada que tem paixão pela música e festivais de metal. Ela também já esteve, por exemplo, no Brutal Assault. Aqui no espaço Leitor@ Festivaleir@ de hoje ela nos conta como foi o primeiro dia de Zoombie Ritual. Essa semana a gente vai contar com mais textos da Jaque aqui nesta sessão, com os relatos de todo o desdobramento e dor de cabeça que o Zoombie Ritual causou.

 

 

jaqueline perfilZOOMBIE RITUAL E MAIS UM FRACASSO DOS FESTIVAIS DE METAL NO BRASIL – por Jaqueline Souza

Viajamos de Recife para Curitiba com a expectativa de que, ao chegarmos em Rio Negrinho – SC, a experiência seria gratificante.Na minha mente, teríamos quatro dias maravilhosos de metal em um  festival que já está na sétima edição.

Antes de chegarmos ao local, contudo, já sabíamos dos rumores de cancelamento de show. Contudo, a cidade de Rio Negrinho é muito aconchegante e, independente do que ocorresse com o restante do festival, a experiência de ter vindo até aqui já está sendo boa. Gente bonita, comida boa e uma arquitetura linda esperam aqueles que queiram os visitar. Eu indico a região para quem deseja tirar alguns dias de folga e realmente queira descansar e olhar uma bela paisagem.

Na quinta-feira a ansiedade era grande. Ao chegar à Fazenda Evaristo, boa parte do público já estava dentro do local e uma longa fila de carros aguardava a revista para efetivar os registros de entrada. Não sei se foi mal presságio, mas desde o primeiro instante tivemos problemas com a localização dos registros. A equipe demorou para encontrar as comprovações e isso fez com que o atendimento dos demais ficasse ainda mais atrasado, pessoas reclamando na fila, enfim… Um pouco de negligência na logística organizada para receber os espectadores, mas nada que tirasse a vontade de ir em frente e curtir.

Por volta das 20:00 os shows se iniciaram. Os catarinenses do Acefalia subiram ao palco para mostrar um death/black bastante interessante, especialmente pelas músicas em português e os adendos comentados pelo vocalista,que explicou as motivações de cada letra.

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Acefalia. Photo: Jaqueline Souza

A segunda a se apresentar foi o Dead Attack, uma banda jovem com influências de thrash e heavy metal. O show teve direito a cover de Slayer (Raining Blood). A seguir, segundo as notas oficiais do evento, deveria subir ao palco os dinamarqueses do Artillery, o que para nosso desespero não ocorreu e a produção não deu nenhuma explicação ao público. Isso fez com que começassem burburinhos de que os músicos da banda estavam aguardando para definir se eles tocariam ou não. Para mim e para os amigos próximos foi um banho de água gelada, pois estávamos hospedados no mesmo hotel que eles, músicos e equipe pareciam estar altamente empolgados para tocar. Depois de uma espera de quarenta minutos a produção anunciou o nome dos músicos da banda Inception, que originalmente estava programada para ser a última da noite. Foi aí que o clima pesou de vez. Todo mundo se perguntava se realmente o Artillery tocaria ou não. Quase uma hora depois entrou a banda Inception e fez um rápido show de black metal.

Uma nova movimentação surge. A equipe técnica aparece praticamente desmontando tudo e refazendo todo backline para passagem de som dos americanos do Vicious Rumor. Por volta das 00:00 o Vicious Rumor sobe ao palco, power metal melódico da melhor qualidade em um show altamente empolgante e fazendo com que o público ficasse muito animado, o que na verdade não tinha ocorrido até aquele momento.

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Vicious Rumours. Photo: Jaqueline Souza

Enfim, a atração que muitos esperavam, o Artillery, começa seus preparativos e traz uma sensação de alívio. Grande parte do público clamava por eles que fizeram um show muito potente, de arrancar muitos “breaknecks” dos headbangers.

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Artillery. Photo: Jaqueline Souza

Muitos rumores acontecendo e à boca pequena soubemos que a apresentação do Destruction estava prestes a ser cancelada. A banda estava no hotel e anunciava estar aguardando o produtor que tinha sumido.Também disseram que faltava parte do cachê a se recebido. Muitos murmúrios, pessoas aflitas começavam a gritar pela banda e pedir explicações.

Finalmente, o produtor Juliano Ramalho apareceu pela primeira vez, fez pessoalmente o anúncio de que naquele momento a apresentação do Destruction estava cancelada, pois a equipe técnica da banda se recusava a tocar no equipamento fornecido pela produção. Como consequência do mal-estar, os boatos de que o festival estava fadado ao fracasso chegaram até o Venom. E assim, os ingleses também soltaram uma nota oficial informando que não embarcariam mais para o Brasil e cancelaram sua participação no Zoombie Ritual Festival.

Ao mencionar que o Venom estava cancelado, vieram muitas desculpas. Como sempre, fica o dito pelo não dito. Bandas atacam a produção, produtor ataca as bandas dizendo que pagou 80% dos valores acordados e que pagaria o restante quando estas estivessem na cidade. As mesmas teriam se negado a manter os acordos desta forma.Uma enorme sucessão de erros culminou,então, no descarrilamento de toda a estrutura do evento. As soluções oferecidas foram a devolução do dinheiro proporcional à apresentação destas duas bandas canceladas, ou que todos presentes acreditassem que as demais apresentações serão mantidas.

Às 04:30 da manhã com o público completamente brochado e descontente subiu ao palco a última banda da noite, os black metallers do Aqueronte. A noite terminou com sensação de incerteza e já
sabíamos que a sexta-feira que prometia Carcass e Brujeria já estava comprometida a ser uma sexta “true” underground.

Um primeiro dia desastroso do que era para ser a redenção dos festivais de metal no Brasil.

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