Essa definitivamente não vai ser mais uma resenha no meio de milhões delas feitas sobre o show do Behemoth no Inferno Metal Festival – evento conhecido por ser a meca da maldade e “trueza” musical. Todos esses textos estão aí, em vários veículos muito competentes e pessoas que provavelmente vão usar todo o vocabulário que você espera ler numa lauda enaltecedora e entusiasta sobre o show dos caras: espetáculo, hordas, satânico, obscuro, sombrio, demoníaco, avassalador, oculto, ocultismo, hecatombe… opa, pera aí… agora já estou invetando palavras para soar bonito, intelectual e superior, sem deixar de ser sombrio, obtuso… mas esse post, amigxs, é só pra contrariar o black metal, talvez não ele, mas sim todas as regrinhas bobas que mantém “seguidores” no mesmo quadradinho para sempre. Obviamente, gosto não se discute. Mas se permitir ao diferente e, até mesmo gostar dele, não é nenhuma traição.

Como não vou falar de um dos maiores headliners desse festival e muito provavelmente de algumas outras bandas fiéis ao estilo aaaahhhhhhhhhhhhhhh, tattatatatatatatatata, aaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh, talvez esse post sobre música no Inferno Festival não seja recomendável para quem pensa que trocar o show do Taake pelo do Arcturos é uma verdadeira prova de falsidade, traição, ultraje, un-truísmo… ” morte aos falsos”????

E por falar em Arcturus, é sobre eles e outras 2 bandas que vou tagarelar, pois foram os shows que mais me impressionaram em todo o Inferno Festival. É claro que não é fácil para ninguém competir com os artifícios de palco do Behemoth e do show impressionante que foi, de fato. Havia visto os mesmos no Wacken, no meio da tarde sob o sol escaldante do verão na Alemanha. Mas, vê-los no Inferno Festival, com a licença da luz, foi uma ótima experiência… seria ainda melhor se a lotação da plateia fosse um pouco menor e se depois da quarta música eu já não quisesse dormir, pois, como costumo dizer, Behemoth é legal, mas depois de um certo tempo soa muito monótono… ainda mais quando você já está acostumado com o set list ( de qualquer forma, foi foda ouvir de novo “Blow your trumpets, Gabriel”, “Christians to the lions” e ” Ora pro nobis, Lucifer”) Mas chega. Não vou fazer nenhuma resenha do show deles, ainda mais pelo fato de que todas as palavras que eu disser provavelmente já foram ditas em algum canto e, o que adiantam as minhas críticas quando Mr. Nergal é super proud, super orgulhoso da música que faz e acredita na supremacia da banda dele? ( trechos da entrevista coletiva que ele deu no lançamento do livro, durante a conferência de música do inferno).

Voltando ao meu foco: Arcturus, Ensinferum e My Dying Bride – espaço para a criatividade, sensibilidade, teatro, festa, alegria e sanfona no meio à “trveza”!

Arcturus

Arcturus- Infernal Festival 2015. Official Inferno Music Festival - Photo: Lise Mette Eidet
Arcturus- Infernal Festival 2015. Official Inferno Music Festival – Photo: Lise Mette Eidet

Cheguei à Arena Vulkan muito empolgada para ver um dos bateristas mais talentosos da cena norueguesa tocando em outro contexto, uma vez que já tive o prazer de vê-lo tocar junto com o Mayhem. Os que esperam o Hellhammer do Mayhem de alguma forma o tinham, em menor velocidade talvez. A criatividade das linhas de bateria aflorou mais na execução das músicas do Arcturus, mas ela está presente nos punhos e ritmo que ele imprime aonde estiver. Essa foi a minha conclusão. Um baixinho que some atrás da grande bateria e companheiros de palco que parecem ter saído de algum conto, alguma parte de Alice no país das maravilhas, talvez.

A banda que já teve o Samoth, guitarrista famoso do Emperor em sua formação, possui uma longa história e um trajeto musical que mudou junto com alguns dos integrantes. De black metal dark atmosférico à avant-garde metal, termo que talvez acolha melhor a sede pelo novo e pela experimentação que os integrantes carregam.

No Inferno, não deixaram a peteca cair. Apresentaram músicas novas – novíssimas, inclusive, do novo album ” Arcturiam” e antigas. The arcturiam sign já mostra que as experimentações com os sintetizadores não param, mas se aprofundam para o próximo album. Da mesma forma, a assinatura da bateria está ali, nítida e junto com o baixo, evocando peso. A música da banda oscila, o tempo todo, entre o peso, o estranhamento, a loucura e devaneio – mas tudo isso junto parece fazer muito sentido. Hestnæs se desdobra em vários vocais e tons diferentes e mostra que ele não é nada true, graças a deus né?! hahaha. A guitarra adiciona melodia e beleza e os malucos continuam a performance insanamente encantadora.

Arcturus é uma experiência sonora única. Aprendi isso quando ouvi pela primeira vez o album “La masquerade Infernale”, que graças a Baahl tive o prazer de ouvir algumas músicas ao vivo no inferno, com destaque para ” The chaos path”. Já o album Aspera Hiems Symphonia, Constelation, My angel é algo que agrada mais aos ouvidos mais exigentes e fiéis ao black metal, mas não deixa de ter os toques que fazem do Arcturus uma banda de vanguarda. Desse album, escolheram algumas músicas a dedo, como “Du Nordavind”.

Já aquelas do Sideshow Symphonies estiveram bem presentes, e não tão coadjuvantes como se sugere no nome do album. Boa escolha. Recomendo que escutem todos os albums. Torna-se divertido imaginar e criar sentido com os conceitos propostos. Além disso, são de extrema beleza musical.

Arcturus fez um show memorável. Permeado de piadinhas em Norueguês sobre os noruegueses e o mundo metal. Ri naquelas que entendi, ou que amigos ou eles mesmos se lembraram de traduzir para o público. Mas deixaram de lado a tradução muito rapidamente. Explicaram-se: ” assim vocês podem ter a experiência ~true norwegian~ por completo, por meio da língua”. Zerou a noite, na minha opinião! hahaha!

My Dying Bride

My Dying Bride- Infernal Festival 2015. Official Inferno Music Festival - Photo: Lise Mette Eidet
My Dying Bride- Infernal Festival 2015. Official Inferno Music Festival – Photo: Lise Mette Eidet

Já vi um show do My Dying Bride. Não quis escrever na primeira apresentação presenciada, pois achei que seria emocional demais. Mas agora vou escrever um pouco sobre. O set list não muda muito, nem as roupas do Aaron, vocalista e alma da banda. Mas a performance parece que fica a cada dia melhor. Logo depois de um show speed thrasher agitado do Skeletonwitch, os ânimos se acalmariam? o My Dying Bride seria um “boa noite, true!”? Não, definitivamente não, pois no mesmo dia ainda haveria a apresentação do Enslaved.

Muitos acham que o doom metal é apenas chorôrô. Às vezes sim. Mas doom metal é peso e também é visceral. É isso que o My Dying Bride provou. No Inferno Festival, talvez uma das plateias mais apaixonadas era aquela que assistiu ao show da banda. Pessoas cantavam e sofriam junto com Aaron, que não hesitou em se jogar no chão, simular enforcamento com o microfone, choro copioso e dor abdominal aguda, hehehe.

My Dying Bride foi doçura, dor e melodia em meio à brutalidade – o delicado dedilhado na guitarra anunciava ” Your River”. O público se amontoou. No meio, olhava para cima e para os lados, a lotação da casa era a mesma da do show do Behemoth. ~Mas talvez não fosse o mesmo público, imagina, né? Quem ouve Behemoth vai ouvir My Dying Bride????~ deixa para lá esse detalhe. Mas foi uma das apresentações mais bonitas que já vi a banda fazer. Destaque para a baixista, Lena, que deixou o baixo com som bonito e brilhante durante todas as músicas, nítido e perfeito, e para o Violinista, Shaun, que parece ter em seu violino a tecla sap para a lamúria e desespero da alma humana.

Entre as várias músicas manjadas, Turn Loose the Swans – mesmo título do album que monopolizou o concerto do Inferno Festival, e The Thrash of the Naked Limbs foram ápices indiscutíveis. Para encerrar, um brinde:uma música nunca antes tocada “god is alone” do Trinity. Mas não quiserem se arriscar muito mais em coisas antigas de mais peso e velocidade, como ” the forever people”. Algumas coisas novas também foram tocadas e aplaudidas.

O show do My Dying Bride serviu para dar um tom diferente ao festival. E, ao mesmo tempo, lembrou-me de uma frase de uma música de um famoso músico/poeta brasileiro: “Tristeza não tem fim. Felicidade sim”.

Ensiferum

ensiferum
Ensiferum – Infernal Festival 2015. Official Inferno Music Festival – Photo: Rocio Garrido

Aos finlandeses ficou reservado o cantinho de madeira ao lado do grande palco do Rockefeller. Mas não importa se era menor ou não. A impressão é que eles atrairiam pessoas de todos os locais, independente de quanto espaço tivessem. Foi difícil ficar em pé ou parado durante esse show que aconteceu no pequeno palco do John Dee. Um tanto de fãs entusiastas, pintados com um traço preto em cada uma das bochechas estavam ali, prontos para ser o exército de Petri Lindroos ( ou seria Petri o lindo!!! hahaha), líder e vocalista da banda.

Folk Metal melódico não é o estilo com o qual estou mais familiarizada ou seria conhecedora para poder descrever detalhes de nomes de músicas e cds para vocês. O que posso contar, no entanto, é que nunca imaginei ver no Inferno Festival tantas pessoas pulando e dançando como numa festa folk. Não imaginei, como foi muito bem observado pela banda, ver uma sanfona no palco do Inferno! Sim, um acordeão, símbolo máximo do forrozão do mangabinha, Luiz Gonzaga na veia mano! Mas estava ali, um acordeão que soa muito bem em meio a várias músicas sérias sobre a invasão e o orgulho dos povos nórdicos em batalhas sem fim. No intervalo, ainda tivemos uma pausa cultural, em que a sanfoneira tocou um pouco da música típica Finlandesa – a polca finlandesa – feita com base nas melodias emitidas pelo acordeão.

Os membros do Ensiferum encerravam ali no inferno a turnê “One man army”, sem demonstrar qualquer abatimento. O público foi o tempo todo adequadamente estimulado pelas melodias fortes e marcantes, tocadas com muita competência pelos artistas que esbanjaram simpatia e controle de multidões, hahaha. Também eram muito simpáticos e não dispensaram uma piadinha com o fato inusitado de tocarem, por exemplo, uma música chamada “two of spades” que tem um momento “disco” – o vocalista então disse: ” bom, primeiro fiz vocês no Inferno escutarem uma sanfona. Agora, vou fazer isso aqui virar uma discoteca…” – faltou só ele dizer que “os true pira!”.

Esses foram 3 dos shows mais legais do Inferno Festival 2015, no meu ponto de vista – me diverti muito neles. Claro, ainda falta falar de coisas legais que vi como as bandas Patria, 1349, Enslaved… mas isso fica para um próximo post de música!

Leave a comment