O Resist to Exist é um festival de punk em todos os sentidos. Do line up à organização, os valores do do it yourself – faça você mesmo – norteiam o evento que acontece há dez anos em Berlim, e um dos maiores do gênero na Europa. Tudo é na base do voluntariado (nem as bandas recebem cachê para tocar), sem finalidades lucrativas, e os custos são pagos com um ingresso baratinho, baratinho: 27 euros para três dias de show. O resultado é uma estrutura simples, sem firula e que de modo geral respeita o público (apesar de alguns pesares), dentro de suas possibilidades. O veredito:

Transporte
O festival aconteceu neste ano em um terreno em Marzahn-Hellersdorf, no subúrbio de Berlim. O local foi alterado faltando apenas dois meses para o festival, devido a uma negativa das autoridades de Berlim de liberar o primeiro lugar inicialmente definido pela organização. Apesar da mudança repentina, o espaço era facilmente acessível usando-se o transporte público da capital alemã, que funciona muito bem. Com o mesmo bilhete semanal que me dava direito a viagens ilimitadas no metrô, trens, ônibus e trams da cidade eu também me locomovi até o local do festival por meio do S-Bahn, os trens metropolitanos. A estação ficava a uns 15 minutos a pé do local do festival, e a linha que me levava até lá tinha funcionamento noturno e conexões com linhas importantes do metrô de Berlim. Sem drama.

Informações
O site do Resist, nossa fonte inicial de informação sobre o festival, tem uma versão parcial em inglês – as informações mais práticas: localização, programação, ingressos. O que estava em alemão eu joguei nas mãos do Google, porque meus conhecimentos no idioma germânico, apesar dos estudos, vão ficar por muito tempo no nível Básico -1. A página do Facebook, muito ativa, principalmente nas informações de última hora, é toda em alemão. A tradução oferecida pelo Facebook, apesar de capenga, me ajudou a não ficar perdida.

No site há um e-mail de contato para os “non-german-speakers” e foi através dele que eu e a Gra iniciamos nosso contato com a organização do festival. Ao longo de uns dois meses (!) nos comunicamos com o Dennis, um dos membros do staff do Resist, que foi paciente e atencioso com nossas dúvidas. Fofo.

Em Marzahn, no caminho para a área do festival, havia plaquinhas indicando o caminho. Uma falha no quesito informação foi não oferecer de forma alguma a programação diária no local em que ele acontece. Nenhum cartaz, flyer ou similar estava disponível no local para que o público pudesse se orientar com relação aos shows, que eram muitos (uma média de 12 por dia).

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Hidratação e Comida
Mais uma vez repito que só o Roskilde é uma mãe o suficiente para te dar água de graça. Em todos os outros festivais, inclusive no de punk, o jeito é pagar. O curioso é que só estavam à venda garrafões de um 1,5 litro. Aí lá ficava eu arrastando aquele trombolho comigo debaixo do braço.

Uma falha do festival no quesito água foi não oferecer uma torneirinha sequer para o pessoal que optou por acampar no fim de semana do evento. Por mais de uma vez teve gente que passou por mim, viu o tal garrafão d’água, e pediu um tiquinho só para lavar a mão. Um estudante comentou comigo que deixou de acampar porque não ficaria três dias sem tomar banho. Justo. É questão de higiene, né, gente? E estava um calor senegalês em Berlim na semana do festival.

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No quesito comida e bebida, além de cerveja, cerveja e cerveja, lanches típicos de festival, como sanduíches e pequenas refeições à base de massa, servidas por cinco barracas, suficientes para atender a demanda do público, estimado em 2,5 mil pessoas. Não havia filas para nada. Das cinco barracas, três ofereciam parcial ou completamente em seus cardápios opções veganas. Um recorde, eu acho. Até tiramisu vegano para os punks tinha.

Conectividade
Não havia conexão wi-fi disponível, mas talvez seja esta uma das últimas preocupações de um festival organizado todo na base do voluntariado e sem pagamento para ninguém, não é mesmo? Mais que isso, não parecia ser também uma preocupação do público. Celulares em punho eram raridade, e houve quem achasse ruim o fato de eu tirar fotos do local, motivo até de certa hostilidade por alguns poucos – por isso poucas fotos do festival por aqui.

Limpeza e banheiros
Sujeira espalhada pelo chão não era um problema do festival. Já os banheiros… Imagine quatro (apenas quatro) banheiros químicos à disposição de 2,5 mil pessoas que bebem cerveja como se não houvesse amanhã ao longo de dois dias? Pois é. O mínimo de dignidade para o público no momento de suas necessidades básicas deveria ter sido levado em conta pela organização. A quantidade de banheiros deveria ter sido ao menos o triplo para tornar menos pior o uso destes elementos praticamente onipresentes em festivais.

Assistência Médica
Havia um pessoal com camisetas vermelhas e verdes identificados como “Sani Sec”, todos voluntários, alguns até já velhinhos, que prestavam atendimento médico. Uma garota passou mal perto de mim e a turminha do Sani veio rápido ao socorro dela. No backstage havia uma ambulância. Não sei qual o nível de formação desses voluntários, mas como o evento teve que passar por aprovação das autoridades de Berlim, é de se pensar que eles tinham uma qualificação mínima para prestar ao menos os primeiros socorros.

Compra de ingresso
Um site todo em alemão realizou a venda dos ingressos. Para os “non-german-speakers”, o processo de compra deveria ser feito pelo mesmo e-mail que serviu de comunicação entre a equipe do Festivalando e a do festival. De início, o que ficou acertado entre nós era que os ingressos ficariam reservados para nós e bastaria informarmos o nome na entrada para efetuar o pagamento. Este seria o procedimento padrão para quem está indo para o festival e não mora na Alemanha. Depois de um tempo, o Dennis, que nos atendeu o tempo todo via e-mail, chegou com a notícia de que liberava nossa entrada for free.

Segurança
Assim como todo o restante do staff do festival, a segurança do festival era feita também por voluntários identificados com camisas vermelhas. De modo geral, o único trabalho dos vermelhinhos foi contar a empolgação do pessoal que se pendurava nas grades em momentos mais quentes dos shows. Nada que não pudesse ocorrer em um festival de punk. Não vi sinais de excesso por parte desta equipe.

O Resist só pecou no quesito segurança no que deveria ter sido o último dia de festival. E o pecado foi pelo excesso e não pela carência de segurança. Uma indicação de tempestade no fim da tarde pela previsão do tempo fez com que a organização cancelasse toda a programação do último dia, mesmo com o tempo bom estampado no céu. E a chuva, veja só, acabou nem caindo no fim das contas. Conto isso em mais detalhes num futuro post.

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