O Popload Festival, em São Paulo, é o mais novo integrante da nossa lista festivaleira, e o primeiro a vir com uma “sinopse”. Explico: logo na entrada, como de costume nesses eventos, recebi um mini-guia com o mapa do local, a programação e um curioso parágrafo: “A ideia do festival é trazer atrações super aguardadas, em espaços reduzidos, privilegiando o conforto, a diversão e a proximidade entre artistas e público”. Ainda não tinha visto um festival usar todas as letras para falar diretamente com o público qual sua proposta. Por isso mesmo, enquanto ~festivaleira profissional~, passei os dois dias de olho nestes aspectos destacados para ter certeza que não se tratavam de promessas vazias. Concluí que não, ainda bem.

Optar por fazer o festival em espaço reduzido já facilita muito a tarefa de dar conforto. Menos espaço, menos gente, mais fácil evitar pepinos, acredito eu. No caso do Popload, seis mil pessoas distribuídas entre os dois dias, 2.500 na sexta (28) e o restante no sábado (29). O Audio Club, nova casa de shows de São Paulo, também ajuda. O espaço é algo na linha de multi-ambientes, e a organização trabalhou bem essa característica com quatro ambientes diferentes: além das duas áreas de shows, um deck/varanda que serviu de lounge e uma boa opção para descansar os ouvidos da barulheira, e o tal do Food Park (praça de alimentação, né, gente?).

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A propósito, muitos méritos para o parque da comida do Popload Festival. Bem sacado, foi todo montado com base na tendência da tendência da gastronomia descolada hoje. O cardápio ficou a cargo de alguns dos modernosos food trucks em atividade hoje em São Paulo, com opções inusitadas ou da moda: coxinha doce (de Nutella e de doce de leite) e paletas, picolés mexicanos feitos artesanalmente.

Mais que isso, o jeitão de praça de alimentação ficou mais claro com um monte de mesas e cadeiras, e já falei aqui como faz diferença pra mim poder saborear qualquer comida que seja confortavelmente sentada (fica a dica pro Lolla, que brilhou com a ideia do Chef Stage, mas obrigou todo mundo a comer sentado no chão ou em escadas improvisadas. Interlagos tem espaço suficiente pra montar uma estrutura melhor, tá?). Melhor ainda, era possível ir para o Food Park e continuar ouvindo o show do palco principal graças a caixas de som instaladas nessa área.

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Mimos muito sutis também colaboraram com a tarefa de oferecer conforto para quem resolveu apostar nesse festival novato (esta foi a segunda edição): o Audio Club ofereceu internet wi-fi gratuita e com boa velocidade, a organização fechou parceria com um aplicativo de táxis que dava R$ 20 de desconto na corrida e o patrocinador (uma marca de cerveja) distribuiu na saída garrafinhas de água mineral, item precioso nesta São Paulo da seca, numa boa sacada para atenuar a inevitável ressaca do dia seguinte.

O que falta agora é conquistar de vez o público. Apesar de estar visivelmente mais cheio no sábado, o festival não lotou em nenhum dos dois dias. Seria a programação? Acho que não. Seria o preço alto? Talvez. O passaporte de pista para os dois dias custava R$ 700 (inteira). Lá na porta, um cambista reclamava que o evento não estava tendo muita procura. Suponho que ele estava certo, pois comprei meu ingresso de última hora em revendas na internet e paguei R$ 450 no passaporte de dois dias para o camarote, e o valor original do ingresso, uma inteira, era R$ 1.100 (!!!).

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Quando disse aqui na semana passada que iria para São Paulo a fim de entender qual era o borogodó do Popload, não imaginava que o conforto seria a resposta – uma resposta inimaginável e surpreendentemente boa. Claro que conforto não é quesito decisivo para fazer de um festival um bom festival (o que é diferente de boa estrutura, esta sim obrigatória, no que diz respeito a condições respeitáveis de acesso, organização e alimentação). Há festivais, principalmente os gigantes, que foram feitos para você se acabar, se esgotar e, de quebra, lavar a alma, como é o caso do Roskilde ou do Wacken. Mas o Popload prefere seguir por outro caminho. Pra sorte do público, executa bem sua escolha. Continue assim, menino Popload.

PS: Os shows – todos lindos – vão virar assunto de outro post 😉

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