Já te contamos aqui como é ser voluntárix em festival (e aqui também) quando a Gra teve a oportunidade de trabalhar no Roskilde Festival, na Dinamarca. Hoje a sessão Leit@r Festivaleir@ traz um relato de experiência semelhante para somar. É do leitor Renato Zanon, que teve a oportunidade de trabalhar no Life Festival, que acontece na Irlanda.
Renato Zanon é fundador da Ampi Produtora, start-up que desenvolve estratégias digitais para artistas e bandas e também produz eventos culturais e de entretenimento. Estudou Show Business na On Stage Lab e formou-se em Administração pela ESPM-SP. Fissurado por festivais de música, festas, bateria e música em geral. Atualmente mora em Dublin, onde estuda inglês e explora o universo dos festivais.
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Life Festival e a experiência de trabalho voluntário em um festival na Irlanda – Por Renato Zanon
Praticamente todos os festivais de música da Irlanda (e muitos outros na Europa) são abertos para inscrições de voluntários e staffs. Isso é genial para os dois lados. Do ponto de vista do festival, além de aumentar a sua comunidade, o evento também supre pequenas – mas importantes – demandas dos mais variados tipos de serviços com um custo de mão de obra baixo. Do ponto de vista das pessoas que se inscrevem, essas podem ganhar os seus ingressos, além de camping, refeições, acessos e, claro, aprendizado.
No meu caso, o foco foi me envolver ao máximo com o intuito de ter a melhor experiência possível para absorver cada detalhe da produção. Foi por isso que nas entrevistas com as Staff Managers eu me inscrevi como voluntário e produtor. Em função disso, eu trabalhei em média nove horas por dia, durante quatro dias, em diferentes posições.
Volunteer x Staff
É interessante frisar a diferença entre o Volunteer e o Staff. O Volunteer costuma ser uma pessoa que gostaria de trabalhar algumas horas por dia em troca do ingresso, em funções “mais simples”. Já o Staff é uma pessoa que está iniciando a sua carreira no showbiz e tem algum histórico de produção. Por isso as funções e as cargas horárias são diferentes e você ganha pelas horas trabalhadas.
Por conta disso, eu tive a oportunidade de conversar com dois tipos de pessoas: 1) gente que todo verão se inscreve para ser voluntário em festivais de musica por não ter dinheiro para pagar pelo ingresso. Por isso, resolve trabalhar algumas horas por dia no evento; 2) produtores artísticos, produtores de palco e cenógrafos que trabalham com pequenas gigs, pubs e eventos e que vão trabalhar nesses festivais para aumentar o seu conhecimento e know-how. As duas comunidades são grandes. Geralmente as faculdades de música, eventos e produção fazem parcerias com esses festivais para os seus alunos trabalharem lá.
Quer trabalhar em um festival de música? Então veja nossa lista de trabalho voluntário em festivais na Europa e trabalho voluntário em festivais nos Estados Unidos e Canadá 😉
O festival
O Life Festival é um festival de música eletrônica que aconteceu no final de semana de 26, 27 e 28 de maio na região de Mullingar, Irlanda. Ele é realizado no Belvedere House Gardens, um imenso quintal de um castelo com grama verde, florestas encantadoras de cena de filme e lagos, localizado no centro da Irlanda, a uma hora de distância da capital Dublin.
O evento recebeu cerca de nove mil pessoas que acamparam por três dias e puderam curtir seis palcos com diferentes vertentes da música eletrônica como techno, house, disco, dub, psy, garage, trap, entre outros timbres mais pop com vocais.
Palcos
O que mais me chama atenção nos palcos daqui são as imensas tendas de circo que dão uma atmosfera única em cada ambiente. Algumas podem receber até três mil pessoas dentro delas! O isolamento acústico dessas tendas é fantástico e elas também apresentam uma boa resistência contra ventos e chuvas.
Apenas um palco se diferenciava dos demais (na minha opinião). Ele era localizado dentro de uma pequena floresta e se chamava Croncret Jungle. O motivo não é apenas porque recebia um paredão de Sound System Function 1 e tocava raridades do dub, dubsteppa e dancehall. Foi porque o projeto de cenografia foi criado em conjunto por vários artistas plásticos da região. Isso deu uma cara bem inimista para o local. O nome do palco que trabalhei era Toast. Mais tarde fui descobrir que é o selo de uma festa de disco, soul e house music em Dublin.
Além dos palcos, o festival contava com alguns brinquedos vintage de parque de diversões, food trucks, lojinhas hipsters. Tinha também algumas construções alternativas com pallets em forma de concha. Elas possibilitavam às pessoas entrarem e ficarem lá para descansar, comer e, claro, se conhecerem.
Um dos melhores momentos que vivi foi em uma dessas conchas que ficavam de frente para o lago. Eu estava sozinho e algumas pessoas começaram a entrar. Depois de um longo tempo conversando, fomos curtir um pouco do festival juntos. Achei uma boa ideia esse tipo de intervenção para as pessoas relaxarem e acabarem se conhecendo.
Banheiros
Os banheiros, que costumam sempre serem alvo de críticas, estavam exemplares no Life Festival. Além de serem espalhados pelo festival, no banheiro masculino foram construídos longos mictórios, além de estações individuais e banheiros químicos. No banheiro feminino, todos os banheiros químicos possuíam álcool gel, espelho, papel e limpeza a todo momento. Mesmo com chuva, não reparei nenhum problema.
Bebidas
Mas, como nem tudo é perfeito, o que acontece em alguns pubs pelo país se refletiu no festival. Eu não sei o motivo disso, e também não sei o impacto, mas eles não trabalham com fichas, comandas, pulseiras com chip ou qualquer forma de caixa onde você pode comprar antes o que vai consumir. O resultado é o mesmo. Filas demoradas para comprar bebidas porque o/a atendente do bar precisa servir e entregar a bebida e, além disso, dar o troco ou passar cartão. Talvez seja para controlar esse povo que bebe cerveja igual água.
Todos os bares encerravam as suas atividades à 0h e abriam no dia seguinte, às 16h. Após esse horário, normalmente as pessoas iam para o camping e buscavam suas próprias bebidas para consumirem no festival no período da madrugada.
Segurança
No quesito segurança é possível notar diversas peculiaridades. Por causa dos atentados terroristas que ocorreram recentemente em Londres e Manchester, uma estação da Polícia (Garda) foi montada no local para dar suporte nas revistas e também para vigiar todo canto do festival. Além disso, pude notar a preparação dos bombeiros e seguranças andando pelo evento altamente equipados e sinalizados.
Ao mesmo tempo, que eles fazem isso com perfeição, há um fato curioso. O serviço de segurança em festivais também é oferecido para jovens e adolescentes como trabalho de verão. Para ter ideia, o único segurança que estava trabalhando no mesmo palco que eu era um menino de 17 anos que estava em seu primeiro festival da vida! Ele estava trabalhando há umas 15 horas sem se alimentar e se hidratar. Os seguranças bem equipados ditos lá em cima ficavam nas áreas mais movimentadas, por exemplo, na entrada principal e no main stage.
O trabalho voluntário – Highlights
Como eu disse, foram quatro dias de trabalho em diferentes posições.
Primeiro dia
No dia 25/05, quinta-feira, após me acomodar no staff camping, na parte da manhã, começamos um tour pelo espaço com a Staff Manager. Depois, fizemos uma refeição e começamos o primeiro trabalho, que foi espalhar grades pelo evento e, se preciso, posiciona-las em formato fila caracol. Após isso, tive que cobrir com espuma e fita todas as pontas de parafusos que saiam pelos postes de luz instalados.
Segundo dia
No dia 26/05, sexta-feira, o meu horário no palco Toast só começava às 20h. Por isso, fiquei no camping conhecendo meus vizinhos de barraca. Era uma turma de 35 pessoas viajando juntas para cozinhar em uma empresa de foodtruck. Eles iam passar por 17 festivais em 3 meses!
Finalmente, após conhece-los, fui para o palco Toast para ser o assistente do Stage Manager. O Steve era proprietário da festa Toast em Dublin e recebeu os staffs muito bem. Eu pude ajudá-lo a fazer as trocas de DJs, enrolar e armazenar cabos, manter a segurança do espaço, fazer reparos na cenografia e dar toda assistência para os artistas. Esse turno acabou às 4h30 da manhã.
Terceiro dia
O dia 27/05, sábado, foi o dia em que eu tive a noite livre e deu para curtir. Eu continuei trabalhando no palco Toast ajudando o Steve, mas dessa vez eu comecei ao meio-dia e terminei às 19h.
Quarto dia
No dia 28/05, domingo, eu trabalhei por quatro horas no Car Parking, uma região do estacionamento com um fluxo de carros para pessoas que estavam chegando para curtir o último dia de festival, além de famílias ou táxis que iam buscar pessoas no festival. As outras quatro horas, que já eram no fim do festival, eu trabalhei no acesso ao Main Camping. As funções eram apenas checar as pulseiras e parar o fluxo de pessoas para os carros passassem, já que tinha que atravessar uma rua.
Após essa última função, voltei ao camping e fiquei algumas horas pensando se iria voltar naquele momento ou no outro dia de manhã. Nessa hora, acabei conhecendo alguns brasileiros que me salvaram e fui embora naquele exato momento. Estava muito cansado.
Então…
Se você se interessa em trabalhar nesse mercado, não importa a região que você esteja morando ou apenas passeando, podemos sempre aprender com novas experiências! Não apenas aprender, mas também perceber o quão belo são os eventos brasileiros com suas qualidades únicas! Na mistura das diferentes experiências é que mora a criatividade e a inovação.
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