A princípio, ir com amigo para festival parece ser uma opção maravilhosa, onde tudo se encaixa perfeitamente: pessoas agradáveis, com quem você convive há tempos e pode contar sempre. Diversão garantida, algo para não botar defeito, é o que você pensa. Eu te digo que não é bem por aí, mesmo! Amigos, conhecidos, melhores amigos: tudo isso pode ser muito complicado quando não existem algumas coisas:
1. Independência: essa é a melhor saída sempre, e está para além do julgamento do bem e do mal, da falta de noção do seu amigo/amiga. Sem garantia desta condição, as coisas ficam muito complicadas, uma vez que hoje em dia as pessoas estão cada vez mais individualistas ( por mais amigas que elas digam que sejam). É raro ver gente que sacrifica algo pelo outro, mesmo que sejam coisas superficiais: um pouco do tempo; uma maquiagem perfeita; um cabelo bem arrumado. Portanto, quando não existe a condição em que tod@s possam ir e vir de qualquer lugar, para qualquer lugar durante os festivais e viagens, outras coisas começam a ser necessárias. Ninguém nasceu grudado e isso é maravilhoso, mas às vezes uma chave de apartamento ou uma carona podem ser motivos para grudar de novo as pessoas, o que é um saco às vezes.
2. Bom senso: quando seu amig@ não tem bom senso, não sabe escutar e ser um pouco mais aberto a negociações, as coisas ficam complexas e tensas em um festival. Às vezes você não curte um show, uma banda, mas como vcs não querem se perder ou precisam de estarem próximos um dos outros pelos próximos momentos, não custa ceder um pouquinho e assistir ao show, ou então marcar um ponto de encontro e comparecer . A mesma regra serve se seu amig@ quer ver um show, ou precisa estar no festival na hora x e vocês precisam sair de casa juntos para isso. Programe-se, ceda, ajude um pouco.
3. Compromisso: também é muito importante e diria até que é um ramo do bom senso. Aquela antiga frase de que o combinado não sai caro está certíssima. Combinou, cumpra!
Sem existir essas três coisas na relação de “amizade” de vocês, estar entre amig@s em festival pode dar um bocado de dor de cabeça e, nessa temporada do Festivalando eu tive dois exemplos vivos bem claros disso. Mas aí você me fala “poxa vida Gra, mas e as mil tecnologias do mundo moderno? Com elas esse lance de se perder de alguém parece ser algo impossível, não?”. Bom, primeira coisa: festivais não são o mundo moderno. Festivais são festivais, uma selva caótica em que algumas vezes você não pode contar com wi-fi, whatsapp e nem mesmo ligações telefônicas. É óbvio que não vai ter wi-fi estável o tempo inteiro, que as linhas de celular vão sofrer alguns problemas, que os celulares vão se descarregar e você não vai querer perder tempo carregando, e que os serviços da sua operadora podem não estar disponíveis em outro país. Portanto, não conte muito com as tecnologias para a resolução dos desencontros de festival. No Wacken, por exemplo, por conta do uso intenso as linhas estavam sempre ocupadas e as mensagens de sms demoravam a chegar aos destinatários.
Uma vez derrubada a hipótese do uso das tecnologias, o jeito é contar com pelo menos um dos três princípios: independência, bom senso ou compromisso. Esse é o mundo maravilhoso onde tudo funciona. Mas nada é perfeito, nem nossos amigos. A seguir, eu conto dois casos mais expressivos dessas “tretas” e desencontros que aconteceram comigo durante essa temporada de Festivalando:
“O cabeção de boi”: estrelando, Wacken Open Air
Festivais são cheios de pontos de referência maravilhosos para a gente combinar com nossos amigos possíveis locais para se encontrar, seja durante um show ou depois da longa jornada de um dia. Pode ser a tenda de um amigo, pode ser um totem, ou um cabeção de boi!
O Cabeção de boi é uma das muitas alegorias de caveira de boi espalhadas pelo Wacken, o maior festival de heavy metal do mundo, que acontece em Wacken, Alemanha. Essa em específico enfeitava a entrada da área vip e imprensa, do lado esquerdo dos palcos principais do festival. Era um lugar óbvio, evidente, inquestionável. Seria ali o nosso ponto de encontro uma vez que já estávamos por dentro das limitações telefônicas do lugar. Combinamos que, caso o grupo se separesse, no intervalo dos shows dos palcos principais nos encontraríamos no cabeção.
Parecia tudo certo, mas tinha que ser o Wacken, meu divo e muso, palco para uma das maiores tretas festivaleiras da temporada acontecer!Fui ao festival com dois amigos e, ao chegar , encontramos com um casal de amigos e uma adolescente que passaram a integrar o grupo. Era nosso primeiro dia juntos nesse festival lindo, debaixo do sol impiedoso e da poeira avassaladora. Um dos meus amigos estava super animado com a possibilidade de aumentar o grau etílico no seu sangue. Ainda mais que o outro apresentou um cantil cheio de uísque ao grupo. Esse amigo, o qual vou chamar de amigo Z, anunciou que queria ficar bêbado, queria extravasar naquele dia. Justo, pois festival também é espaço para isso. Z então foi bebendo e bebendo até ficar bem alegrinho e, de repente, dizer que ia ao banheiro e nunca mais voltar…
Estávamos no meio de um dos shows quando Z saiu. Terminado o show, achamos bem estranho de ele ainda não ter voltado. Especulamos diversas coisa, desde Z estar enrolado ao beijos em alguma barraca com uma alemã, ou Z estar completamente louco e desvairado bebendo mais por aí, afinal, esse era o anúncio dele. Mesmo assim eu disse ao grupo: vamos encontrar Z no cabeção no intervalo deste show, provavelmente Z está lá. Mas, o grupo me ignorou totalmente, afirmando: Z não está lá! Ele não se perdeu, ele deu o perdido, está louco por aí! Além disso, o cabeção está longe e vamos perder nosso lugar bom entre o público para ver o próximo show. Para o desespero de Z, deixei para lá a insistência e não queria me tornar outra amiga perdida, afinal, o outro amigo que vou chamar de C estava com a chave do carro. Não queria me afastar do mesmo.
O dia passou, e nada de Z chegar. Os rumores de Z ter dado o perdido começaram a mudar para Z passando mal e inconsciente em algum lugar. E eu que já estava bem preocupada com essa possibilidade, falei que o único jeito seria partirmos em expedições nos intervalos dos shows para procurar Z. Não fomos bem sucedidos e, ao final de tudo, eu e C demos a volta no festival inteiro, até dar bolha nos pés e nada de encotnrar Z. Sem sucesso, voltamos ao carro para desncansar e pensar no que fazer. No caminho encontramos Z que ligou o botão do xingamento e da indignação e esqueceu de desligar! ” o combinado era o cabeção de boi, kct!”
É. esse era o combinado. Z passou frio, fome e ficou sem medicação para dor de cabeça, o dia inteiro. Eu só sabia falar: também falei do cabeção mas ninguém me deu ouvidos… deveria eu ter ido ao cabeção sozinha e me perdido também atrás de Z? C sugeriu que sim! Haha! Bom, já passou… lição para os próximos, certamente.
“European (meeting?) point” : estrelando, Sziget
Eu e a Pri partimos para mais um dia odioso de Sziget, um festival de música pop que acontece em Budapeste, Hungria. A Paula estava terminando algumas coisas no apartamento dela em Budapeste. Não tínhamos a independência de chaves e dependíamos da Paula para voltar ao apartamento e ter uma noite feliz de sono. Então, antes de sair combinamos com a Paula que a encontraríamos no European Meeting Point – um espaço central desenhado no Sziget com o propósito de ser ponto de encontro, como o nome já diz. Contudo, um ponto de encontro bem fajuto, sem um mísero wi-fi ou qualquer outro tipo de suporte perto ( quando o próprio festival se propõe a fazer um ponto de encontro comum a todos, deveria pensar com colocar água, comida e wi-fi pelo menos por perto!).
Quando surgiu esse assunto de ponto de encontro, tive arrepios ao lembrar da experiência do Wacken. E meu mal pressentimento não estava errado, o european meeting point estava tão fadado ao fracasso quanto o cabeção de boi. A Paula não chegou no horário marcado – por motivos diversos que a gnt entendeu, q fique claro =) , inclusive, motivos que dizem respeito a toda a confusão que o Sziget causa no trânsito e na cidade de Budapeste). Ela também não chegou depois, afinal, supunha que nós não estaríamos esperando mais por ela. Perdemos metade de um show e algumas músicas de outro, esperando mais um pouco em caso de ter sido só um atraso. Mas não rolou. Vimos que ficaríamos ali uma eternidade e nada veríamos daquele dia de apresentações. Eu e a Pri decidimos arriscar e sair.
Mais tarde, no desespero por uma boa noite de sono, percorremos o festival todo atrás da Paula. Por sorte, encontramos um grupo de amigos em comum que nos indicou onde ela poderia estar. Felizmente, a reencontramos no Luminarium, uma instalação arquitetônica/artística avulsa e duvidosa do festival. Ela estava saindo do lugar e tudo se resolveu! Ufa!
Moral das historinhas: pontos de encontro podem não funcionar em festival, definitivame! Use e abuse e planeje a independência do grupo de amigos durante um festival. Essa é uma super dica para preservar seus estoques de paciência e amizade. Caso não seja possível garantir a independência de todos ( e às vezes não é possível mesmo, tipo o obstáculo financeiro de depender de carona, por exemplo), converse seriamente com seus amigos antes do festival e entre em um acordo para o uso do bom senso e do compromisso. Não custa nada todo mundo cooperar para que todos tenham uma boa experiência de festival.
E você? Tem uma “treta” parecida para contar? Comente!!!!
2 Comments
Helder Silva
Eu entendo tudo isso que você escreveu aqui, por isso a independência é o que eu mais dou valor nessas horas, mas em deixar de dar apoio na hora em que um amigo precise. Apesar de ter meus momentos sozinhos, não deixei de acompanhar uma amiga até o posto médico na edição de 2014 do Wacken na hora que ela precisou, e por sorte foi durante o show do Skid Row, hahahaha.
Só uma observação: curioso é que ano passado também estava em Budapeste na época do Sziget, mas foi totalmente ao acaso a escolha, já que nem tinha vontade de ir.
Gracielle Fonseca
Verdade, Helder! É importante sim acompanhar os amigos quando precisam. Mas tem hora que é dose, né?! Uma coisa é quando acontecem emergências, outra coisa é quando nossos amigos são sem noção,kkkkk. Pois é, Sziget foi tipo o erro na minha vida. Eu não tinha vontade. Foi pelo desafio do Festivalando mesmo que eu fui. =)